Penafiel vs Sporting«Não vejo a transferência para o Sporting como um passo atrás. Foi um momento importante, estou feliz. O mais importante era continuar a jogar e a ter saúde».

As palavras de Nani que, como seria de esperar parecem ter passado ao lado de quem decide das capas dos diários desportivos deste país, são, quanto a mim, o espelho do que o 77 vem fazendo em campo. Recebido em euforia por uns e com desconfiança por outros, já para não falar dos que fazem da maledicência o seu desporto preferido, Nani demorou um jogo a integrar-se. Frente ao Arouca, à procura de perceber as movimentações da equipa e pese os lampejos de classe, foi traído pela ansiedade e pela vontade de tudo fazer. Dos cantos aos livres, passando pelo tão falado penalti, Nani queria era a bola, de forma a poder dizer aos Sportinguistas que ele tinha voltado de alma e coração e que estava ali para fazer a diferença.

Esse mesmo penalti ampliou as vozes de quem fazia figas para que o seu vaticínio desse certo: «o Nani está acabado e vem para cá armar-se em vedeta! Vai dar cabo do ambiente no balneário». Vem o jogo na Luz e o extremo deixa bem vincada a sua qualidade, voltando a repetir a dose na recepção ao Belenenses. A equipa jogava, criava, mas não ganhava, daí que Nani e os restantes fossem alvo fácil para quem, à semelhança dos tecnocratas que gerem as grandes empresas transformando as pessoas em números de uma folha excel, acredita que só se joga bem e só se mostrar trabalho quando se ganha. Mas a equipa, com um Nani totalmente integrado e empenhado, voltava a deixar escapar a vitória, desta feita em Maribor. Na memória, mais do que o golo que foi considerado o melhor da jornada, ficava a forma como aquele que é um dos melhores produtos de sempre da Academia, puxou da sua experiência e qualidade técnica acima da média e assumiu a liderança da equipa.

Depois disso, seguiram-se duas goleadas fora – 0-4 em Barcelos em em Penafiel – o empate com o fcp e a derrota com o Chelsea. Em todos os jogos, o mesmo Nani: completamente empenhado, sem medo de assumir as despesas da equipa, capaz de aparecer ao meio e nas alas, sem pruridos em recuar, pressionar, ajudar a defender. E, depois, toda a diferença que faz a sua capacidade técnica e a sua potência muscular, tanto nos confrontos directos como nos movimentos de envolvimento (entristece-me ver Sportinguistas que se desfazem em elogios aos Gaitáns e Braimis desta vida e, depois, dizem que o Nani é bom por cá mas a jogar assim não chega para voltar ao United. E já não falo dos que diziam que sim a um tal de Markovic…).

Infelizmente, continua a haver quem esteja à espera que Nani demore um segundo a mais do que o suposto a soltar a bola, para libertar o assobio. Talvez sejam os mesmos que o assobiavam há sete anos. Talvez sejam, apenas, assobiadores natos, incapazes de perceber que, em Alvalade, formado pelo Sporting, mora um jogador de nível mundial e, quanto a mim, o melhor executante da nossa Liga. Mais importante ainda, incapazes de perceber que Nani, a cada novo jogo, dá provas de estar comprometido com a equipa, não renega esforços para ser mais um a lutar pela vitória e não vira costas à responsabilidade de ser um dos líderes em campo. Naquele seu estilo em que, por vezes, parece transformar o relvado no alcatrão de uma rua dos subúrbios, Nani diz que está feliz. Comprová-lo quando o vemos em campo, devia ser motivo de ainda maior felicidade para qualquer Sportinguista.