É um empate que sabe a derrota. Ponto. Mas não é o fim do mundo nem altera dois factos: continuamos a depender apenas de nós para sermos campeões; não há margem para vacilar.

Claro que este pensamento foi bem diferente na viragem do ano, reforçado pela contundente vitória sobre o fcp e pela goleada em Setúbal. Olhava-se para o calendário e viam-se quatro jogos em nossa casa, mais uma saída a Paços, e os adeptos faziam contas à conquista de 15 pontos que nos fariam chegar à jornada do clássico em condições muito vantajosas. A verdade é que voaram quatro desses desejados quinze pontos, os últimos dos quais ontem à noite, permitindo que o rival mais próximo, benfica, eliminasse a distância que nos separava.

Frente a um Rio Ave com a lição bem estudada e com cavalos de corrida que, mais do que serem avançados, se preocuparam em impedir-nos de construir jogo a partir de trás, o Sporting mostrou-se desinspirado desde cedo. Muito passes falhados, muita sofreguidão na tentativa de chegar à baliza adversária. Ao contrário do que já li, não me parece que tenha sido um problema de atitude. Com mais ou menos erros, todos os que estiveram em campo correram e lutaram, não o fizera foi da melhor forma. Depois, como cereja no topo do bolo, não fomos capazes de materializar e golo as oportunidades que criámos: Ruiz foi mais lento a desviar do guarda-redes do que este a sair-se; Adrien chegou já cansado para rematar a bola que ele próprio tinha recuperado no meio-campo; Coates e Teo falharam a emenda na sequência de um canto; João Mário esteve quase a inventar um dos golos do ano e, já na segunda-parte, Slimani falha de cabeça aquilo que não costuma falhar (ao segundo poste, sozinho, atira por cima). Cinco oportuniades claras de golo, às quais respondeu o Rio Ave com um jogador isolado e um cabeceamento na sequência de uma bola bombeada para a área, ambos abafados por Rui Patrício.

E foi a partir desse cabeceamento de Slimani que a equipa começou a perder ideias. Faltava meia-hora, mais coisa menos coisa, e o que se seguiu foi um festival de anti-jogo misturado com tentativas (cada vez mais com o coração do que com a cabeça) de tentar chegar ao golo. A posse de bola aumentava, o esférico circulava de um lado para o outro, mas esta seria uma noite em que, ao contrário do que tinha acontecido num passado recente, Alvalade não conseguiria embalar os seus guerreiros para a vitória ao cair do pano (e que grandes adeptos voltámos a ser). Haveria um golo (bem) anulado a Coates e ficaria no ar a sensação de que não havia necessidade de se terem feito tantas mexidas numa equipa que vinha dando boa conta do recado (pessoalmente, custa-me engolir a titularidade de Teo em vez de ser dada uma oportunidade a um Mané em crescendo e tenho alguma dificuldade em perceber como não se deita mão a um chuta chuta num jogo onde te falta meia distância).

Os próximos tempos dirão se a equipa está e quebra ou se quebrou e agora voltará ao que já nos habituou. Até lá, saibamos nós digerir uma noite de carnaval que é para levar muito a mal e um empate que sabe a derrota, mas que não altera dois factos: continuamos a depender apenas de nós para sermos campeões; não há margem para vacilar.