Sem grandes alaridos, entre roscas, autogolos e bolas na cara que dão penalti, a primeira nota que resulta do jogo de ontem é incontornável: o Sporting cumpriu o primeiro objectivo desta época. A vitória sobre o Maribor garante a continuidade na Europa e, mesmo considerando que este era um objectivo mínimo, está fácil de adivinhar o que se diria e escreveria caso não fosse alcançado. Foi alcançado e alcançado com inegáveis méritos. Da aposta na prata da casa e em jogadores portugueses ao futebol apoiado e bem jogado, de cunho ofensivo, do qual a equipa se recusa a abdicar, são vários os motivos que devem fazer-nos sorrir e confiar em quem, diariamente, trabalha no resguardo da Academia (a propósito, uma palavra de incentivo aos juniores, que, num relvado inadmissível, fizeram um jogo de orgulho e levaram de vencida os eslovenos mais pequenos).

Frente ao Maribor, o Sporting entrou mandão e dominador, procurando circular a bola com rapidez suficiente e encontrar espaços entre as linhas defensivas do adversário. Mané pela direita, Jefferson a mais parecer um extremo pela esquerda, com Nani a derivar para o meio e a desbaratar a organização eslovena. Adrien e João Mário a pegarem nas pontas da rede. Slimani a ser trabalhador incansável e Paulo Oliveira a ser voz de comando da defesa. Receita para, ao fim de três ou quatro investidas de aviso, o Sporting chegar ao golo (mais uma assistência de Jefferson, mais um sorriso de Mané), que voltaria a tentar na dezena de minutos seguinte (até Cédric foi rematar à baliza). Alvalade voltaria a gritar golo já passava da meia hora. E que golo. Depois do inesquecível momento que resultou no terceiro golo, frente ao Schalke, foi a vez de Nani recordar-nos o porquê de gostarmos tanto desta brincadeira que se faz com uma bola nos pés: aquele golo, sentando mais de meia equipa, é qualquer um de nós, de sanjo calçados e joalheiras de napa, a ser o rei numa qualquer praceta de alcatrão. Do cacete!

Nani chuchava no dedo, dedicando o golo à filha, mas quem ficava a chuchar eram os “mariborenses”, incapazes de ligar uma jogada face à pressão e qualidade leonina. Descompressão, à entrada para os últimos minutos da primeira parte. E desconcentração, oferecendo o golo ao adversário. Marco Silva diria, no final, que temos que ser capazes de erradicar este tipo de falhas, pensamento que passou pela cabeça de todos os adeptos, incapazes de encontrar explicação para aquele apagão mental. E o curto circuito foi de tal ordem, que até a iluminação de Alvalade cedeu. Um intervalo em tamanho xxxl, onde os Sportinguistas não perderam a oportunidade de, uma vez mais, assinarem um pedacinho da história do clube. As imagens das bancadas iluminadas a telemóvel correrão o mundo, tal como a entrada nojenta de Stojanovic, claramente propositada às pernas de Nani. Recurso pequeno de um jogador ainda menor, ao qual o árbitro respondeu com um inacreditável cartão amarelo.

Seguiram-se mais duas ou três entradas duras por parte dos eslovenos, cartilha trazida para uma segunda-parte onde entrámos mal, apáticos, sem conseguir pegar no jogo (embora controlando-o na ocupação de espaços), mas onde conseguimos fazer o inverso do que de mal tínhamos feito ao facilitar no golo adversário: concentração máxima, recuperação de bola a meio-campo, cruzamento açucarado, aproveitamento perfeito de uma bola solta. Slimani, entretanto desaparecido do jogo, dava um ar da sua graça e acabava com o jogo. Uma cabeçada do argelino começaria a fazer de Handanovic uma das figuras da partida e até final foi mesmo o guarda-redes a evitar a goleada. Já com Carrillo e Montero em campo, o Sporting partia para 25 minutos finais de elevada nota artística (peço desculpa aos restantes, mas quando estes dois e Nani se juntam e começam a trocar a bola, há qualquer coisa de mágico), onde as oportunidades de golo se sucediam. João Mário, Carrillo, Montero, Nani. Depois, William, com pilhas novas a partir dos 80′, galgando mais de meio-campo e tentando a sua sorte, em jeito.

Não houve mais golos, mas houve muito Sporting. Tanto, que faz os adeptos dividirem-se entre a crença de poder ganhar a Liga Europa e o desejo de arrecadar milhões e surpreender na Champions. O que é que eu prefiro? Quem a turma de Alvalade ganhe ao Setúbal. E que continue a dar-nos motivos para sonhar.