Começo esta missiva dizendo que só o conheço por ter sido rosto de um telejornal. É bom saber que continua a ter as qualidades que fizeram de si um grande pivot na RTP. Falo, obviamente, da sua capacidade de transmitir com precisão aquilo que é escrito num teleponto. Qualidades essas que continuam intactas agora, que, aparentemente, se meteu em assuntos da bola. Os meus parabéns.

Em circunstâncias normais, nunca lhe escreveria nenhuma carta. Porém, desta vez tive que fazer o esforço porque o senhor decidiu publicar um artigo de opinião sobre o meu clube, o meu presidente e o meu treinador. Nem sequer vou tentar descobrir qual a sua côr clubística, essa parece ser óbvia. Basta tomar atenção ao título “E se Marco Silva acabar na Luz ou no Dragão?” e percebemos que Sportinguista não é de certeza. E se não é Sportinguista, permita-me, a sua opinião vale tanto como a minha em matéria de Orçamento de Estado. E, mesmo na ínfima probabilidade do senhor ser sportinguista, tenho sérias dúvidas que as suas reais preocupações tenham a ver com o futuro do Sporting. Vamos ao seu texto.

Despachando já o título, na qualidade de sócio do Sporting Clube de Portugal, respondo: Se tal acontecer, entendo que, pelo menos na parte relativa aos rivais, na teoria,  eles ficarão mais fracos. E isto nada tem a ver com a qualidade de Marco Silva como treinador, tem apenas a ver com quem ele poderá hipoteticamente substituir. Infelizmente para mim, tanto Lopetegui como Jorge Jesus têm mais títulos em carteira do que o meu treinador o que não escandaliza ninguém devido à experiência de um e ao trabalho em selecções jovens do outro. Portanto, não seria tragédia nenhuma para o Sporting. Ou, pelo menos, seria uma tragédia tão grande como a saída de Jesualdo ou de Leonardo Jardim que, felizmente, foram bem resolvidas pelo presidente Bruno de Carvalho. E se há coisa que o presidente do Sporting  sabe fazer bem é escolher treinadores para a equipa de futebol.

nunosantosEntrando no artigo propriamente dito, começa com a ideia de que Leonardo Jardim saiu de costas voltadas com Bruno de Carvalho. Mesmo depois do mesmo ter dito que a relação entre ambos era positiva e profissional. Relembro que o senhor foi despedido da RTP, uma situação diferente de Leonardo Jardim. Presumo que lhe faça alguma confusão o facto do Sporting resolver as suas rescisões com treinadores de forma digna e com claros ganhos para ambas as partes enquanto o senhor desatou a dar entrevistas porque se sentiu injustiçado no seu litígio com a RTP. Ultrapasse isso, são contingências da vida.

Depois fala em “tiro de canhão” de BdC a MS quando despediu-o em Dezembro e voltou atrás. Nem sequer vou aprofundar a estupidez (em termos financeiros e desportivos) que é despedir alguém, pagar-lhe a indeminização e voltar a contratá-lo, tudo isto num par de semanas. Portanto, se quer que o seu artigo tenha alguma credibilidade convinha aplicar algum rigor ao mesmo: não houve despedimento nenhum. Houve um conflito evidente que acabou com a permanência do treinador e um comunicado do Sporting a apoiar o mesmo. O resto é fantasia da sua cabeça e um desconhecimento total do significado da palavra “despedimento”. O que me surpreende, já que o senhor até está familiarizado com o termo…

Depois escreve que “ambas as partes mentem” quando dizem que estão focadas no dia 31 e anunciando uma hecatombe após esse data. Realmente, a sua imaginação é tão fértil que chega ao ponto de colocar em causa, não só o profissionalismo do treinador que tanto defende como também a vontade do Presidente do Sporting em conquistar o troféu! Se existe alguém que está a mentir é o senhor. Tanto o presidente como o treinador já repetiram publicamente onde está o seu foco. Achar que eles estão a mentir só porque não lhe apetece acreditar nas suas palavras é, no mínimo, caricato. Acho que está dar demasiado crédito a si próprio. Nem o senhor é um jornalista competente o suficiente para conseguir “sacar” informações de ambos os intervenientes nem sequer percebe o mínimo de futebol para aferir se, de facto, alguma coisa terá mudado na preparação da final do Jamor que indicie uma real e objectiva mudança de foco.

De seguida, escreve uma passagem que, realmente, me divertiu. Começa por estabelecer que “os jogadores tomaram partido” que, presumo, será o do treinador. Antes de mais, duas perguntas retóricas : Já ouviu algum jogador dizer que não quer que o seu treinador fique? Claro que não, porque é ele que escolhe quem joga. Ou, por outro lado, já ouviu algum jogador a dizer que quer que o Presidente saia? Claro que não, porque é ele que lhe paga no final do mês. Será assim tão descabido os jogadores estarem à margem do conflito e apenas focados no seu trabalho em campo? Na sua cabeça, provavelmente sim. Mas na deles, quiçá, é capaz de ser o mais seguro. Não vá o mister tirar-lhes do onze ou o presidente cortar no ordenado. Digo eu. As suas alucinações continuam quando escreve que na cabeça dos jogadores, é este conflito que reina. Aqui admito que possa ter razão porque não possuo as suas capacidades telecinéticas. Mas já que se considera jornalista, já foi capaz de perguntar a algum atleta do Sporting sobre os seus pensamentos? Se calhar, e admito que possa ser pura especulação da minha parte, estarão a pensar na melhor forma de enriquecer as suas carreiras conquistando um troféu. Ou então, possivelmente, estarão a pensar na feijoada que vão comer ao jantar. Olhe, que tal fazer jornalismo e cingir-se a factos em vez de suposições?

E eis que chegamos à parte em que mistura comicidade com hipocrisia. “Não se trata de tomar partido mas antes de identificar o que está certo e o que está errado”. Primeiro, ou eu li mal o seu texto ou podia jurar que todo ele se destina a atacar uma das partes e a defender a outra. Segundo, imagine-se! ainda quer ser o juíz desta contenda! Só falta arranjar um júri contituido por Pinto da Costa, Luís Filipe Vieira e todos os seus colegas da imprensa desportiva. Terceiro, nenhum sportinguista lhe conferiu autoridade moral nem sequer intelectual para decidir o que é certo e o que é errado no nosso clube. Quarto, é capaz de ser presunção em demasia (ou apenas péssimo jornalismo) achar que sabe o que está certo e errado sem confirmar todas as versões sobre o assunto.

Assim sendo, espremendo o seu artigo até à exaustão, chego à conclusão que nem um pingo de sumo sai. Todo ele centra-se num conflito, que é real, mas que extravasa para uma série de observações e conclusões com um único objectivo de colocar em causa o presidente do Sporting. E nem sequer conseguiu disfarçar essa intenção, apesar de, a certa altura, tentar passar uma ideia de distanciamento e isenção em relação a todo este processo. Enquanto o senhor e seus pares continuarem a atacar Bruno de Carvalho utilizando o treinador Marco Silva como arma de arremesso, nenhum sportinguista minimamente inteligente será capaz de levar as vossas opiniões a sério. E não vejo melhor forma de terminar este texto do que com a seguinte frase: “Não me peçam que tenha perdão pela indignidade e pela vilania”.
Sabe quem disse isto? Provavelmente terá sido Bruno de Carvalho ao ler artigos como o seu…

PS: Espero um artigo sobre o segundo ano do FC Porto sem nada ganhar, sobre o investimento sem retorno de Pinto da Costa, sobre a continuidade do Lopetegui e sobre o facto do Benfica ainda não ter renovado com o seu treinador. Ah! Já sei! Estão todos à espera do Marco Silva…

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!