O Sporting foi tão intenso como contra a Roma ou contra o CSKA? Não.
O Sporting merecia ter ganho o jogo? Sem dúvida.
E porque raio o Sporting não ganhou o jogo? Por erros próprios e por erros de terceiros.

Em rápidos, estes são capazes de ser os pontos chave da tarde/noite de ontem, num José Alvalade novamente muito bem composto e, infelizmente, alvo de mais um banho de água gelada que nos deixam com uma azia do tamanho de dois dias.

Ao contrário dos jogos realizados até agora – Roma, benfica, Tondela, CSKA – o Sporting não entrou a encostar o adversário às cordas, fruto de uma avalanche ofensiva que dá pouca margem para respirar a quem, nesses momentos, apenas consegue preocupar-se em defender. Ganhou com isso o Paços, que teve a oportunidade de colocar as suas linhas mais subidas e de assentar a sua estratégia. Aquilani e Montero, as duas novidades no onze, nunca foram capazes de ser tão intensos como Adrien e Teo, embora tenha pertencido ao italiano o primeiro grande momento da partida: a tentativa de chapéu ficou demasiado larga, as mostrou a classe que Aquilani respira. Antes, Alvalade tinha pedido contas, pela primeira vez, ao árbitro, depois da bola bater no braço de Hélder Lopes, após lance com João Mário (involuntário, parece-me).

Montero rematava fraco, de fora da área, Carrillo falhava o lançamento para Slimani e, pouco depois, demorava a arrancar num belíssimo livre de laboratório que o deixaria isolado. Isolado ficou Slimani, com o “bandeirinha” a decidir mal e a invalidar a jogada. O Sporting pegava definitivamente no jogo e, à passagem da meia hora, uma cavalgada de Jefferson e um ressalto na área deixam Ruiz na cara do guarda-redes. O tempo de decisão demora mais do que uma viagem de volta à Costa Rica e permite o corte temerário do central, quando Alvalade já gritava golo.

Por esta altura, Carrillo era já o homem mais da equipa e o único a conseguir agitar os assaltos à área adversária. Com total liberdade para flectir para o meio, o peruano ensaiava a sua cumbia e viria a ser compensado aos 40 minutos. Mais uma boa subida de Jefferson, inteligência táctica de João Mário (mais um bom jogo, cada vez mais adulto) alternando de posição com Ruiz e deixando o 20 solto na área. O centro atrasado levava Slimani como destinatário, mas acabaria por chegar aos pés de Carrillo que dispara sem hesitar. O mais difícil estava feito!
E, a um minuto do intervalo, novo caso: Slimani é tocado na área, quando tenta fazer-se à bola. Penalti claro, mas o argelino estava fora de jogo. Manuel Oliveira, que vinha fazendo vista grossa a todas as entradas dos jogadores pacenses, resolve julgar simulação e toma lá o primeiro amarelo. No fundo, um novo momento Mota. Fantástico.

Mas mais fantástica foi a entrada de Gelson em campo. Montero ficou no duche, Carrillo voltou a ter liberdade para ser o dinamitador de toda a linha ofensiva. E o puto, o nosso puto, ensaiou uma morna de rua, pregou dois defesas ao chão e viu a bola errar o alvo por centímetros. Brutal! Antes, logo aos dois minutos da segunda parte, Ruiz voltou a ser lento a responder ao lance criado por Jefferson e falhou novo meio golo. Na resposta, o primeiro contra-ataque decente do Paços, com o remate cruzado a sair ao lado da baliza do Rui.

Era o sinal do abrandamento de Aquilani. Aliás, custa-me a entender que Jorge Jesus tenha corrido o risco de ir prendendo o miolo, quando facilmente se via que o italiano já só jogava num curto raio de acção. Em resultado dessa incapacidade para recuperar, o Paços consegue colocar um jogador na cara de Patrício, que volta a ser enorme e defende com o pé. Lá vai Gelson novamente, tabela com Slimani, ganha a linha e coloca ao segundo poste onde Ruiz sobre ao segundo andar e volta a falhar (lá vão três oportunidades à conta do 20…). Depois, o lance: 63 minutos de jogo, mais coisa menos coisa, Slimani ganha uma bola em profundidade de Carrillo e é empurrado quando vai isolar-se. Dentro ou fora da área é a dúvida que fica, mas há uma certeza: era falta e era expulsão do defesa pacense (aliás, tanto assim seria, que o realizador do apito “perdeu” a oportunidade de mostrar o segundo amarelo ao Slim).

O jogo teria terminado nesse momento. Mas não terminou. O Sporting tinha a bola, agora já com Adrien em campo, mas o ritmo tinha baixado. Gelson e Carrillo iam tentando colocar bolas em Ruiz (tinha morrido) e em Slimani, o Paços não passava do meio-campo. Quando passava, por volta dos 80 minutos, a bola é cruzada para a área e o árbitro assinala penalti de João Pereira quando a bola já estava nas mãos de Patrício. Um filme tantas vezes visto em Alvalade, um balde de água fria, dois pontos perdidos, pese o assalto final, mesmo com dez homens, com Carrillo e Gelson, sempre eles, a criarem mais duas situações de golo. Último lance, livre a pedir toda a gente dentro da área. Manuel Oliveira, rapaz que depressa chegará a internacional (tal como o que esteve na luz há uma semana e que lá chegou ao fim de três jogos), não deixa marcar, achando que os patéticos três minutos de desconto em que dois foram queimados com gajos pelo chão, estão terminados. Jorge Jesus olha para o relógio e abre a boca, incrédulo. Habitua-te, meu. Aqui, colinho, só se for mesmo dos adeptos.