Sem deslumbrar, mas de forma inteiramente justa, o Sporting garantiu o acesso à pré-eliminatória da Champions. Não que alguém duvidasse, mas no mundo das hipocrisias matematicamente possíveis tem dado jeito alimentar a ideia de que “o Sporting tem disputado o terceiro lugar com o Braga”.  Não sei porque raio não se diz que o Braga tem andado a defender o quarto lugar da sombra vimaranense (vantagem que vai oscilando entre os sete e os quatro pontos) ou porque raio o Sporting, assim que deixou escapar a oportunidade de encurtar a distância para o primeiro de sete para quatro pontos, passou a estar arredado do título. Coisas giras, no fundo.

Tal como também foi giro ver a equipa voltar a apresentar dois avançados, Tanaka e Montero, ver Capel ter a recompensa pelo seu profissionalismo, André Martins num duplo pivot com Rosell e Mané a crescer mais um bocadinho. Equipa revolucionada, numa rotatividade que parece surgir como tardia, mas que também vai mostrando que isto não é só mandar uns quantos lá para dentro. Há, claramente, uma distância qualitativa entre os vários jogadores que compõem o plantel principal e entre a maioria dos que compõem a equipa B. Volto a escrever: a rotatividade, em alguns casos, podia ter chegado mais cedo, mas esse aproximar qualitativo entre os chamados “titulares” e as opções será um dos maiores desafios para a próxima época (a par da capacidade de renovar com algumas peças chave e conseguir manter a maioria da estrutura da equipa).

Estava eu entretido a pensar em tudo isto, quando o escorregadio Cosme Machado apitou para o intervalo (alguém me explica porque raio é que a homenagem ao hóquei não foi nesta altura?!?). Para trás ficavam 45 minutos sonolentos, fruto das menores rotinas de uma equipa cheia de alterações. Montero tinha estado perto de inaugurar o marcador, na sequência de um canto, Rui Patrício tinha feito uma das defesas do ano (que defesa, meus amigos, numa bomba disparada a dois metros de distância), Tanaka quase marcava com as costas e André Martins surgia em bom plano, jogando num duplo pivot em que muitas das saídas de bola passavam pelos seus pés.

Esse posicionamento não se alterou no arranque para o segundo tempo, mas alterou-se o parceiro. Adrien, uma espécie de coração deste Leão, voltou a dar ao miolo aquele perfume da formação. Mais à frente, Carrillo, candidato a jogador do ano, franzia o sobrolho para enfrentar os adversários e ia guardando o sorriso para festejar os golos. Uma ameaça do peruano, depois mais outra. “Não marco eu, dou a marcar”, terá pensado a cobra verde e branca, e tratou se sacar um belíssimo cruzamento para o desvio certeiro de Montero, prémio justo para cerca de doze minutos em que o Nacional ficou lá atrás. Manuel Machado tenta responder, mas ao tirar Tiago Rodrigues (tanta falta fez este gajo sem ver cartões, tanta falta se marcou contra o Sporting por simulações madeirenses) e lançar Tiquinho mais parecia o cego Jeremias a mexer na equipa. Marco Silva responde, mete João Mário (boa entrada, mais solto do que nas últimas partidas) no lugar de Tanaka e ganha definitivamente o meio-campo.

E só não ganhou o jogo porque, depois de algumas investidas perigosas, o Sporting entrou para os últimos dez minutos com o pé mais leve sobre o acelerador. Mais bolas perdidas, menos pressão, mais espaço para o Nacional tentar esticar-se. É verdade que não criaram uma jogada de perigo de bola corrida, mas uma sequência de livres causou alguma apreensão entre os Sportinguistas. Responderam e bem os centrais, Ewerton mais em estilo, Paulo Oliveira mais em modo operário, aparecendo em todo o lado onde era preciso (a propósito de defesas, o Jefferson está a precisar de ver o Jonathan a titular outra vez). Subiu o Nacional, aproveitou Mané. Enorme cavalgada do puto, defesa do redes insular e recarga certeira de Montero. Pimba, machado enterrado, no Cosme e no Manuel, com mais três pontos na conta do Leão, desta vez celebrados ao som de ritmos latinos.