Quem esteve no multiusos de Odivelas, teve oportunidade de assistir a mais um enorme exemplo de dedicação por parte dos adeptos leoninos. Pavilhão à pinha, gente de todas as idades, a mesma paixão. No final, uma grande vitória, festejada a preceito. Também na sexta-feira, a Onda Verde voltou a dar vida a um desses estádios onde, regra geral, se escuta o bater de asas das moscas. Mas se este é um dos vários exemplos da comunhão perfeita entre a equipa e os adeptos, porque raio venho eu com um título que recupera aquilo que o Sá havia escrito, na sexta?

Porque, quando li esse belíssimo texto, fui imediatamente assaltado por um pensamento: então… e nós? A verdade é que é muito fácil exigir compromisso e exigência aos nossos atletas, mas, invariavelmente esquecemo-nos que, também nós, devemos colocar em prática essa máxima. Mais curioso ainda, é constatar que alguns dos mais críticos são dos que menos fazem pelo Sporting. Há, obviamente, casos em que se quer e não se pode, ampliados por uma maldita crise que ameaça arrastar-se mais algum tempo. Mas há, também, incontáveis casos em que não se dá um bocadinho mais… simplesmente porque não.

Não sei vai ao estádio porque está a chover. Porque está frio. Porque é à noite. Porque é a meio da tarde. Porque é ao sábado. Ou porque é ao domingo. Porque o bilhete é caro (entretanto, bebem-se quatro ou cinco minis no café). Porque vai estar uma confusão do caraças e o trânsito e os apertos no metro e o raio que parta.
Não se é sócio porque seis euros por mês não dá e isto está apertado (e pimba, saco do maço de tabaco e ao fim de dois maços tem a quota paga). Não se é sócio porque era o que faltava sustentar chulos e eles que arranjem publicidade e ganhem a champions que logo ficam com dinheiro.
Não se contribui para a Missão Pavilhão porque era o que faltava serem os adeptos a pagar o pavilhão! (algumas horas depois, a mesma pessoa dirá qualquer coisa como “precisamos mesmo de ter um pavilhão! Isto de andar com a casa às costas no andebol, no futsal, no basquet, no hóquei, não dá! Tira-nos força!).
Não se assina o jornal do Sporting porque não se tem pachorra para ler a versão digital. E era o que me faltava gastar quatro euros por mês (e pimba, deixa lá ir meter dez euros no euromilhões). Epá vou comprar o jornal para quê, se posso ler o Correio e o Record à borla, no café?
Pois… e esses cabrões dos jornais desportivos que estão contra nós? Heish! Tu já viste bem o que diz hoje na capa do…? Ora, porra, mas afinal eles estão contra nós e tu andas a comprá-los? Ahm?!? E dás-lhe uma média de 30 entradas por dia no site? Fazes bem, fazes bem. Assinas a SportTV porque o streaming é lento? Também fazes bem.

Poderia continuar, mas não me apetece (também tenho direito, certo?). Deixo-vos apenas uma pergunta: há quanto tempo não esgotamos a lotação do Estádio José Alvalade? Nem na época passada, numa altura em que o primeiro lugar estava a escassos pontos e a direcção colocou os bilhetes a salvo erro, cinco euros (ou sete) para sócios, em qualquer zona do estádio. Dá que pensar, não dá?
Tal como dá que pensar o facto de, se exigimos compromisso aos jogadores, porque raio abandonamos mais cedo o nosso lugar na bancada? Porque raio somos os primeiros a apelidar de flops os jogadores que contratamos, assim que eles erram o primeiro passe? Porque raio insultamos os nossos próprios jogadores nas redes sociais? Porque raio, amanhã, frente ao Maribor, não acendemos ainda mais o vulcão no jogo que pode (e vai!) garantir-nos a continuidade nas competições europeias?

Compromisso e exigência? Pois que está muito certo. Então… e nós?