Não fui ver, mas a definição de estágio deve ser qualquer coisa como “etapa da formação onde um jovem profissional é preparado e testado com vista à sua integração posterior no quadro de uma empresa”. Não poderia encontrar melhor definição para os jogadores que estão na equipa B. Se tirarmos “empresa” e colocarmos equipa principal do Sporting a definição está completamente exacta.

Faço este bonito preâmbulo para dizer que muitos dos “putos” que temos na B parecem não entender a coisa desta maneira. Já vi alguns jogos desta equipa no ano passado e voltei a fazê-lo no passado fim-de-semana. A sensação foi a mesma. Talento a rodos, motivação quanto baste. Os resultados também reflectem o mesmo. Se o jogo engata bem…tudo maravilha, se acontece a chatice tremenda de ir atrás do resultado, eichhh, que trabalheira, dificilmente (e então se for fora…) há um final feliz.

Não entendo e aposto que nem o Freitas Lobo consegue glorificar esta questão. Não há qualquer explicação positiva – estes “putos” estão literalmente a deixar passar oportunidades a cada jornada dessa interminável II Liga, competição onde o nível médio das equipas é muito, muito fraco mesmo. Seria suposto que, tal como qualquer estagiário, fizessem o máximo e o melhor que sabem para garantir as boas avaliações das equipas técnicas, o agrado e preferência dos sócios e em última análise, a visibilidade nos media. Seria suposto…mas não me parece que em muitos “putos” a atitude seja essa.

O passado do aproveitamento de valores da academia é um facto, é uma bandeira que todo o clube levanta bem alto, mas talvez a esta miudagem escape o essencial. O sucesso de Adrien ou Patrício (só 2 exemplos) não aconteceu porque fizeram toda a formação na Academia, não! O sucesso destes e outros apenas se deve ao seu forte empenho em mostrar que davam mais, sempre mais, em qualquer jogo, em qualquer oportunidade. Isso, mais do que estarem a jeito e não terem custos de transferência fez com que sejam agora titulares do Sporting. E vejo pouco dessa vontade e determinação.

Vejo sim belos penteados, camisas limpas aos 40 minutos de jogo, testas imaculadas de suor, tatuagens de sobra e chuteiras visíveis do espaço. O que também pode ser visível do espaço é pouca velocidade, intensidade a espaços (bastante mais na missão atacante, quase inexistente na defensiva, só alguns fazem pressão sobre o portador e só em zonas mais próximas da nossa área) e muito desmazelo na troca de bola a meio-campo (sinal de fraco empenho em dar linhas de passe bem definidas) e não vos maço mais com a minha apreciação técnica de treinador de bancada. Imagino que muitas das “broncas” que queimaram o ambiente no balneário e a imagem de Abel passaram pela determinação deste treinador em tentar remar contra esta maré, não o fez da melhor forma provavelmente, destruindo mais do que construindo pontes de dialogo…o que num treinador de “putos” é tentador, mas pouco eficiente.

Cada jogador, se não sabe devia saber, tem no máximo 2 ou 3 épocas na equipa B. Se durante este tempo não der uma única vez aquela sensação que Esgaio está a dar de estar a “pedir” tempo na equipa principal…então é empréstimo e no final deste, ou venda ou dispensa. Se não sabem deviam saber que quando o seu ciclo dentro da B terminar valerão metade da promessa, no final do ciclo de leão ao peito e empréstimo valerão pouco mais que zero. A diferença entre a titularidade no Sporting e a assinatura por um qualquer Belenenses ou Estoril (clubes que contratam muito mais o selo prestigiante da academia do que propriamente a qualidade específica do jogador) não será só o ordenado, mas também os anos de afirmação desperdiçados.

Parece-me decisivo o Sporting atacar este problema de frente, até porque muitos dos “putos” em desperdício permanente que falo são também dos mais talentosos e fará de todo sentido envolver um forte trabalho psicológico no “abrir de olhos” a esta malta. Esqueçam os psicólogos ou peritos em motivação (ou coaching como se diz agora), esses levam logo com o “carimbo” de “lá tenho de ir falar com aquele gajo e levar uma seca do caraças”…não…este trabalho tem de ser feito, dê por onde der, pelos jogadores mais velhos e pelo treinador da equipa A. Talvez algum levando uns calduços do Adrien ou do Marco Silva (um ex-jogador) metam de vez na cabeça que neste preciso momento eles são absolutamente nada, apenas mais uns estagiários.

Não referi nenhum nome, é desnecessário e como dizia o Octávio “vocês sabem do que é que eu estou a falar”…mas tenho a obrigação moral de dar um exemplo insuspeito em sentido contrário: Ryan Gauld. O escocês, mais do que impressionar pelas fintas, impressiona pela disponibilidade e ritmo…claramente com uma atitude muitos furos acima de alguns dos seus colegas. O que lhe falta em centímetros e quilos está lá na mentalidade…e essa será decisiva no sucesso do futebol dos “big boys”. Ele sabe isso. Mas ainda há quem não saiba.

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca