Regra geral, estou-me marimbando para teorias que considero parvas. Mesmo quando me irritam um bocado. Tento relativizar – afinal, estamos a falar de teorias parvas –, muitas vezes acabando por virar-lhes as costas com um sorriso irónico. Uma dessas teorias que, de quando em vez, alguém resolve atirar ao vento para ver se se espalha, é a de que eu (e a Tasca, por consequência) sirvo de caixa de ressonância da actual direcção do Sporting. Lá está, irrita-me. Mas, depois, penso nas caixas de comentários, penso nos “hoje escreves tu”, penso nisto e penso naquilo e vejo que o parvo sou eu, por preocupar-me por algo tão descabido. Aliás, um dos segredos do sucesso da Tasca é, precisamente, a liberdade de expressão.

Mas, actualmente, este tipo de acusações tem-me dado que pensar. E porquê?, perguntam vocês. Porque, e é o que sinto, parece-me que o que de bom se fez na época passada levou a que muitas pessoas acreditassem que o trabalho estava feito e, agora, era sempre a aviar. E fez com que muitas pessoas, maioria delas de forma involuntária, se esquecessem do vespeiro em que estamos metidos. Se preferirem, fez com que muitas pessoas se esquecessem que o Sporting continua a ser aquele clube que todos dizem que faz falta ao futebol português, mas que quase todos tentam f… lixar à primeira oportunidade (e à segunda e à terceira).

Vamos por partes, então. Tu já olhaste para o que se passa na comunicação social? Já reparaste que o Sporting não tem peso nessa mesma comunicação social? Três diários desportivos. Um, O Jogo, tornou-se no jornal oficial do fcPorto. Nos tempos do Carlos Freitas ainda iam sendo o mais bem informado sobre o que se passava em Alvalade (tal como aquele blogue dos pitosgas do mercado, que ainda não digeriram o facto da torneira ter secado), mas, neste momento, não há chamada de capa sobre o Sporting que não seja para envenenar, mesmo que deturpando a informação. Tudo o resto, é uma propaganda ao reino azul e branco, chegando-se ao caricato de, hoje, se destacar os 20 remates feitos contra o Boavista (mandem o Lo Patego subir à torre e contar os que o Sporting fez desde o início da época). Pouco importa o ridículo, importa é passar a mensagem que a máquina do dragão está em pleno.
Rumamos a sul e temos A Bola e o Record. E, aqui, os casos são tantos que isto seria o post mais longo da história da blogosfera. Vou, por isso, resumir-me a factos recentes. O Benfica faz uma exibição de merda e é beneficiado pela arbitragem, no Bessa, e o que é que nos dão a ler? Campeão de fato-macado; uma equipa que sabe sofrer; vitória arrancada a ferros, fruto de enorme luta. Entretanto, o Benfica está perto de ser enxovalhado, em casa, pelo Zenit. E o que é que nos dão a ler? As declarações de Jesus e Vieira, cuspindo elogios para os olhos dos adeptos. Que tinha sido incrível aquele apoio, coisa nunca vista! Propaganda no seu esplendor. Este fim-de-semana, em que a máquina lampião parece ter estado ao melhor nível (acabando em superioridade numérica nos juniores, na equipa B e na equipa principal), faz-se de conta que nada se passou. Afinal, o campeão, que devia ter ficado reduzido a dez quando perdia 0-1, fez uma fantástica cambalhota no marcador, o Jesus diz que foi à campeão, os adeptos são novamente perfeitos e o Julio Cesar é um gajo com pé tão quente que os encarnados já estão na liderança. 

Depois, temos aquele fantástico tema de debate: os clubes portugueses não apostam na formação. E, pasme-se, quando se resolve chamar a atenção para o trabalho que é feito nesse sentido… pois é, promovem-se manéis. Dão-se capas a jogadores medianos, mas bem agenciados; pede-se a chamada à selecção de gajos que nunca na vida lá terão lugar ou de outros que, ao fazerem dois bons jogos de azul já deviam ser o motor da renovação. Certa noite, Henrique Calisto teve a coragem de dizer que as selecções deviam agradecer ao Sporting o trabalho que tem feito. Toda a gente ouviu, só nós comentámos. Há meia dúzia de dias, o Sporting entrou na Champions com 1, 2, 3, 4, 5, 6… seis titulares formados na Academia! Depois, ainda entraram João Mário e Mané. E se olharmos para esta época, do lote de 17 jogadores mais utilizados por Marco Silva, oito são formados pelo Sporting e apresentam condições pala ser a base da renovação da selecção. Alguém sublinha isso?

Continuemos. Tu já olhaste para o que se passa nos chamados programas de debate futebolístico, que ocupam cada vez mais horas nos diversos canais televisivos? Eu confesso que não sou capaz de olhar. Primeiro, tenho pouco tempo. Segundo, quando resolvo dedicar cinco preciosos minutos a uma dessas peixeiradas, fico a morder-me todo por não ter oportunidade de, pelo menos uma vez, enxovalhar os participantes que defendem as cores rivais. Mas não é isto que interessa. Interessa, isso sim, que em sete ou oito programas do género, tens dois ou três paineleiros que se mostram capazes de defender o Sporting. Os outros, ao contrário do que seria de esperar, estão ali para mamar o deles ao final do mês (e é coisa para chegar aos cinco mil euros) e se tiverem que ser os primeiros a apontar o dedo ao Sporting, são. Gajos que deviam defender o clube dos ataques semanais, acabam a dar razão aos abutres adversários. É normal? Não, de todo. 

Avancemos para o terceiro foco comunicacional: as redes sociais, plataforma incontornável no que toca ao universo futebolístico e que facilmente chega aos visados. Chocou-me e estou a ser sincero, o número de Sportinguistas que andaram a enxovalhar o Marco Silva. Aliás, nem foi preciso a comunicação social fazê-lo. Pior, foi sentir que alguns dos que escreviam que o treinador não comia as rabanadas em Alvalade, pareciam fazê-lo com enorme prazer. A isto se juntam as ofensas (não críticas) a vários dos nossos jogadores, num cocktail que quase parece ter sido colocado no shaker pelo Manha. Obviamente que todos nós temos direito a opinar. E a criticar, de preferência de forma construtiva. Arrasar alguns dos nossos (gostem ou não gostem, são eles os nossos neste momento) como se fossem inimigos é inaceitável!
Enquanto uns vivem para a crítica fácil, outros vivem para os likes. Posts com perguntinhas de caca (quem que é achas que chuta melhor? gostaste do jogo? tens saudades deste jogador?), muita imagem, um vazio de ideias e de interesse. E se for preciso, porque isto importa é ter likes, ainda se linkam as notícias mais polémicas lançadas pelos sites da pasquinagem. Depois, quando devíamos tomar atenção a pormenores interessantes, não tomamos (ou não valorizamos, se assim preferirem). Por exemplo, os maiores profissionais da área dizem que o mais importante no facebook é a taxa de interação (número de likes, comentários e partilhas por fã da página). Sabias que o Sporting tem a segunda maior taxa de interacção do mundo entre páginas de desporto e/ou clubes, só sendo superado pelo Corinthians? Não sabias ou, se sabes, estás-te literalmente a cagar, porque a única coisa que interessa é comparar o número de likes com as páginas de fcp e slb. E ainda há aqueles momentos asquerosos como, por exemplo, publicar-se uma foto da ondaverde com o Sportinguista no Vietnam e logo alguém comentar «enviem para lá o Marco Silva que é uma merda!». Resta saber se é pura estupidez, o resultado de uma vida frustrante ou se se trata de mais um daqueles tarefeiros, alguns com as quotas em dias, que andam pela blogosfera e pela internet a tentar instalar o caos. 

Eu olho para este cenário e pergunto: o que é que falta para percebermos que temos de ser nós os primeiros a defender o Sporting? Que temos de ser nós a valorizar as plataformas de comunicação com as nossas cores (jornal, canal, redes sociais)? Que temos de ser nós a deixar a primeira palavra de incentivo, quando as coisas correm mal? Que, se gostamos de afirmar «o Sporting somos nós!», não podemos ser um dos maiores focos de instabilidade? Não, não estou a pedir-te para seres acrítico. Estou a pedir-te para parares um pouco. E perguntares a ti mesmo, se tens tratado bem aquele que cantas ser o teu grande amor?