Após a aprovação do prolongamento das VMOC’s, a máquina de propaganda lampiã veio logo a terreiro berrar sobre perdões de dívida e concorrência desleal. Sobre isso, falarei mais à frente. Para já, vou apenas falar do acordo que o Sporting assinou com a banca e desmontar este chorrillho de disparates da propaganda.

Em primeiro lugar, é preciso perceber o contexto em que as VMOC’s foram contraídas. Hoje parece mentira mas não é, quando Bruno de Carvalho pegou no clube, o Sporting era um clube tecnicamente e realmente falido, com um passivo acima dos 400M, com os activos desportivos completamente desvalorizados, sem património imobiliário e com um resultado financeiro negativo em mais de 100M no último exercício conhecido. O que significa que o clube não tinha liquidez  para amortizar a sua dívida e juros associados e, pior do que isso, naquelas condições nem sequer tinha capacidade para crescer para poder pagar os seus compromissos. Recordo que o que estava em cima da mesa era um PER. Ora, neste contexto, nem interessava à banca sustentar este “mono” tal como  não estava nos planos do recém eleito Bruno de Carvalho gerir um clube sem o mínimo de condições de sobrevivência. Como tal, era urgente reestruturar o clube, sobretudo a sua enorme e pesada dívida.

Entendido o contexto e o interesse quer da banca quer da direcção em relançar o clube, qualquer acordo de reestruturação minimamente exequível teria de contemplar cedências de ambas as partes. Resumidamente, aquilo que o Sporting queria era mais tempo e menos juros para poder “respirar” e aquilo que a banca queria era cortar com o financiamento e livrar-se das obrigações inerentes a uma gestão caótica somando a isso uma perspectiva real de receber o dinheiro que emprestou. Objectivamente, cada um obteve o que queria. Desde o dia em que se assinou a reestruturação do Sporting, a banca nunca mais meteu um cêntimo no clube e o clube teve de aprender a viver com o que tem.  Neste sentido, foi um bom negócio para ambos e foi por isso que assinaram o acordo. Aqueles que pensam que isto foi feito à base de favores ou de caridade, que perguntem à banca se hoje não sente que tem mais e melhores perspectivas de receber o dinheiro que emprestou  e se, durante a execução da reestruturação que ainda ocorre, não foi paga mais dívida do que seria no caso de nada ter sido feito. Acho que a resposta é óbvia.

Ora, onde é que a propaganda do Estado Lampiânico se espalha ao comprido? Precisamente quando fala das VMOC’s sem referir o que o Sporting teve de fazer para beneficiar desse mecanismo. E porquê? Porque, como qualquer chico-esperto, o líder do EL, através da sua máquina de propaganda, brada aos céus que gostava de ter as benesses nos juros mas nem se atreve a sentar à mesa com os credores porque sabe que isso implicaria um sacrifício que ele não está disposto a fazer. E que sacrifícios são esses? Bom, em primeiro lugar (e só isso faria o Orelhas fugir como o Diabo da cruz) seria a nomeação de representantes da banca na administração da SAD o que implicaria um escrutínio constante dos negócios e das contas do clube. Depois, seria um corte de despesa sem precedentes que obrigaria a despedimentos em massa, revisōes salariais em baixa, redução no consumo, basicamente, teria de pegar em tudo o que fosse despesa e cortar ou reduzir a eito. De seguida, teria de reduzir drasticamente o investimento em jogadores e realizar receitas com vendas de activos, fossem eles importantes ou não. E ainda teria de entregar à banca uma percentagem da venda de todos os jogadores vendidos e implementar um tecto salarial. Entre muitas outras coisas. O que é que isto implicaria? Assumir, sem rodeios, que não iria lutar pelo título durante um período indeterminado. A questão é: estaria o Orelhas disposto a isto tudo? Se sim, então em vez de intoxicar a opinião pública com mentiras que se faça à estrada e se reúna com a banca. Sendo ele o fantástico negociador capaz de passar entre os pingos da chuva com uma dívida pessoal superior a todo o passivo do Sporting, não tenho dúvidas que teria as mesmas condições que o Sporting teve. Senão, que continue a fazer as negociatas com o Mendes e com o Atletico de Madrid e a pagar, praticamente todo o orçamento do Sporting para contratações em 50% do passe de um avançado suplente. Não dá para ter o melhor dos dois mundos, ou seja, obter benefícios bancários sem fazer os sacrifícios.

Foi precisamente isso que o Sporting fez em 2013. Apertou o cinto, reduziu os custos com pessoal em mais de metade, despediu pessoal, reviu salários, reduziu o consumo (a ponto de poupar até nas fotocópias, segundo se disse na altura), teve de vender os activos mais importantes como Bruma, Ilori, Rojo, ou Dier (no primeiro ano obteve cerca de 20M em vendas) teve de desencantar pechinchas como Slimani, Maurício, Jefferson ou Montero (no primeiro ano investiu pouco mais de 3M) e teve de apostar em miúdos como William, Mané, João Mário, etc. Pior do que isso, teve de assumir perante uma massa associativa sedenta de troféus que o objectivo era “fazer mais com menos”, o que, trocando por miúdos é o mesmo que dizer “esqueçam o título”. Esta é a parte da história que a máquina de propaganda do Estado Lampiânico se esquece de contar. E agora dizem que estão em estratégia de “desinvestimento” (pausa para rirem) depois de gastarem quase 30M em jogadores (e continua a contar, já que parece que está a caminho novo camião de sérvios). Reparem bem no contraste, o Sporting quando assumiu a contenção gastou cerca de 3M, o Carnide quando diz que está em “contenção” (pausa para rirem) gastou 30M. É só 10 vezes mais. Coisa pouca.

A grande azia do Carnide foi ter verificado que o período de contenção do Sporting coincidiu com uma brutal melhoria dos resultados desportivos algo que parecia impossível à partida. Ir directamente à Champions no primeiro ano e conquistar a Taça no segundo foi a prova de que vale a pena começar de novo. Também é verdade que o Sporting beneficiou com a incompetência dos Fruteiros no primeiro ano e com a incompetência do Braga no Jamor somadas, obviamente, a uma exigência e mentalidade diferentes que BdC implementou no clube. Mas disso, nem o Sporting nem a banca têm culpa. Como se diz, a felicidade dá trabalho e no caso do Sporting deu mesmo muito trabalho. Aliás, ainda está a dar. Trabalho esse que permitiu o clube partir para um terceiro ano como um sério candidato ao título, investindo mais e melhor (em qualidade, não tanto em dinheiro) e desferindo um golpe de génio ao rival contratando o seu melhor activo. E o clube que, num passado muito recente, estava moribundo hoje já faz contratos de 500M, um negócio que cobre todo o passivo do clube e ainda sobra para o tabaco. O clube cresceu, passou a ter resultados líquidos positivos, as receitas aumentaram e a capacidade para cumprir as obrigações também aumentou. E olhando para a evolução da SAD do Sporting durante 2 anos e meio, imagino que a banca não esteja arrependida do acordo que que fez há 3 anos.

O que está, então por trás desta manobra de diversão do EL (Estado Lampiânico)? Simples, por um lado  é a incapacidade ou falta de vontade de assumirem os riscos de uma reestruturação desta envergadura numa altura em que o Grande Líder está tão perto de ir a votos e, por outro, é a azia de ter de validar uma estratégia de um dirigente que tanto menosprezam. Não tenhamos ilusões, que o rival necessita dela como de pão para a boca parece-me óbvio, o problema é que está constantemente a adiá-la porque sem títulos o povo começa a olhar para outras coisas que convém manter escondidas, como os negócios pouco transparentes e as relações pouco claras com empresários  como Jorge Mendes e a sua tríade de clubes satélite com os quais o o Carnide tem “relações privilegiadas”.

Posto isto, quem fala de concorrência desleal provavelmente não sabe do que está a falar. Cada clube tem as suas próprias forças, fraquezas e circunstâncias que qualquer parceiro avalia individualmente antes de se comprometer. A capacidade de pagar dívida é uma delas. E se o passivo do Carnide continua a aumentar depois de 6 anos a vender jogadores como gente grande, isso diz muito da capacidade ou mesmo vontade que têm em pagar dívida. Por mais lunático que BdC seja, acho que ele não foi armado para as reuniões e suponho que quem estava do outro lado da mesa não eram propriamente amadores nestes assuntos. Volto a repetir, perante as circunstâncias de 2013, o acordo assinado foi ao encontro dos interesses das partes, só por isso é que foi assinado. E as circunstâncias actuais validam por completo esse acordo. Aliás, a recuperação do Sporting devia figurar como case-study de gestão de uma organização completamente falida que, em menos de 3 anos, melhora substancialmente todos os seus rácios de produtividade sejam eles de ordem desportiva ou financeira.

É esta a essência do EL. Um manto de bazófia e mesquinhez. O seu modus operandi é facilmente desmontável: Primeiro, definem uma premissa como “somos os maiores”, “sustentamos o futebol português”, premissa essa que na maioria das vezes ou é falsa ou sem sustentação. Depois, definem decretos baseados na premissa que estabeleceram anteriormente como por exemplo, “temos de receber mais que os outros” ou “vamos secar o mercado e “não vai sobrar nada para os rivais”. Por fim, quando confrontados com a realidade de um concorrente atingir metas e objectivos equiparáveis ou mesmo superiores aos seus, espumam de raiva e começam a atacar, como por exemplo, “é concorrência desleal!” ou “estão a perdoar-lhes a dívida!”. Tudo isto é deplorável e representa o que pior existe num ser humano: bazófia e mesquinhez. Mas o pior, meus amigos, nem é isto. É a pura e completa HIPOCRISIA com que falam deste assunto, comprovada aqui:

http://misterdocafe.blogspot.com/2016/01/estado-lampianico-vmocs-concorrencia.html

Sinceramente, gostava de conhecer o conceito que o EL tem de “concorrência leal”. Se calhar passa por controlar a arbitragem oferecendo jantares aos árbitros, delegados e observadores.

 

* todas as sextas, directamente de Angola, Sá abandona o seu lugar cativo à mesa da Tasca e toma conta da cozinha!