Era complicado na teoria, confirmou-se na prática. Num noite onde, lá para as bandas do dragão, o árbitro resolvia o que a falta de pontaria e o fraco futebol azul não conseguiam resolver, o Sporting entrava no Caldeirão dos Barreiros sabendo que teria que ganhar para não perder a vantagem no primeiro lugar. Do outro lado, um Marítimo que costuma vender caros todos os pontos disputados no seu terreno e que voltou a assumir esse papel de osso duro de roer.

Logo aos sete minutos, uma perda de bola de Ewerton provocava enorme calafrio junto à baliza de Rui Patrício, dando o mote para o que seria a partida: um jogo para gente crescida, capaz de estar concentrada durante 90 minutos e sabendo que o mínimo deslize poderia significar a derrota. Na área contrária, Montero, o homem que juntamente com William, João Mário e Ruiz forma o quarteto dos pés de quem a bola sai sempre redonda, tentava o remate cruzado de um ângulo complicado. Estávamos com dez minutos de jogo e os 20 que se seguiram foram os mais complicados para a turma de Alvalade. Sem conseguir estabilizar o ritmo da partida, o Sporting permitiu ao Marítimo ir crecendo e ir acumulando jogadas de perigo, nomeadamente em lances de bola parada. Num deles, depois de um desvio no coração da área, Marega surge solto ao segundo poste com tudo para marcar, mas Patrício mostra o porquê de ser o melhor guarda-redes cá do burgo e um dos melhores do mundo enchendo a baliza com uma defesa felina.

Aos poucos, o Sporting ia arrumando as peças e, à passagem da meia hora, ensaia o primeiro lion-taka: Montero, João Mário, Adrien, Ruiz, com o costa-riquenho a rematar para defesa de Salin e, na recarga, a acertar num defesa maritimista. Uma enorme oportunidade e a pedra de toque para a viragem na inclinação do tabuleiro de jogo. Adrien não chegaria a tempo de aproveitar um cruzamento de Gelson, mas a primeira parte terminaria com o Sporting dono e senhor dos acontecimentos. Aos oito minutos do segundo tempo, momento brilhante, numa jogada toda ela desenhada pela direita (veja-se onde vai surgir João Pereira), com movimento perfeito de João Mário a entregar de bandeja para a finalização, com classe, de Adrien. Golo, um enorme golo, resultando de um lampejo de classe num jogo onde se pedia fibra de Leão. E quem melhor que Adrien para materializar essa fibra em vitória?

Faltavam 35 minutos para a partida terminar e o Sporting tinha oportunidade de passar a jogar no erro do adversário, mas a indicação que vinha do banco apontava para o congelar da partida: Gelson dava o lugar a Aquilani e a equipa leonina assumia que ia entregar-se à luta para preservar a vantagem conquistada e que só por uma vez esteve realmente em perigo, quando Dyego Sousa obrigou Rui Patrício à segunda grande defesa da noite. As estrelas alinhadas, deixando brilhar quem sobre conquistar o seu lugar a pulso e que, mesmo assim, nem sempre merece o respeito dos seus próprios adeptos. Num jogo mais feio do que bonito, Rui, Paulo Oliveira e Adrien, rapazes que dividem opiniões, souberam ser, sempre, aquilo que permitiu trazer os três pontos da ilha: a fibra de Leão que arrefeceu o caldeirão e que, dúvidas existissem, confirmam um Sporting pronto para lutar até ao fim pelo desejo de ser campeão.