Nunca foi fácil ser do Sporting. Quer dizer, deve tê-lo sido por altura dos Cinco Violinos, mas eu refiro-me aos últimos trinta anos, décadas em que se foi cozinhando em lume brando a bipolarização desportiva em Portugal. Durante esse tempo, à medida que benfica e fcp iam dominando nas mais variadas frentes, o Sporting ia-se aconchegando ao papel de gigante adormecido. Tão adormecido e tão aconchegado que os adversários, com toda a falsidade que lhes era e é inerente, passaram a dizer que o desporto nacional fica mais pobre sem um Sporting forte nas mais variadas modalidades. Com o futebol à cabeça, claro está.

A falsidade e o tom de gozo era subliminados com o maldito aparecimento do conceito “clube-empresa”, com o desprezo por uma história única ao nível da modalidades, com a escolha de presidentes que mais depressa têm um ameaço de AVC ao darem uma grande tacada no green do que ao festajar um golo com as nossas cores. E para quem consiga ter passado por tudo isto a assobiar para o alto, nunca é demais recordar que o Sporting Clube de Portugal esteve perto de ter refundar-se face ao espartilho finaceiro em que, imagine-se, os Sportinguistas o deixaram. “Epá, ó Cherba, mas tu vens disparar para dentro ou para fora?”, poderão perguntar-me, ao que eu respondo que uma das coisas que mais me entristece e ver que aquelas que deviam ser armas comunicacionais de excelência para nos defendermos e contra-atacarmos são, diariamente, utilizadas por quem veste as mesmas cores para continuar a cultivar interesses pessoais ou para promover um discurso que promove a contenção e a moderação, as mesmas que nos deixaram literalmente na merda.

E todo este cenário, que me incomoda profundamente, voltou a desfilar em frente dos meus olhos na noite passada. Num canal privado, a SIC, um tal de Marques Mendes aproveitava o seu tempo de antena para assumir a propaganda pró-Vieira e para carregar nas mentiras que são ditas de forma tão natural como beber um copo de água: este negócio com a NOS coloca o presidente do benfica na galeria dos épicos e vai permitir-lhe acabar com o passivo do clube. Como se o dinheiro entrasse no clube de uma só garfada, como se o passivo não fosse superior a 500 milhões, como se… enfim, testas e testas a serem brindadas com gelado fesquinho e uma orda imensa de orcs a gritarem de felicidade. Depois, nesse mesmo canal, mais uma reportagem sobre um tal de Renato que, por este andar, acabará o ano como o futebolista que mais capas teve em 2015. E quando um gajo se farta e faz zapping, leva com uma promo da Champions, na RTP, o tal canal que se governa com o nosso dinheiro, que só pode ter sido escrita e realizada pela dupla Guerra e Gabriel (só não passou foi na btv). Esta merda, todos os dias, cansa. Revolta. E mostra-nos, claramente, que este país não é para Sportinguistas moderados.

Caso não te tenhas apercebido, já lá vai o tempo em que compravas um jornal desportivo escrito por pessoas sérias e capazes de disfarçar os imperativos editoriais manietados por cores clubísticas. A Bola assumiu-se, sem pudores, como o jornal do rei dos pneus, tendo em Delgado o porta-voz de toda a falta de ética jornalística que grassa no nosso país. O Jogo mandou às malvas a máscara do equilíbrio e assume-se como jornal oficial ao fcp. E o Record vive dividido entre a tentação de dar continuidade a anos de Queridos e de Manhas ou de aceitar ser o único a dar voz a quem tenta desmontar o sistema. E nem vale a pena passarmos aos generalistas, ou vale? Correio da Manhã, DN, Público, qual deles o mais empenhado em mostrar que não é só o equipamento da selecção que procura rebaixar o verde para fazer brilhar o vermelho.

Caso não te tenhas apercebido, já lá vai o tempo em que conseguias falar de futebol com os teus amigos sem que a conversa seguisse outro rumo que não o do futebol jogado nas quatro linhas. Esquece essa merda. Até porque se tiveres amigos do benfica eles vão ser capazes de dizer-te que o Tonel fez penalti de propósito e tu vais ficar à beira de perder uma amizade face à vontade de lhe dares uma cabeçada (só para limpares o gelado da testa, claro). É triste, mas conseguiu-se promover o futebol que não é futebol, sendo Portugal um dos porta estandartes dessa miserável forma de estar. Os 15 ou 20 programas de paineleiros são tudo menos programas de debate futebolístico e a única utilidade que têm é a de fazerem-nos ter a certeza de que, ao contrário do que acontecia há 30 anos, qualquer puto Sportinguista deixou de precisar de imaginar como funcionam os bastidores mafiosos do nosso futebol. Afinal, está ali tudo, sem qualquer pinga de decoro. Diz-se o que se quer, manipula-se a informação, envenena-se a opinião pública. Mata-se o futebol aos poucos, mas que se lixe se for esse o caminho para a bipolarização. São as chamadas “agendas”.

O que não estava previsto nas agendas era que, de um momento para o outro, o Sporting, o tal acomodado ao seu papel de gigante adormecido, resolvesse espreguiçar-se e, com isso, fazer abanar o tabuleiro do jogo. E é por isso que, caso não tenhas reparado, este sistema 2.0 que rege o desporto em Portugal esteja a ser diariamente reprogramado para atingir o mesmo alvo. E, face a isto, tens duas opções: ou continuas a assobiar para o lado e és engolido, ou lutas e respondes com as armas que tens. Até te dou de barato que possas não querer entrar em discussões acesas, mas há um mínimo que podes fazer: faz-te sócio do Sporting. Não podes? Assina o jornal! Não podes? Faz like no facebook oficial! Não tens facebook? Segue o teu clube no Linkedin! Não tens? Usa o Twitter! Não usas redes sociais? Deixa de assinar a SportTV! Não és assinante? Boa. Agora deixa de alimentar os diários desportivos com o teu dinheiro e os teus cliques. É à borla no café? Então desmascara toda a propaganda que veiculam! Isso vai dar confusão no café? Estás a ver o que eu estava a dizer-te: este país não é feito para Sportinguistas moderados. Quanto mais depressa o entenderes, mais próximo estarás de poder ajudar o teu clube num momento da história onde, como se acaba de ver com o regresso da equipa de ciclismo, podemos esperar todas e quaisquer movimentações vindas do esgoto. E que é impossível estagná-las e combatê-las sem estar disposto a aguentar o cheiro e a caminhar no meio de tudo o que te repugna e revolta.