Quando, aos cinco minutos de jogo, os deuses do futebol decidiram colocar à prova a capacidade de reacção de jogadores e adeptos leoninos, poucos ou nenhuns arriscariam que o jogo ganharia os contornos que se seguiram. Jesus havia dado o sinal claro de que, afinal, a Liga Europa não é descartável, não dando descanso a jogadores fundamentais como Adrien, João Mário ou Ruiz, mas aquela traição em forma de ressalto que isola um adversário e resulta em golo deixava as contas ainda mais complicadas.

Mas como se isto fosse fácil não era para nós, a equipa como que nem sentiu o golpe. Aliás, não deixa de ser relevante que, no espaço de cinco dias, o Sporting se encontre em desvantagem bem cedo e continue no jogo nem dar sinais de nervos, de ansiedade ou de perder o foco no plano traçado. Chama-se a isto ser uma equipa cada vez mais adulta, mesmo aqueles que ainda têm idade de miúdos, como Matheus, o primeiro a dizer que o jogo estava longe de estar terminado com um remate para defesa do redes adversário. E como o futebol nos encanta pela sua imprevisibilidade, viria a ser Montero, tantas vezes acusado de falta de empenho na disputa dos lances, a conduzir a equipa rumo à reviravolta. Belíssimamente secundado por Adrien, João Mário e Ruiz, o colombiano colocou a classe ao serviço da equipa, jogou e fez jogar. E marcou, depois de distribuir jogo para Esgaio na direita e reagir mais rápido do que os restantes ao cruzamento que havia sido desviado por um defesa. Igualdade no marcador e, de novo, tudo em aberto.

A partir deste momento, só deu Sporting. 25 minutos de categoria, de concentração táctica, de capacidade de improviso. Gelson, na primeira combinação açucarada com Matheus, falharia a primeira oportunidade de virar o resultado, mas guardaria na memória a forma como Ruiz e Montero trabalharam o segundo golo, com o costa-riquenho a marcar com elevada nota artística (como foi bom ver Ruiz a assumir o seu estatuto de jogador tarimbado em competições europeias, não tendo problemas em assumir a bola sempre que era necessário). E foi com esse golaço na memória que Gelson arrancou para o 1-3: fantástico passe de Montero, arrancada fulminante e finalização em classe (uma cueca de trivela ao redes, meu!) do nosso menino que é demasiado grande para caber na capa de um jornal.

Ao intervalo, só sendo parvo ou comentador da SIC se poderia não sublinhar a excelência da primeira parte leonina, aproximando a equipa de uma vitória, mais do que histórica, fundamental para seguir em frente nas competições europeias. E para consegui-lo, seria necessário estar preparado para a entrada em força dos russos, procurando diminuir a desvantagem. Desta vez a carambola não resultou em golo (Esgaio fez tabela na trave para não ceder canto e Ewerton abafou a recarga como se fosse um “in your face” da NBA) e a equipa teve oportunidade de respirar e voltar a pegar na partida. Montero e João Mário ensaiaram jogar à rabia, Gelson arranca pela direita e tenta um golo impossível. Estava dado o mote para o que se seguiria, quando Gelson recupera uma bola, assume a posição de playmaker e isola brilhantemente Matheus. Este não treme frente ao redes adversário e volta a encher-lhe a cueca de classe.

Vitória assegurada, que podia ter sido ampliada depois de mais um momento algodão doce entre Montero e Ruiz. A bomba de Bryan seria desviada para o poste e os adeptos adversários fariam muito barulho ao minuto 70 (quando Fredy foi substituído, calma). No desligar dos motores ainda surgiria o segundo golo russo, nada que minimizasse aquilo a que se havia asssitido em Moscovo: uma chuva de estrelas. Verdadeiras. Verdes e brancas.