É complicado escrever o que quer que seja, sem ter aquela imagem a pairar-me na mente. Sem sentir o estômago revirar-se na certeza de que o que aconteceu não foi um erro, antes um exemplo de como a máquina capitalista consegue tornar algo tão maravilhoso como o futebol num jogo de interesses onde os bastidores têm bafo a podre. Aquele penalti, foi marcado porque sim. De propósito. E ninguém me cala a ideia de que uma equipa de arbitragem russa, num jogo de uma equipa patrocinada por uma empresa russa que patrocina, também, a Liga dos Campeões é meio caminho andado para uma vergonha destas!

Uma vergonha que, diga-se, foi em crescendo ao longo de todo o jogo. Maurício nunca poderia ser expulso por uma falta como aquela. Ponto. E aproveito, desde já, para dizer que acho inacreditável o apedrejamento público ao brasileiro por ter sido expulso, tal como fiquei boquiaberto ao ver Sportinguistas aproveitarem para recuar três dias e para apontar-lhe o dedo pelo penalti no dragão (aquela merda não é penalti em lado algum). Ontem, Maurício até poderia vir a ser expulso noutro lance (se não fosse ele, o artista de serviço por certo encontraria outro), mas aquela falta banal, a meio-campo, só deu amarelo porque o árbitro quis. Tal como viria a querer o penalti. Aliás, basta atentar nas várias faltas feitas pelo Schalke, onde o amarelo ficou no bolso, incluindo o penalti, para se perceber ao que estes quatro copinhos de vodka iam.

Essa expulsão, foi a forma encontrada para contornar o que o Sporting ia fazendo em campo. Cada vez mais personalizada e mecanizada, a equipa de Marco Silva chegou e pegou no jogo desde o apito inicial. O golo, num lance de bola parado preparado em laboratório, foi prémio mais do que justo para um domínio que só foi colocado em causa por uma bomba de Draxler. No espaço de dois minutos, porém, tudo mudou. Primeiro a expulsão, depois, no seguimento do livre, Rui Patrício mostrou que é humano e ficou mal na fotografia. Ainda assim, já com Sarr no lugar de João Mário, a equipa soube organizar-se e conduzir o jogo para o intervalo.

Os primeiros quinze minutos do segundo tempo foram os mais complicados. Primeiro, um golo em fora de jogo; depois novo golo na sequência de um livre cruzado para a área, onde Sarr, que até entrou bem no jogo e bem esteve nele até final, se esqueceu que tem tamanho para limpar tudo o que sejam bolas metidas daquela forma e ficou a ver o adversário cabecear. «Acabou», terão pensado alguns. «Bora lá, caralho!», terão gritado outros. E o que a equipa ouviu foi, apenas, o grito. Carrillo, um jogador cada vez mais completo e capaz de colocar a magia ao serviço da equipa, deu o exemplo e foi para cima dos adversários. Correu, pressionou, roubou bolas, ajudou a defender e deixou a cabeça em água aos defesas. Ganhou um penalti, que Adrien converteu e que nos trouxe de volta para o jogo. Os dez jogavam como onze, com Cédric e Jonathan a não se coibirem de ir lá à frente, com Paulo Oliveira a liderar a defesa e a estabilizar Sarr, com William e Adrien a completarem-se na perfeição e a serem capazes de estar onde era preciso, com Nani a colocar em sentido os alemães de cada vez que tocava na bola, com Montero a segurar a bola com classe ao alcance de poucos. Carrillo pega na bola e volta a investir para cima dos defesas. Montero tenta o remate, a bola sobra para Cédric e o cruzamento sai perfeito para a entrada decidida de Adrien. 3-3, prémio mais do que justo numa altura em que, mesmo em superioridade numérica, o Gazprom team não apresentava argumentos nem ideias para ultrapassar os bravos Leões. Depois… depois foi o que todos nós sabemos.

O resultado, de tão mentiroso, magoa, mas isso não pode apagar uma enorme evidência: de jogo para jogo, esta equipa cresce. São quatro meses de trabalho que começam a dar frutos e que me deixam apaixonado por esta equipa técnica e por este plantel. Para lá do pormaior de jogarmos com uma base de jogadores formados na Academia, há atitude, há futebol, há conceitos tácticos, há união, há trabalho de casa bem feito na preparação dos jogos e dos adversários. Neste momento há, também, raiva. Mas se a raiva que sentimos face à injustiça vai demorar a desaparecer, então que saibamos canalizá-la de forma certeira. Que saibamos dizer, de forma clara, que se eles dão tudo em campo, nós damos tudo fora dele! No domingo, vamos encher Alvalade e ajudar a conquistar mais três pontos!