Olho para o comunicado que anuncia a contratação de João de Deus e leio: «Esta alteração no comando técnico da equipa B insere-se na estratégia que tem vindo a ser implementada pelo Sporting para o futebol profissional e de formação». Respiro fundo. E repito, cerca de dez vezes, uma das mais fantásticas palavras para definir um estado de espírito incomodado. É que falar de estratégia no que toca à nossa equipa B, é um verdadeiro atentado. Permitam-me, aliás, dizer-vos, que, neste momento, é o pormenor que mais me preocupa no Sporting: a equipa B, aquele momento tão importante que medeia a passagem do juniores para os seniores. No fundo, uma espécie de estágio onde, depois de teres dado cartas ao longo de todo o teu percurso escolar e universitário, corres o risco de te cruzares com uma merda de orientador e entrares coxo no mercado de trabalho.

Por esta altura e até porque já me conhecem um pouco, sabem que nunca olhei para o Abel e para o Barão como apostas acertadas. Obviamente que isto vale o que vale, até porque as opiniões são como as pinocadas e quem pode dá-la… dá, mas não me venham dizer que o rapaz que fazia cruzamentos assim que passava da linha de meio-campo e o seu adjunto de bigode, entretanto promovido a chefe da orquestra, eram gajos para desempenhar este papel. A culpa é deles? Não acho. A culpa é, quanto a mim, de uma clara ausência de estratégia no que toca à equipa B.

No meu mundo perfeito, pintados a tons de verde e branco, imagino que existe uma pessoa capaz de pensar o nosso futebol de formação, desde os catraios à equipa B. Uma espécie de Sr. Boloni, louco por análises aos jogadores, pela perfeição do treino, pela metodologia. Um estudioso, com provas dadas, tendo como braço direito um Mirko Jozic, escolhido para treinar a equipa B. Um treinador com provas dadas no que toca à formação, um gajo com personalidade e qualidade. Ambos trabalhariam de forma estreita com o treinador principal, Marco Silva, neste caso, nomeadamente na implementação de dois ou três modelos de jogo que se tornassem matriz a partir dos júniores. Em campo, a equipa B seria, fundamentalmente, a conjugação dos melhores que saem da formação com dois ou três putos talentosos vindos de fora e, sempre que necessário, a equipa onde alguém da equipa principal ganharia ritmo se assim fosse necessário.

A verdade é que eu olho para a equipa B e não vejo nada disso. Desde logo, Virgílio será tudo menos um Sr. Boloni. Há-de ser inquestionavelmente Sportinguista, mas… não me lixem. Tê-lo como pensador de todo o nosso modelo da formação e como o homem forte da Academia é algo que, recorrentemente, me causa pesadelos. Depois, estamos longe de ter um Mirko Jozic, o que faz com que, neste momento, a nossa equipa B seja um emaranhado de disparates e de opções que não se percebem. Chegando-se ao ponto, grave, de meter o Fokobo quando estamos a perder 2-0, em casa, só para agradar a terceiros. E, depois, lá andamos nós a levar com Sambinhas e Cissés (um post sobre contratações fica para depois) e com um futebol que sabe a vinho carrascão e se prolonga na boca com a acidez de um desperdiçar de talento.

Resumidamente, eu olho para a equipa B e vejo um monte de equívocos. Vejo pouco cuidado, mesmo, quase ao nível do raio do leão papa speeds que tiveram a indecência de nos apresentar como imagem da SportingTV. E vejo-a como o próximo grande desafio desta direcção. Até porque, se acenamos com uma bandeira segundo a qual a nossa base de sustentabilidade será a formação, não podemos acreditar que o talento dos jogadores é suficiente para garantir o sucesso de um passo tão importante quando a passagem pelo último nível de crescimento. É a esta espécie de laboratório esquecido que chega um novo treinador. O terceiro, em três meses. É caso para dizer, valha-nos (João de) Deus!