«Já sabemos que 1-0 não chega»; «Se não marcamos o segundo há sempre um lance que nos prejudica»; «Pusemo-nos a jeito»; «Já sabemos que temos que fazer duas vezes mais do que os outros».

A lista de frases não termina por aqui, mas continuá-la era fazer crescer em mil a escala de nervos que este tipo de observações me provoca. Ou seja, como se não me bastasse a azia de ter empatado a merda do jogo, em casa, com o Paços, ainda tive que levar com estas observações que banalizam mais uma jornada em que um dos senhores do apito resolve gozar com a nossa cara.

Sim, é verdade que isto acontece época após época. E não é menos verdade que, esta época, em quatro jogos fomos quatro vezes prejudicados: na Supertaça, com aquele golo anulado a Teo e a não expulsão de Sílvio; em Tondela, com o golo que nasce de um livre inexistente, de uma dupla mão e de um fora de jogo; na Champions, com dois penaltis por marcar contra o CSKA e, ontem, frente ao Paços, com a não expulsão de um defensor e, mais tarde, com a marcação de um penalti patético contra nós. Pelo meio, uma vergonhosa dualidade de critérios na amostragem de cartões.

Isto é novidade? Não, não é. Mas também não pode ser motivo para assumirmos esse fado e acabarmos a culpar os nossos jogadores, treinadores e dirigentes quando as coisas correm menos bem. Uma coisa é fazermos um jogo horroroso, não criar situações de golo, não correr, não honrar a camisola. Ou desperdiçarmos oportunidades atrás de oportunidades e só podermos queixar-nos de nós próprios. Outra, bem diferente, é dominar um jogo, criar oportunidades suficientes para ganhá-lo, concretizar uma delas e ver esse trabalho ir com o boda porque alguém assim o decide. Aconteceu ontem, podia ter acontecido em Tondela, podia ter acontecido com os russos e podia ter acontecido com os lampiões.

E, caso tivesse acontecido, lá voltaria a conversa: «Já sabemos que 1-0 não chega»; «Se não marcamos o segundo há sempre um lance que nos prejudica»; «Pusemo-nos a jeito»; «Já sabemos que temos que fazer duas vezes mais do que os outros».

282138_galeria_sporting_v_pacos_de_ferreira_liga_nos_j1_2015_16.jpgMas temos que jogar o dobro dos outros, porquê?!? As nossas vitórias valem seis pontos? Não? Então deixemo-nos de frases feitas e exijamos o que tem que ser exigido: que se acabem os favorecimentos a vermelhos e a azuis! Este deve ser o nosso foco, nem que seja uma guerra que se arraste por mais 10 ou 15 anos! Agora, achar normal que os outros vão amealhando pontos sem jogar a ponta de um corno, achar normal que apareça uma expulsão ou um penalti quando os outros estão à rasca, achar normal que nos dificultem todos os jogos e ainda nos lixem quando não conseguimos estar a ganhar por mais de um golo de diferença e achar normal que este jogo de bastidores ofereça internacionalizações a gajos que apitam duas ou três partidas na primeira liga, é algo que não me cabe na cabeça. E, deixa-me dizer-te, também não devia caber na tua.