Chegaste há quatro meses e é o terceiro post que te dedico. Não que queira convidar-te para jantar ou esteja desejando que engrosses a lista de gajos que não chegam ao Natal, bem pelo contrário. Escrevo-te porque gostava que o teu sucesso fosse o nosso sucesso. Que o nosso futebol continuasse a evoluir. E que cumprisses o contrato de quatro anos com várias conquistas pelo caminho. Resumidamente, continuo a acreditar que podes ser o gajo certo no lugar certo.

Mas, deixa-me perguntar-te: e tu, acreditas? Se, neste momento, acabas de soltar um «foda-se?!?» é muito bom sinal. Indignares-te com a minha pergunta, é sinal que, sim, acreditas em ti mesmo. Assim sendo, passo à pergunta seguinte: de que é que tens medo, Marco? O que é que te impede de mudar a equipa? De colocar reforços em campo, quando todos vemos que isso se impõe? Gostava, mesmo, de ouvir-te responder. Mas como isso dificilmente acontecerá, vou eu atirar a minha justificação.

É normal que a oportunidade de treinar o Sporting tenha mexido contigo. É a oportunidade de uma vida que, acredito, quererás agarrar com todas as forças. Mas fico com a ideia que não estás a fazê-lo. Eu até consigo perceber que não tenhas querido entrar no balneário a pés juntos. Respeitaste hierarquias e respeitaste o bom trabalho feito na época anterior, apostando num 11 muito semelhante ao de 2013-14. Foste traído em cima do arranque da época, primeiros com a saída de Dier, depois com a saída de Rojo e o caso disciplinar de Slimani. Acredito que isso te tenha trazido dores de cabeça, mas não foi isso que te impediu de tentar passar para a prática o desejo manifestado no dia em que foste apresentado: «Gostamos de uma equipa que saiba dominar, comandar em posse, à procura do golo, mas também equilibrada. Equipa ambiciosa, que em todos os jogos vai querer ganhar e não podemos fugir disso de maneira alguma».
A tua premissa tem falhado num único aspecto: falta-nos equilíbrio a defender, o que, sem margem para dúvidas, estará relacionado, primeiro, com facto de praticarmos um futebol bem mais ofensivo e, segundo, com as mexidas no centro da defesa. 

Mas a atacar também não está tudo bem e, aposto, tu já percebeste. Para lá da dificuldade em fazer golos (cinco em, mais coisa menos coisa, 90 remates à baliza), também falta qualquer coisa no meio-campo que crie ainda mais desequilíbrios no adversário e nos ajude a equilibrar o tal processo defensivo. Basicamente, não acredito que ainda não tenhas visto aquilo que quase todos nós já vimos. E é isso que me faz perguntar-te, o que é que te impede de mudar o onze titular? O que é que te impede de colocar no banco os que têm sido titulares, dando oportunidades aos que chegaram? Será que três meses de trabalho não chegam para conheceres os jogadores e saberes o que podes tirar de cada um deles? Será que não acreditas nos reforços? Será que não concordas com os reforços? Será que te é imposta a utilização de algum jogador? Já viste tanta pergunta que pode gerar-se vendo que, ao fim de cinco jogos, o teres emprestado a tua matriz táctica a um esqueleto que transitou do ano passado não está a ser suficiente para ganhar os jogos?

Marco, quando tu chegaste, com ar envergonhado, prometeste lutar por títulos, com uma frase de que gostei: «Aqui, a ambição só pode ser vencer. Querer ser campeão no Sporting é algo natural. Pela grandeza, historial, cultura e pela responsabilidade que é representar este clube». Não duvido que essa responsabilidade pese, mas lembra-te, antes, da outra frase: Querer ser campeão no Sporting é algo natural. Não tem que ser um fardo ou uma pressão extra, Marco. Não tem que tolher-te a capacidade de mudar. A capacidade de dizer que és tu o treinador e que és tu quem decide quem joga e quem não joga. Melhor do que eu, saberás que mais depressa ganharás um balneário sendo justo, do que limitando-te a respeitar hierarquias. E não será só o balneário que conquistarás. Conquistarás, também, os adeptos. Basta mostrares que essa genética vencedora também te corre no sangue. E que não te assusta implementares as tuas ideias, para atingires as vitórias que todos desejamos!