Quatro jogos, terceiro empate, desta vez em casa frente a uma daquelas equipas com as quais não devíamos perder pontos. Assim como quem não quer a coisa, à quarta jornada vemos a nossa margem de erro reduzir-se de forma drástica e, face ao aumentar da distância para os rivais, os níveis de ansiedade, já de si inexplicavelmente altos, tendem a subir. Em simultâneo, a pouca paciência de alguns adeptos esgota-se e saem críticas em todas as direcções. Algumas são perfeitamente válidas, outras nem por isso (em meu entender, obviamente).

Por exemplo, discordo profundamente de quem diz que não jogámos nada. Eu vi um Sporting jogar bem durante a primeira parte, altura em que sofremos um golo estúpido (mais um), mas em que fomos capazes de reagir, chegar ao empate e ficar a dever a nós mesmos a cambalhota no marcador. Aquela arrancada impressionante do Nani, por exemplo, com remate de primeira de Slimani, merecia ter sido o segundo golo. Não foi, tal como na segunda parte não fomos capazes de marcar. A fantástica jogada de Carrillo que isola Esgaio na cara do redes, ou as duas perdidas de Slimani (eu eu a pensar “se fosse o Montero a falhar isto, o que se diria e escreveria…”), são apenas três exemplos de uma segunda parte em que fomos perdendo cabeça e compensando em coração, mas que chegou a ser um sufoco para o Belenenses, nomeadamente a partir do momento em que William e Adrien, em duplo pivot, subiram a pressão e obrigaram a equipa visitante a limitar-se a jogar em metade do seu meio-campo. Podiam ter marcado em contra-ataque? Pois podiam, mas era só o que faltava era virmos nós, Sportinguistas, fazer eco das patéticas palavras do Lito, que depois de se enfiar no seu cantinho a defender, vem dizer que está triste porque queria ganhar.

Resumidamente, acho que o Sporting justificava ter conquistado os três pontos. Tal como em Coimbra, por exemplo. Mas, uma vez mais, o desperdício foi castigado com a perda de dois pontos e aqui entra a figura de Marco Silva: é ele quem tem que perceber o que é necessário para transformarmos incontáveis jogadas de ataque e quase uma dezena de oportunidades de golo… em golos e vitórias. Há já quem recorde o que era o Sporting de Leonardo Jardim, com aquele fantástico arranque de campeonato. Já não vou falar da forma como os adversários encaravam o Sporting da altura (em vez de um Leão, viam-nos como um gatinho, que tinha ficado em sétimo e não tinha feito grandes contratações), o que fazia com que achassem que podiam discutir os três pontos sem grandes amarras defensivas, mas se se quiserem dar-se ao trabalho, comparem as oportunidades de golo criadas contra equipas subidas no terreno e as que temos conquistado contra autocarros. Se quiserem dar-se ao trabalho, também, vejam a forma como o nosso futebol se foi tornando previsível e as vitórias sofridas, a partir do momento em que os adversários se resguardaram mais. Esse futebol é bem menos previsível hoje em dia, mas a verdade é que isso não está a chegar.

E como isso não está a chegar, é esta a altura em que Marco Silva tem que romper, definitivamente, com o passado (pensei que esta pausa para as selecções serviria para isso). Por muitas e boas nuances tácticas que tenha implementado (o jogo interior é imensamente mais rico, por exemplo), Marco Silva tem que romper o desenho táctico de Jardim (caraças, Marco, até acabaste o ano a ganhar em Alvalade, manietando o 4-3-3 do Leonardo). Marco Silva tem que assumir que este é o seu Sporting e que ninguém lhe leva a mal que lance as suas ideias (da minha parte, fica sabendo que prefiro quem erre a tentar implementar boas ideias, do que quem seja demasiado conservador). E, já agora, que lance alguns dos reforços, que isto do tempo de adaptação é muito bonito, mas se a ideia é sermos candidatos ao título quem chegou não pode vir com uma nota de encomenda onde se lê: só usar a partir de janeiro.

Para fazê-lo, como se viu ontem, não faltam opções. Temos a mais directa, jogando com William e Adrien lado a lado (as vezes que eu me tenho lembrado da dupla Vidigal e Duscher), colocando Nani, solto, entre eles e o avançado, e entregando as alas a Carrillo e a Mané (ou a Capel, ou a Heldon, ou a Dramé, ou a Sacko ou, se quiseres ser mais afoito, a Podence). Depois temos a que se pede há muito: jogar com dois homens na frente, com Montero mais recuado. E se se quiser, ainda podemos lançar Ryan Gauld, que vai dando mostras que a idade é coisa que nem sempre serve de justificação para o que quer que seja. Ou, querendo ser menos radical, existe um jogador chamado João Mário à espera da sua oportunidade e existe um Tanaka que até pode ser usado como falso extremo, pronto a vir para o meio e encher o pé como bem sabe fazer. Porra, Marco, não faltam opções!
Ah, já agora, olha também lá para trás. O Maurício pode ser um lutador, pode ser um líder de balneário, mas é tudo menos capaz de segurar uma defesa. É daqueles jogadores importantes num plantel, mas não é indiscutível. E está num momento de forma medonho e duvido que Paulo Oliveira ou Tobias não façam melhor (onde estava o gajo no lance do golo e porque raio coloca o gajo em jogo o Deyverson, no lance em que o brasileiro se isola? Já agora, se alguém da estrutura para o futebol estiver a ler isto, tratem de ir buscar este avançado, sff. Já em janeiro, pois parece-me que é daqueles que não enganam e até pode dar para, por exemplo, colocar o Iuri Medeios a rodar na primeira liga).
Por último, temos que começar a marcar golos de bola parada! Porra, os cantos e os livres sucedem-se e nada! Conquistamos dezenas de lances daqueles que, cada vez mais, decidem jogos de futebol (fora os claríssimos, em cima da linha da área, que o Cosme não quis ver) e não conseguimos transformar um deles em golo! Alguém tem que meter um livre lá para dentro! E o Sarr, por exemplo, tem que começar a ser um terror na área adversária (olha, mais um argumento para apostares no Tobias Figueiredo)!

Quatro jogos, terceiro empate, desta vez em casa frente a uma daquelas equipas com as quais não devíamos perder pontos. Assim como quem não quer a coisa, à quarta jornada vemos a nossa margem de erro reduzir-se de forma drástica e, face ao aumentar da distância para os rivais, os níveis de ansiedade, já de si inexplicavelmente altos, tendem a subir. As boas notícias, é que temos matéria humana com qualidade suficiente para inverter o rumo. Do treinador aos jogadores.
Não me venham dizer que não é um luxo termos Rui Patrício (monumental, aquela estirada a bloquear o cruzamento rasteiro), William (ontem, durante dez minutos, voltou aquele William que abafa um meio-campo sozinho), Adrien, Carrillo (Marco, o que te passou pela cabeça para tirá-lo quando estava a dinamitar?), Nani (enorme jogo) e Montero, só para citar os que têm sido mais frequentemente titulares. Não me venham dizer que não temos opções e que não temos uma enorme margem para melhorar. Não me venham dizer que não acreditam que o treinador seja capaz de mexer tacticamente na equipa e que não vai fazer algo mais do que esperar que as bolas comecem a entrar (é inegável que, com uma pontinha de pontaria mais afinada, teríamos mais quatro pontos e, no mínimo, mais quatro golos marcados). E, menos ainda, não me digam que o título já se foi. A distância incomoda, claro que sim, principalmente se recordarmos aquela infeliz tirada da pole position, mas era o que me faltava, à quarta jornada, achar que não podemos lutar pela conquista do campeonato.