Em qualquer comedia romântica há sempre uma cena em que o casal, o ex-casal ou o futuro casal parte a loiça toda e pelo menos durante uns bons 20 minutos do filme “ameaça” aquela relação que tinha tudo (ou nada) para dar certo. Mais acaso ou menos acaso, a coisa resolve-se e tudo acaba bem…até à sequela pelo menos.

A relação entre o nosso treinador e o nosso presidente não será uma comédia, não tem havido motivos para grandes risadas entre os sportinguistas, mas há qualquer coisa de romântico na narrativa que corre a imprensa desde o ido caso do “post no facebook”. Tanto Marco Silva, como BdC têm dado mostras que pode não existir um “clima” de muitos beijinhos e abraços, mas falam e trabalham em conjunto…não sendo, para já, um final feliz, tanto quanto eu sei é semelhante à relação anterior do nosso presidente com o “ex” Leonardo Jardim. E na verdade, podendo para alguns isso subsistir em algum significado, a mim dá-me igual se trocam mensagens no WhatsApp sobre o que vão vestir no dia seguinte, se vão juntos a concertos do Paulo Gonzo ou se praticam Crossfit no mesmo ginásio. O que eu quero é que tenham uma boa relação de trabalho.

Para os nossos jornalistas e opinadeiros, o prisma mais “vendável” não é, de todo, a funcionalidade da relação. Estão-se a cagar para isso. Querendo, mas sendo anti-linha editorial, meterem-se nas “camas separadas” entre LFV e JJ ou entre o arrependimento do “roubo de noiva espanhola” que corre pela careca do Pintinho, a inspiração e a veia Nicholas Sparks solta-se ao analisarem qualquer declaração subjectiva ou estado mental do nosso “casal”. Há falta de “trela” para mais, o romance que está “mesmo a dar” são “as palavras que nunca se dirão” entre Marco Silva e BdC. Por mais que os nossos dois intérpretes jurem, a toda a hora, e em todas as ocasiões, que há caminho para fazer no futuro, que já estão cansados de ter de mostrar que ainda usam a aliança nos respectivos anelares, não há forma…o guião nunca é escrito pelos actores e o mais que podem fazer é, aconselho que o façam o quanto antes, ridicularizar o script aproveitando (Moliére fá-lo-ia com distinção) a enorme farsa que corre as principais redacções do nosso, não menos “farsola”, pais desportivo.

Já agora, aproveito para enviar um “post de facebook” aos signatários da ala “o Marco Silva tem culpa de tudo, o Inácio com este plantel era campeão” que diz basicamente: “Tenham juízo!”. Já não basta termos os árbitros, as comissões todas da Liga e FPF e a imprensa que temos…acho que todos dispensamos as descompensações anímicas de quem quer queimar na fogueira todos os males de uma vez, imaginando que no varrer das cinzas os jogadores renovam, as bolas entram, os flops revelam-se ou os penaltis são assinalados. Sim, o treinador cometeu erros. Eu é às pazadas todos os dias. Treinar o Sporting não é para todos e, diga-se, BdC não é propriamente o protótipo do presidente porreiraço e o Sporting um clube onde os arco-íris brotam de bancada em bancada com os cofres a abarrotar de papel para gastar. Marco Silva como qualquer jovem treinador, tenha mais ou menos ambição, está ainda a ganhar calo nesta coisa de ter de ser infalível, não ter tempo nem dinheiro para operar a proeza (que muitos acham processos naturais) de conseguir ser campeão quando quase todos os factores jogam contra esse desígnio.

Se formos honestos, deixando a hipocrisia e a fezada clubística a marinar, o Sporting tem algumas hipóteses de vencer a Liga, mas por enquanto, os nossos rivais têm mais. Eu consigo separar a minha vontade e crença no Sporting, da realidade do mapa desportivo português. Os nossos rivais têm os favores dos empresários, das Doyens, das Câmaras Municipais, colocaram as “primas” todas em todas as comissões de poder desportivo nos últimos 30 anos, domesticaram os árbitros ao ponto de já não ser possível de distinguir onde começa a vontade de ser parcial e acaba o suborno, e…tem de ser dito…não tiveram sucessivas gestões de “gentleman´s ingénuos” que acharam que uma calculadora e paciência resolviam o buraco de gestão desportiva em que o Sporting mergulhou desde o último título.

Felizmente todos estes “contras” não chegarão para derrotar um clube como o Sporting assim que construa uma grande equipa, liderada por um grande treinador, protegida por um grande presidente. O adjectivo “grande” na frase anterior é onde muitos adeptos colocam reservas. Muitos duvidam que os nossos jogadores sejam melhores que os dos nossos rivais, muitos trocariam o nosso treinador por mais um Paulo Sérgio desta vida, muitos acham que os grandes presidentes se fazem em dois anos, olhando pouco para a história do futebol pelo mundo fora. Infelizmente não têm razão. Passe o paradoxo, se fosse esse o caso, ser campeão nas próximas épocas seria bem mais acessível. Bastaria eleger o “elegante e cordato” Couceiro, contratar o “milagreiro” Rui Vitória, vender metade da equipa contratando outra ao Gil Vicente, ao Paranaense ou ao Maribor da Eslovénia. Imagino…e a minha alma ainda dotada de alguns neurónios chora…”Tenham juízo!”

A principal arma do Sporting é a inteligência. A inteligência de entender que quantos mais “queremos lixar”, mais acabaremos lixados um belo dia. A inteligência de descobrir que tudo o que é sólido e eficaz demora a ser feito e não pode ser mudado a toda a hora. A inteligência de saber que um “projecto” só é válido enquanto todos (!) acreditarem no sucesso do mesmo. A inteligência de ter sempre presente que o desporto é vantagem, mas também é paixão…havendo quem goste de vencer “a todo o custo”, o verdadeiro mérito é dos que tentam ser melhores que os bons e não dos que tentam que os outros sejam piores que o seu pior. A inteligência de valorizar o que se tem dentro de portas. Sejam eles Marco Silva, Cedric, Mané, Palhinha, Inácio, Virgílio ou outro qualquer.

795739-messileoargentinabarcelonaphotoafp-1416689285-424-640x480No último fim de semana vi o Sevilha-Barcelona e prestei muita atenção a um rapaz a quem muitos chamaram totó, merdas, bronco, zero, perneta, azelha (entre outros mimos) em Alvalade. Um rapaz que foi vendido por pouco mais de 1 milhão de euros a um candidato para descer inglês. Um rapaz que (nunca sendo uma sereia de técnica ou virtuosismo) deixou a pele em campo (como sempre o fez com o leão ao peito) e ajudou bastante a diminuir o brilho de astros consagrados como Messi, Neymar, Iniesta ou Suarez…coisa pouca. Na verdade Carriço chega para o Sevilha enfrentar Barcelona e Real Madrid, mas não serviu para o Sporting. Um capitão em todos os escalões de formação, foi trocado para pagar os salários das vedetas. Na verdade não foi o Carriço que não serviu para o Sporting, foi o Sporting que não serviu Carriço, cada titularidade deste jogador na liga mais competitiva e exigente do mundo é uma bofetada ao julgamento dos que querem ver as dificuldades pelas costas, nem sequer perdendo um segundo para entender se estão a mandar fora a casca ou o fruto. Vamos lá desmontar esses montinhos de lenha, e guardar os fósforos, arranjem mas é um poster do Carriço, pendurem na parede do quarto e por cima escrevam, em letras garrafais “Oh capitão, meu capitão…”, olhem para ele todos os dias e…”Tenham Juízo!”

 

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca