Se na semana passada tínhamos levado um murro no estômago, esta semana fomos ao tapete. E a culpa nem foi do adversário, que se limitou a jogar o pouco que sabe como, aliás, havia feito nas duas anteriores vezes que o defrontámos esta época. A culpa foi inteiramente nossa. Entre jogadores em clara quebra de forma, falhanços inacreditáveis e substituições imperceptíveis, fomos uma espécie de pugilista que se recusa a desistir após um duro golpe e que quando investe tropeça nos próprios pés.

E o mais curioso é que o início de jogo nem deixava antever uma noite de namorados tão pouco apaixonante. Nos primeiros quinze minutos, o Sporting empurrou o Belenenses para o seu último reduto e deixou a ideia que o golo seria uma questão de tempo. Jefferson, provavelmente o melhor Leão a par de William, foi quem deu o mote, com uma investida pelo seu corredor. Montero e Carrillo viram os seus remates esbarrarem nos defesas adversários e seria o colombiano a ter a oportunidade de ouro, pouco passava dos dez minutos: um erro adversário deixou-o na cara do redes, mas Fredy conseguiu retribuir a azelhice e não conseguiu desviar a bola do guarda-redes. Não sei o que teria sido o jogo caso esse lance tivesse dado golo. Sei que, com o correr dos minutos, a equipa foi perdendo ritmo, foi fazendo cerimónia na altura de rematar e, até final do primeiro tempo, deixou o Belenenses equilibrar. O desvio de William a um cruzamento de Jefferson, seria a nota de maior perigo que conseguiríamos produzir até ao final dos primeiros 45 minutos.

Veio o intervalo e vieram as surpresas. Marco Silva tira Montero e tira João Mário, colocando em campo Tanaka e Mané. A equipa passava a jogar em 4-4-2, com Mané a jogar mais solto nas costas do japonês, com permissão para alternar de lugar com Nani. De uma assentada, Marco Silva queimava os dois únicos trunfos que tinha de forma questionável. Não faria sentido prescindir de Adrien e deixar João Mário em campo? Não valeria a pena recuar Montero e lançar Tanaka, deixando Mané como trunfo? Claro que falar depois de tudo ter acontecido é fácil, mas a verdade é que o Sporting só apareceu perto dos 70 minutos, numa boa combinação entre Adrien e Tanaka que Nani atirou para as nuvens. Depois veio o disparate de Patrício, que já tinha mostrado estar em noite não, e o golo dos pastéis. Faltavam 20 minutos e a equipa não apresentava ideias. Marco Silva troca Carrillo por Capel, deixando em campo um desinspirado Nani, repetindo o que havia feito contra o benfica e que, pelo menos a mim, levanta sérias dúvidas sobre a lógica de tal opção (neste momento, Carrillo está bem melhor do que Nani). Depois, Cédric vê o segundo amarelo e tudo se conjugava para uma barrigada de pastéis estragados. Valeu-nos o brio dos jogadores que, sem ideias, se agarraram ao espírito e foram compensados com um golo ao cair do pano, assinado por Mané.

Sendo o mais sincero possível, creio que, mais do que nunca e no que ao campeonato diz respeito, temos mesmo que ir para o jogo a jogo. Consolidar o terceiro lugar sem espinhas e não tirar os olhos do segundo (aliás, a ida ao dragão está próxima). Não vale a pena pensar no que quer que seja a mais. É ganhar um jogo, depois outro e outro e, no final, fazer as contas. Mas a época está longe de estar acabada. A Taça é um objectivo obrigatório, a Europa merece que façamos o que já fizemos este ano. E é neste cenário que Marco Silva terá que equacionar o que pretende fazer. Já se percebeu que Slimani voltará sabe-se lá quando (e tanto que haveria a dizer sobre o umbiguismo de um gajo que força a lesão em dois jogos, sempre na ânsia de mostrar-se ao mundo) e isso coloca-nos numa situação que já se viveu esta época: na altura, a discussão girava em torno de André Martins e do que ele já não oferecia à equipa. João Mário ocupou o lugar, com devidos proveitos. Agora, a discussão passa pelo plano de jogo.

Não podemos continuar a jogar como se Slimani estivesse na área. Já se percebeu que esses cruzamentos raramente darão golo sem a presença do argelino. Portanto, há duas hipóteses: ou Montero e Tanaka passam a forma dupla na frente e o meio-campo adopta o duplo pivot, ou temos que colocar alguém a partir os adversários na linha interior, ali entre a defesa e o meio-campo. Nani poderia ir para o meio, mas Ryan Gauld parece o nome mais apropriado para revolucionar um pouco um futebol que se vai tornando cada vez mais previsível. E não, não estou a pensar no jogo na Alemanha, porque aí parece-me que o onze de ontem encaixará na perfeição.

A propósito de Alemanha, caso a vida me permitisse era lá que estaria na quinta-feira. Não estarei, mas estarei a torcer como se, ontem, tivesse dado cinco ou seis. Acho piada a quem aplaude os comunicados do presidente quando eles visam o sistema, mas parece ignorá-los quando a mensagem sugere a união em torno do projecto. É que foi isso que aconteceu há uma semana, em vésperas do dérbi. Passados oito dias, há já quem queira mandar bruxas para a fogueira. Eu sei que está frio, mas dava jeito que guardassem os fósforos e a gasolina. Pelo menos até Maio.