Hoje passou-me pelo olho esta imagem e não pude ficar indiferente. Com tudo o que o novo Alvalade já me ofereceu e ainda tem para me dar esta é de facto a minha casa, aquela que ficou perdida no tempo e guardada na memória. Lembro-me tantas vezes de ti, e sonho tantas vezes contigo!

De ti tenho memórias incríveis: foi naquela bancada da pala que assisti ao meu primeiro jogo em 92, apresentação do plantel do Sporting contra o Ajax, e vencemos por 2-0. Foi a primeira vez que o meu pai me levou à bola. Seguiu-se essa e outras épocas sempre acompanhando os Leões debaixo daquela pala. De todas as memorias que guardo ali sentado, são com certeza muitas, mas para sublinhar algumas tenho o golo de bicicleta do Juskowiak aos axadrezados, um magnifico golo do meu querido Cherbakov, que fez uma arrancada fenomenal desde o meio campo e só parou dentro da baliza do Salzburg, nessa altura ainda era um m​iudo e lembro-me também da manha que acordei com a noticia do acidente, perguntei aos meus pais mil vezes “quando é que ele fica bom?!” infelizmente nunca ficou…

Lembro-me das arreias entre o meu pai e o meu Avó, sendo que o velhote queria sempre ir para a bancada nova “aquela é que é a bancada do sócios” rematava ele, umas vezes ganhava a argumentação outras nem por isso. Lembro-me de entrar pela primeira vez na Loja Verde, aquilo era o meu mundo! E a primeira camisola que lá comprei foi do Skhuravy, infelizmente nunca veio a singrar como eu lhe previa. Mas lembro-me de fintas do Figo, cruzamentos do Capucho, da magia do Balakov e do nosso querido Iordanov. De tantas e tantas figuras que passaram por ali! De passar por Lisboa e puder ir assistir aos treinos da equipa principal, isso faz-me falta! De passear em redor do estádio e aqueles plátanos elevarem ainda mais a cor da minha vida. Da secretaria ser um gabinete pequenino onde cabiam 3/4 sócios, de me deslumbrar quando entrava naquele jardim que existia em frente à bancada nova e contemplar por minutos a fio o nome do meu estádio e do meu fundador. Lembro-me dos anéis olímpicos que existiam na bancada presidencial (hoje perdidos dentro dos corredores do novo Alvalade), e do enorme leão que existia desenhado naquela nova bancada.

Mas de toda essa infância sempre me ficou o fascínio pela curva sul, era ali que o coração do Sporting pulsava em dias de jogo. E de tanto fascínio lá fiz a vontade a mim próprio anos mais tarde: Sporting – Halmstad, demos 6 bolas e a curva estava a loucura, nesse jogo lembro-me da minha namorada estar no estádio e vir ver a segunda parte para a curva também. Enfim, outros tempos, em que poder circular dentro da minha casa era permitido. Foi também nesse jogo que o Miguel começou a entoar o “só eu sei”. Ano glorioso esse! Fiz-me sócio da mítica, passamos a eliminatória, e no jogo seguinte fizemos o AC Milan tremer. A partir daí comecei a cantar 90 minutos e hoje confesso, já não consigo assistir a um jogo em qualquer outra parte do estádio senão ali.

Fiz amigos, muitos amigo, fiz directas em Alvalade, ali ao pé do pavilhão antigo a jogar à bola, esperado que as bilheteiras abrissem, tive a sorte de estar presente na cervejaria que existia por baixo da curva no dia em que no Top+  foi-nos dado o ​1ºlugar​  e o 1º(?) disco de platina, e ouve de tudo ali dentro, cânticos entoados, cerveja entornada, tochas abertas, enfim,  os “violentos e delinquentes” estavam apenas a festejar! Esse também foi um dia de festejos, já éramos campeões e tínhamos a festa do titulo para fazer EM CASA! Sem duvida um dos melhores dias da minha vida!

Mas isto tudo para jogar cá para fora a falta que este Alvalade me faz! Os sonhos que me proporcionou, as lágrimas que lá deixei, os sorrisos, os abraço e todos os golos que lá festejei fazem-me falta. Faz-me falta aquelas cadeiras verdes, o cheiro daquele relvado e daquela pista de tartan, de esperar a malta na porta 10-A, que hoje tenho a certeza tenho a certeza que a pequenada não sabe mais o significado dessa porta. ​Do arrepio que me percorria a espinha assim que te via desde a 2ª circular. ​Da porta da maratona aberta quando recebemos a equipa vinda de Paranhos, daquele betão já velhinho e com algumas rachas, enfim todas essas rachas contavam historias, a historia do Sporting Clube de Portugal! Foi aqui também que festejei golos que me roubaram a voz, que roubei beijos, que tive os meus namoricos, que sonhei, que gritei até a voz me doer, mas que também moldou o carácter da pessoa que hoje sou. Foi ai que descobri o que é ser leal, o que é ser Leão, e que acima de tudo o que é ser um Leão​ não só​ numa vitória mas​ acima de tudo nas derrotas.​

S​omos de facto ​feitos d​e​ outra raça​, daquela que nunca se vergará​. Da raça do Sporting Clube de Portugal. Ficarás para sempre, tu, as tuas inúmeras portas e cadeiras, os arrumadores que nos limpavam as cadeiras nas bancadas principais, a tua bonita moldura em dias de jogo e do esplendor que tu eras visto de longe. A ti vou-te recordar sempre com saudade e quisesse Deus que tivesses durado mais 100 anos, eu vive-los-ia contigo. Assim passarei estas memórias aos meus filhos e netos, porque enquanto Sportinguista tenho o dever e obrigação de o fazer, embora para mim seja um prazer. Saudades!

 

ESCRITO POR Hugo Oliveira

*às quartas, a cozinha da Tasca abre-se a todos os que a frequentam. Para te candidatares a servir estes Leões, basta estares preparado para as palmas ou para as cuspidelas. E enviares um e-mail com o teu texto para [email protected]