Há quem diga que a última semana foi complicada. Eu sorrio e pergunto: «não te lembras dos últimos anos?». Obviamente que não há forma de esconder o desconforto, a azia ou a irritação causada pelo facto de termos deixado de estar isolados na liderança. Mas transformar isso num momento de desespero, recuperar máximas que transformaram o fado num símbolo do país ou falar em filmes já antes vistos é (é é bom que metas isso na cabeça) tornar vazio de sentimento aquele grito que, a cada semana, sai da alma: «nós acreditamos em vocês!»

Claro que é fácil de perceber que o receio invada vários espíritos leoninos. Todos sabemos da importância que tem a conquista de um título para a estabilidade de um clube que se apresenta cada vez mais equilibrado, cada vez mais seguro de si, cada vez mais incómodo para os outros. E é aí que a questão afunila e deve ser aí que tu deves perceber o quão bom é ser adepto do Sporting. É um mar revolto? É. Mas, caraças, olha-te ao espelho de manhã e diz a ti mesmo de que clube és. Aposto contigo que o que seguirá será um turbilhão que te levará a sorrir no final.

Se pensares bem, o facto de estar-se a acabar o tempo do hipócrita “fazia falta um Sporting forte ao futebol português”, foi a melhor coisa que podia ter-nos acontecido. E, não, não estou a falar de estar mais perto de vencer e de deitar por terra, mais uma vez, as teorias de que há muitos adeptos de determinadas cores. Estou a falar-te de colocar a descoberto toda a máquina que move este pardacento futebol português. É verdade que a máquina mudou de “padrinho”, apesar do antecessor continuar a tentar mover as influências que ainda tem pelos corredores (veja-se aquele hino à falta de vergonha que foi a repetição daqueles minutinhos lá na Choupana, onde jogaremos esta noite). Mas não é menos verdade que é uma máquina que utiliza esquemas antigos: as ameaças a líderes federativos e da Liga (Rui Costa, não te esqueças que, hoje, há sempre um telemóvel ligado), o empréstimo de jogadores a clubes cirurgicamente escolhidos, o truque de magia de ir jogar a algum lado e só por pisar a relva deixar no ponto os problemas de tesouraria do anfitrião.

Mas a máquina foi afinada e colocaram-lhe uma peça importantíssima: a comunicação social. Não há volta a dar, está minada. E isso permite ao padrinho chegar com muito mais força a muito mais gente (e “raisparta” se o tombo não há-de ser infinitamente maior) o que, consequentemente, também afecta os espíritos dos leões e leoas mais ansiosos e mais pessimistas. Não deixa de ser um trabalho de excelência a capacidade de continuar a acusar o presidente do Sporting de ser um “falcatrueiro” quando o padrinho já foi preso e espetou um calote de mais de meio milhão. Não deixa de ser um trabalho de excelência conseguir, semana após semana, capas que tenta inflacionar o valor dos jogadores, mesmo que não tenham  fato de gala vestido (já agora, o Guedes continua escondido? É que já não há quem se lembre de ir vê-lo). Não deixa de ser um trabalho de excelência conseguir transformar um puto com potencial na última coca cola do nosso futebol, esquecendo que a primeira imagem que o destaca é estar a cuspir em direcção a Octávio Machado ou entrevistado todos os que transformam as constantes faltas do rapaz em momentos de inexperiência e entusiasmo.

Depois há as contas, essas contas que quando são assunto verde e branco não podem deixar quem quer que seja dormir descansado, mas que são fantásticas quando se atravessa a segunda circular, até porque a renegociação do contrato com a NOS dá para pagar a barbaridade que se ai pagar ao Carrillo (o que se diria e escreveria sobre um contrato destes em Alvalade?) e chuta para a caixinha do silêncio os 3,5 milhões gastos num craque argentino que foi recambiado para o Dubai (e, aqui, não esquecer o trabalhinho lambe escrotos do jornal O Jogo na defesa do ex-padrinho, o tal que negoceia direitos televisivos dele e dos outros, e no disfarçar os milhões gastos no Osvaldo ou nos 60% do passe de um tal Adrian Lopez). A propósito de caixinha… já comia qualquer coisa. Mas tanto eu como tu podemos estar à mesa de cabeça erguida de orgulho, não porque és uma das cabeças do sistema, porque mandas na arbitragem, porque te meteram qualquer coisa nos entrefolhos e te colocam na capa de um jornal desportivo diário a defender o clube do padrinho. Acho que, por esta altura, já percebeste o cenário, certo? Não preciso de falar dos Guerras, do Gosmas, dos Diamantinos, dos Janelas e de tantos outros que inquinam opiniões de forma que provoca vergonha alheia, pois não? Nem preciso de continuar a desenrolar este lençol que tem mais nódoas do que o de uma pensão de beira de estrada, certo?

Escuta, saber lidar com tudo isto só tem que tornar-nos mais fortes e cada vez mais espertos no sentido de perceber o que, efectivamente, é importante (como a renovação com dois dos nossos melhores jogadores, ainda por cima formados em nossa casa). A tal semana que pareceu demasiado complicada não mudou o que quer que seja. Tal como, após a derrota com o União, dependíamos apenas de nós para regressar ao primeiro lugar e continuar a lutar pelo título (já agora, não te esqueças com quem o estavas a disputar nessa altura), também agora dependemos só de nós. E quando digo nós falo de equipa e de adeptos. Hoje, como há muito não se sentia, caminhamos lado a lado, cada um fazendo o seu papel, seja em operações mais simples, como uma votação para melhores adeptos que leva o Eurosport a escrever «Eurosport UK: This is getting ridiculous now @SportingCP_en!», quando deixamos os outros a quase 100 mil votos de distância, seja em momentos como aquele recente 0-2 em Alvalade, frente ao Braga, transformado em 3-2. Há o cântico que nos eriça a juba a cada início de jogo, há as tarjas espalhadas pelo mundo a pedirem o Sporting Campeão, há um banho de adeptos antes da partida e à chegada à Madeira. Há, no fundo, algo que nunca deves esquecer: é infinitamente maior o que nos une do que aquilo que nos separa. O Sporting. O meu. O teu. O nosso. Sempre!