william«Tinha apenas quatro dias a trabalhar no duro, de passar manhãs e tardes com um apito pendurado no pescoço, olhos postos nos jogadores, na equipa da qual acabara de tomar conta. Já o conhecia, e bem, de todas as vezes que teve de magicar formas de anular o que ele tem de bom. Mas nunca o vira treinar, sequer. Não importava, já que nem um segundo encravou antes de dizer: “Não tenho dúvidas de que, comigo, vai jogar mais”. Nada de sorriso, dentes à mostra, riso, era conversa séria e Jorge Jesus parecia estar seguro do que dizia. O problema é que só quase três meses depois de mandar esta farpa é que o tal que ia jogar mais se livrou de uma lesão. Foi preciso esperar para descobrir se JJ tinha mesmo razão.

Esperar até o dia em que se abriram as urnas, os portugueses enfiaram lá votos e o país continuou mais virado à direita do que à esquerda. Na primeira vez que houve futebol e eleições ao mesmo tempo houve também William Carvalho a ser titular pelo Sporting, esta época, no campeonato. E Jorge, o treinador, não tinha assim tanta razão, porque William, o trinco, continua igual — farta-se de pedir a bola, é ele que começa a montar tudo, é rápido a passá-la e raramente deixa que alguém a roube. Joga tanto como jogava e se os sprints a correr atrás de adversários ainda não lhe saem é porque quase nunca os precisa de fazer. William faz-tudo de agora é o mesmo William que antes já tudo fazia. A diferença não é dele, é ele que a cria no Sporting.»

por Diogo Pombo, in Observador