Hoje dirijo-me aos nossos jogadores, a quem cabe a missão de honrar com valentia o nosso leão ao peito frente a uma das mais poderosas equipas do séc. XXI.

Sei que a maioria de vocês são sportinguistas, no verdadeiro sentido da palavra. Não sabem o que é decidir presidentes, nem ver de fora um resultado incerto, não sabem o que é gerir horários e fins-de-semana para vos acompanhar, mas não deixam de fazer parte da família leonina. Também sei que hoje terão de ser frios, não deixar que a emoção tome conta das vossas pernas, isso é o trabalho para quem está na bancada.

O que vos podemos dizer hoje é que foi vos dada a oportunidade de fazer história. Talvez não se tenham apercebido disto mas nenhum de nós escolheu ser Sporting devido aos consecutivos títulos, ou porque nos habituámos a uma estrutura sólida e a um clube com as finanças em ordem. No fim de contas, nascemos assim e assim morreremos, por muito que os adeptos rivais nos atirem à cara que poucas vezes festejamos. Um sportinguista está habituado a perder títulos, a ter desilusões com jogadores a quem o clube dá tudo, a ser mal falado na praça pública. Mas, de vez em quando, precisa de um bocadinho de chama para animar e ter o seu sentir verde bem mais acesso.

Habituámo-nos, isso sim, a ter brio e honra por essa Europa fora. Na nossa vida de leões, apenas tínhamos falhado estas competições por uma vez, depois da época maldita. No ano antes, uma meia-final que nos orgulhou e elevou o sentido de sportinguista. Todos nos lembramos, exaustivamente, daquele magnífico calcanhar de Xandão e da valentia com que despachámos o super City em Manchester. Já estava perdido antes do jogo começar, o Mancini pensou que erámos uns pobrezinhos sem futebol para ele. Subestimou-nos e teve mesmo de assistir aos nossos a saltar nas bancadas do seu estádio. Pereirinha, de braço partido, lesionado e dorido, foi a imagem do sofrimento e alegria que Rei Patrício nos deu naquele último minuto ao defender a cabeçada do inglês grandão. Antes disso, uma eliminatória épica na maravilhosa campanha europeia de2005. O Sporting de Peseiro recebia em casa o Newcastle e, numa reviravolta fantástica, pôs milhões roucos e loucos de alegria. 4-1, culminado naquele beijar do símbolo protagonizado por Beto, nosso capitão. E os 5-0 ao Manchester United? Quando a imagem mexia a preto e branco e numa prova de valentia mandámos o Charlton e os seus companheiros de volta para as suas terras sem nada para ninguém.

Desta vez não será assim. O Mourinho sabe quem somos, o futebol que jogamos. Já foi nosso rival e nosso amigo, já cobiçou jogadores nossos e treinou na mesma rua que nós. Ele não subestima ninguém e a sua equipa não joga o futebol inglês. Mas o Sporting é sinónimo de superação, de raça e de glória. O Sporting desmaiado no campeonato é o que dá gritos de raiva na Europa. Somos temíveis, temos belos jogadores e nunca mas nunca um jogador de verde e branco deixa de lutar. Hoje eles são onze e nós também, com ou menos dinheiro, já provámos que isso pouco importa em campo. Podemos perder, podemos empatar, mas nunca pensem que são inferiores a um clube que sonhava ter a nossa mística, ter os vossos adeptos.

Hoje quando entrarem em campo não são só vocês, são milhões que entram também lá dentro, esperançosos com os corações aos pulos, ansiosos por gritar GOLOOO. Quantas vezes já batemos o impossível? Tantas mas tantas. Tantas reviravoltas e jogos de orgulho, tantas vezes pusemos o nosso nome no topo para depois o ver descer outra vez. Aconteça o que acontecer, todos seremos mais sportinguistas no final do jogo. O regresso da Champions a Alvalade, o vosso cansaço e aquele estádio, o nosso estádio, completamente cheio de um barulho ensurdecedor que só Alvalade pode oferecer. Façam da nossa voz a vossa força, pensem no que seria para a vossa época esta vitória. Muitas vezes disseram a palavra impossível. Não existem impossíveis no nosso clube nem nos nossos jogadores. Existem obstáculos que com a união de todos são superados. Afinal, um leão quer-se verde, nunca azul!
SPOOOOOOOOOOOOOOOOOOORTING!!!

 

*às terças, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa