Muitos dos olhares estavam centrados neles. A dupla de centrais mais nova. A inexperiência. O dérbi. E que a mobilidade dos avançados podia ser um problema. Mil e um motivos para preocuparem os espíritos dos Sportinguistas que, curiosamente, pelos menos para a maioria dos que conheço, se mantinham calmos e confiantes.  E a verdade é que o jogo de elevado grau de exigência, acabaria por revelar toda a qualidade de Paulo Oliveira e de Tobias Figueiredo.

Obviamente que falamos de uma dupla que, apesar de se conhecer das selecções mais jovens, tem meia dúzia de jogos feitos com a camisola do Sporting. Quer isso dizer, que a margem de progressão é enorme. À medida que for criando rotinas, é natural que a performance seja cada vez melhor, cada vez mais segura, cada vez mais entusiasmante. Para já, um pormenor incontornável: estabilizaram o centro da defesa e estabilizaram William Carvalho. Sim, o aprumo de forma de William também ajuda a que os centrais saibam ter à sua frente um escudo mais poderoso que o do Capitão América, mas parece-me inegável que o facto de saber que não precisa de ser um bombeiro dos homens que tem nas costas, liberta a mente de William para fazer aquilo que faz como poucos a nível mundial.

Mas voltemos aos centrais. Paulo chegou depois de belíssimas exibições em Guimarães e na selecção nacional. Foi das contratações mais aplaudidas e mostrou capacidade de antecipação aos rivais. A pré-época correu mal. Nervoso, sentindo em demasia o peso da camisola, acumulou erros que lhe retiraram a possibilidade de vir a impor-se ao lado de Rojo. Quer dizer, isto partindo do princípio que Rojo ficaria. O argentino saiu e Paulo continuou na sombra de Maurício e de Sarr. Uma lesão do primeiro, frente ao Chelsea, obrigou Paulo Oliveira a aquecer à pressa e a entrar. Era o tudo ou nada e o jovem central respondeu “tudo!”. Mandou a pressão para trás das costas e assumiu aquilo que parece estar-lhe no sangue: ser o líder da defesa. Sem tiques de pop star, com o ar mais tranquilo deste mundo, aproveitando uma velocidade acima da média no que toca a defesas centrais e, principalmente, um posicionamento que nos surpreende de semana para semana. Classe, diz que pode resumir-se assim, até pela forma como os desarmes, em carrinho ou em pés de lã, são feitos quase sempre sem recurso à falta. A capacidade de aparecer em lances de bola parada, na área adversária, é uma espécie de cereja no topo do bolo.

No caso de Tobias, essa é uma cereja que se saboreia desde tenra idade. Quem o acompanhou nas camadas jovens do Sporting, sempre teve contacto com a sua capacidade de marcar golos, fruto de um jogo aéreo invejável. Com uma estampa física impressionante, Tobias sempre foi uma referência nos vários escalões por onde passou. Quando entrou na idade de junior, surgiram os primeiros indícios de que o lado psicológico poderia trair as qualidades inatas para se tornar num central de eleição. E foi, precisamente, esse lado psicológico a ser colocado à prova com o empréstimo ao Reus. Perdido na Catalunha, obrigado a trabalhar sem as mordomias da melhor Academia do mundo, o puto tomou a decisão de fazer-se homem (ó Semedo, anda cá ver isto!) e de mostrar que tinha tido razão quem lhe tinha renovado o contrato até 2019. O seu regresso a Alvalade rodeava-se de algumas dúvidas e, tal como no caso de Paulo Oliveira, foi necessário ser posto a jogar sem paninhos quentes para se libertar de vez. Primeiro a Taça da Liga, depois a saída de Maurício. Estava aberto o caminho para o lugar onde muitos exigiam vê-lo, pese aquela ideia de que o ideal seria conseguirmos contratar um central mais experiente. No passado domingo, frente ao benfica, as dúvidas que podiam existir dissiparam-se. Tobias esteve intratável no jogo aéreo e mostrou que quando embala com aquela passada larga se prepara para um carrinho temerário onde a bola é o alvo.

O melhor disto, tudo, pelo menos para mim, é ver uma dupla que se complementa. Se fossem irmãos, Paulo seria o gajo que tenta resolver os problemas de forma cordeal, conversando e desarmando os adversários sem eles darem por isso; Tobias seria o gajo de sobrolho franzido, poucas palavras e capaz de garantir uma saída triunfante no caso do caldo azedar. Juntos, têm tudo para ser uma das nossas melhores duplas de centrais de sempre. Saibamos nós apoiá-los, nomeadamente quando surgirem erros que serão perfeitamente normais tendo em conta as suas idades e os muitos jogos que lhes faltam até estarem perfeitamente entrosados.