O Joaquim saiu do estádio calado. Mais que calado, mudo. Estava tão lixado com o que vira que nem sequer conseguia acreditar. Não lhe apetecia sequer olhar para a multidão de verde que o acompanhava, ouvia risos e gargalhadas e aquilo ainda o punha mais furioso, apetecia-lhe dizer a essa malta “Vocês são uns palhaços pá! Acham piada a esta merda?!”. Não o fez, sabia que não o podia fazer. “Nem todos são doentes como eu…se calhar eu também devia rir-me desta vergonha, desta merda de jogo” pensava enquanto enfiava à bruta o cachecol no bolso do casaco. Não cabia, mas o Joaquim não ligou a esse detalhe, se pudesse enfiava todos os cachecóis daquela multidão no traseiro do Slimani ou do João Mário. “Caralho pá…merdas de fintinhas e…bolas lá dentro?! Isso é que era! Venderam o Montero não é?! Se calhar tinha hoje dados os 3 pontos…foda-se!”.

Ao chegar ao carro, parou e respirou fundo. “Foda-se…!”. Não conseguia ainda acreditar que ia do Campo Grande para casa com 1 ponto. Sem a liderança que imaginara. Sem “meter o porto” a 8 pontos! “Foda-se…era hoje caralho! Hoje tínhamos de ter ganho pá!” Ligou o carro e começou a viagem, mas a cabeça ficou estádio…ficou lá…em 90 e tal minutos de puro sofrimento, com verdadeiros sustos salvos por Patrícios e festas por fazer nos pés de Ruiz ou na cabeça de Slimani. “Porra pá! Era o Rio Ave…aqueles merdas pá! Como não conseguimos ganhar a um miserável Rio Ave?!”. O carro chegou, quase por conta própria a casa. O Joaquim meteu a chave à porta e quase que conseguia ver as caras de piedade da família à sua espera. Tentou imaginar a melhor frase para despistar a frustração com que vinha e só lhe ocorria um corriqueiro “É assim…é a vida”. Abriu a porta, pendurou o casaco e retirou o cachecol do bolso…foi ao quarto e meteu o cachecol na gaveta do costume. Ganhou balanço e entrou na sala.

“E então Joaquim?” ouviu ainda mal tinha olhado para a mesa de jantar. Pensou…não saiu nada. Sentou-se e olhou para a mulher e…lá estava…o “ar de pena” que receara enfrentar. Olhou para ela e encolheu os ombros. Olhou depois para os filhos e estes a sorrir procuraram entender o que sentia o pai. Joaquim estendeu o braço e despenteou um e depois o outro, sorriu e disse: “Vocês vão-se preparando…em Maio vamos à festa!”

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca