Ainda bem que esta crónica não é falada, pois nesse caso não conseguiria fazê-la. Mas mesmo sendo uma crónica escrita, não é fácil, com a garganta completamente desgraçada por 90 minutos de apoio, conseguir organizar as ideias. Até porque a ideia que me chega recorrentemente é a de que, marcando um golo aos 87 minutos, não podemos deixar fugir a vitória. Obviamente que sou adepto do futebol positivo que procuramos jogar em todos os jogos, mas, ontem, eram mais do que três pontos em disputa: era um reentrar na corrida pelo titulo a uma velocidade que nos podia dar um embalo imparável, ainda para mais potenciado pela força psicológica que lhe seria inerente. Quero com isto dizer que o jogo tinha que acabar nesse momento. Era o Patrício mandar-se para o chão a simular lesões, era o Nani prender a bola na bandeirola de canto até levar nas pernas, era o que quisessem. No fundo, era fazer aquilo que o adversário fez durante 90 minutos: anti-jogo.

Não vou atribuir as culpas a Marco Silva por não se ter feito isto, até porque tendo já jogado há bola sei pereitamente que há momentos no jogo a partir dos quais se deixa de ouvir o treinador. Mas é impossível não questionar o porquê de não se mexer na equipa mais cedo. Mais, ainda, do porquê de ter tirado o Carrillo quando o Nani só apareceu para fazer dois números de circo. E, que raio, mesmo que fosse substituição para queimar tempo, tirar o Nani que seria o gajo que melhor seguraria a bola, para meter o Capel?!?

Claro que tudo isto ficaria para segundo plano de aquele balão às três pancadas para a área não tivesse acabado por resultar num golo tão merdoso quando a exibição do benfica. Inacreditável o que aqueles que enchem a boca de favas para se assumirem como “o campeão” vieram fazer a Alvalade: desde o primeiro lançamento de linha lateral que começaram a queimar tempo. Depois as lesões simuladas do Artur. Depois… No fundo, foi jogar contra uma Académica com melhores jogadores e sabendo que as desatenções poderiam ser fatais. E nos estancar das armas que poderiam aproveitar essas desatenções, estivemos perfeitos. Tobias, Paulo Oliveira e William estiveram imperiais. Cédric fez um dos melhores jogos com a verde e branca. E Jefferson merecia ter sido o herói do jogo. Adrien correu tanto que deve ter tido que trocar de pulmões ao intervalo. João Mário foi combativo como nunca, só lhe faltando desequilibrar na frente. Frente onde Montero fez um óptimo jogo e onde faltou um real apoio à capacidade do colombiano arrastar os centrais. Depois, Nani e Carrillo: deles se esperava parte da decisão do dérbi, mas foram quase sempre incapazes de fugir ao espartilho.

Esse talvez seja um dos grandes desafios do Sporting neste momento: aprender a lidar com equipas que só pensam em defender e em fazer correr o ponteiro do relógio. Os dois pontos perdidos ontem custam mais a digerir por terem sido contra quem foram, mas na sua génese pouco diferem dos que foram perdidos contra outra equipas que vieram com autocarro de dois andares a Alvalade. Aproveito, desde já, para mandar bardamerda qualquer um que me venha dizer que os gajos foram pragmáticos, porque assim sendo o Paulo Sérgio é tão genial como o Jesus e ninguém pode criticar a Académica pela triste figura que veio fazer a Alvalade há 15 dias. E estendo o meu “bardamerda” a todos os que me vierem dizer que também já tivemos sorte, nomeadamente em Braga. Como se o Sporting não tivesse tido oportunidades de sobra para ganhar por mais do que 0-1 esse jogo.

O outro grande desafio é geral: continuar a acreditar nesta equipa. A equipa dos tostões, como muitos gostam de apelidá-la, mas uma equipa da qual me orgulho e com a qual quero celebrar conquistas. Tenho cada vez mais a certeza que isso vai acontecer já está época e tive a certeza que esse era o pensamento dos Sportinguistas que encheram Alvalade e que souberam apoiar a equipa ao longo de 90 minutos (aquilo que se passou no sector onde estava a escória encarnada é um caso aparte e ao qual, infelizmente, quem tutela o desporto continua a ignorar). A loucura feliz que se instalou no olhar de cada uma das pessoas que me rodeavam, após o golo de Jefferson, mostrou-me essa crença. Ser capaz de mantê-la, é meio caminho andado para estarmos cada vez mais perto das conquistas.