Por incrível que pareça, por incrível que pareça, não há nada, não há nada, que não nos aconteça. Oh sorte malvada, que vida desgraçada…
O raio da música de uma das séries que fizeram parte da minha infância, não me sai da cabeça desde que soou o apito final do jogo na Eslovénia. Passadas algumas horas, ainda não consigo entender como foi possível manda fora três pontos, meio milhão de euros, a liderança do grupo, um camião carregado de motivação e um golaço de Nani que calava à força os que ainda acham que ele veio para cá passear tiques de vedeta. Quer dizer, eu sei como é que aconteceu, mas de cada vez que recordo tão patético momento fico incrédulo.

Pela quinta vez esta época, voltamos ao mesmo filme: a equipa joga à bola (na primeira meia hora, por exemplo, o adversário não existiu), chega com facilidade perto da baliza, mas espanta-se quando está em frente ao guarda-redes. Assim, de repente, lembro-me daquela enorme arrancada do Carrillo, que, primeiro, não evita a saída do redes e, depois, atira à barra, e do inacreditável falhanço do Mané, que a três minutos do final e a meio metro da baliza, consegue cabecear à figura e não coloca um ponto final na partida. Ainda podíamos falar do ramate cruzado do Mané a fazer cócegas ao poste, do remate do Nani que o Handanovic parou, da bola do Slimani (o argelino fez um grande jogo, principalmente na segunda parte) ou da (novamente) quantidade de cantos e remates à entrada da área que não aproveitamos. Depois, também para não variar, comete um erro e vê a vitória fugir-lhe, desta vez com a agravante de transformar um momento muito importante em termos anímicos e mais uma desilusão e alguns quilos de pressão para cima da equipa.

E a verdade é que, muito mais cedo do que qualquer um de nós esperava (sim, já sei, haverá iluminados que vão dizer “eu avisei”), chegamos a um momento decisivo da época. Ganhar em Barcelos passou a ser obrigatório, antes de receber o fcPorto. Se eu acredito que vamos ganhar o próximo jogo? Acredito. Mas há vários pormenores a rever, para que esses três pontos, fundamentais, fiquem mais perto. E todos esses pormenores dependem do treinador (que, ontem, até esteve bem nas substituições – eu não sei se tirava Carrillo, mas adiante – até ter-se lembrado de meter o Montero para jogar dois minutos, num claro acto falhado de gestão de recursos humanos). Eu espero, sinceramente, que Marco Silva tenha percebido que a solução André Martins a ligar o meio-campo e o ataque, não funciona. Não tenho nada contra o médio, bem pelo contrário, mas aquele não é o seu lugar e viu-se a diferença com João Mário em campo. Não sei se joga João Mário, se joga Montero, se joga, se joga… Sei que o modelo Jardim está esgotado (já estava, nos últimos dez jogos da época passada), mas se no caso do madeirense podia dizer-se que não havia opções, no caso de Marco Silva ele tem mais é que deitar mão às opções! E, aí, consigo entender perfeitamente as críticas.

Das duas, uma: ou o treinador não confia nos reforços, ou está a ter medo de revolucionar a equipa e mexer em supostos estatutos. Se o treinador não confia nos reforços, é mau. Muito mau. E coloca em causa o trabalho de preparação desta época. Se está a ter medo de mostrar que quem manda no balneário é ele, é hora de deixar-se de “mariquices”. E esse deixar-se de mariquices implica, também, perceber que aquela dupla de centrais não funciona. Acredito que Marco Silva preferisse ter Dier e Rojo (onde é que está o pessoal que me dizia que o argentino estava a fazer uma bela época porque tinha o Maurício ao lado?) à frente de Patrício e não me esqueço que ficou sem eles em cima do arranque do campeonato. Mas também acredito que seja capaz de ver que Maurício está a comprometer a cada novo jogo e, pior, está a comprometer a evolução de Sarr, um puto cheio de potencial, mas que vivendo em constante sobressalto acaba, também ele, por cometer erros (a lógica seria o parceiro mais velho limpar alguma cagada que o francês fizesse, não o puto andar sempre de esfregona na mão). Paulo Oliveira é melhor que Maurício. Ponto. Fez uma pré-época aos tremeliques, mas acho que todos concordamos estar ali um bom central. Rabia está lesionado e Tobias Figueiredo, de quem gosto muito, corre o risco de ser lançado e queimado. Para complicar tudo isto, Cédric esteve lesionado, Jefferson tem estranhas intermitências (embora seja o nosso lateral que melhor sobe e centra) e William Carvalho tarda em incorporar o gémeo que jogava a época passada, ou seja, se quando ataca a equipa mostra processos apurados, quando defende temos um meio-campo coxo (é normal que Adrien dê o berro, quando chega a ter que desempenhar o seu papel e outros dois) e uma defesa sem capacidade para parar as vagas que os médios não conseguem estancar. Tens a palavra, Marco.

Esta espécie de presente envenenado que está a ser o arranque da época, torna-se mais pesado em face das expectativas criadas. Não vou embarcar em novelas a propósito da frase de Inácio sobre estarmos na pole position (atentem no contexto em que foi dito, por entre aperitivos, numa festa de Sportinguistas e para Sportinguistas, em declarações à SportingTV), mas achei curioso que, ainda ontem, Bruno de Carvalho tenha voltado a sublinhar que queremos ser campeões. Obviamente que queremos e, volto a dizê-lo, acredito que este treinador e estes jogadores lutarão por isso. Mas será fundamental que nós, adeptos, consigamos distinguir as premissas “vamos lutar pelo título” e “vamos ser campeões”, coisas bem diferentes. E dava jeito, também, que alguns de nós deixassem de comportar-se como minhocas, invadindo as redes sociais com frases dirigidas ao treinador, onde, com ar meio divertido, se escreve «não comes as rabanadas em Alvalade». Não entendo qual o prazer que se retira destes momentos e ao escrever estas coisas. Mas entendo que são a pedra de toque que coloca o Sporting a viver na Árvore dos Patafúrdios. Ai ai ai ai, ai ai ai aaaaaaaaaaaaaiiiiiiiiiiiiii…