«Sendo campeão, não apaga tudo, mas é capaz de amenizar um pouco todo este burburinho. Caso contrário, o burburinho é capaz de aumentar». A frase é de Miguel Paim e, com exactamente estas ou com palavras semelhantes, ficou-me retida no pensamento desde o momento em que foi proferida.

Importa dizer, desde já, que este não é um texto para atacar Paim ou quem quer que seja, muito menos para criticar quem resolve jantar com outros Sportinguistas para analisar o clube do ponto de vista que lhe parece o mais acertado. Também não serve para mandar para a fogueira todos os que discordem de uma, cinco ou dez medidas da actual direcção, até porque esta coisa de ir ficando mais crescidinho já me fez perceber que, ao contráro do que o meu lado utópico insiste em fazer-me acreditar, dificilmente teremos uma nação verde e branca a rugir para o mesmo lado (talvez se formos campeões nove vezes em dez anos). A questão não deve ser posta de uma forma “estás comigo ou estás contra mim” e sou totalmente adepto de pessoas que pensam pela própria cabeça e que, com isso, procuram a crítica construtiva sempre no sentido de tentar melhorar e engrandecer o Sporting. Felizmente, a maioria dos adeptos que conheço cabem nesta categoria.

A questão é que, infelizmente, também existe muito boa gente que continua a olhar para o dia-a-dia do Sporting como uma feira de vaidades, como uma escadaria para a glória pessoal, como uma ida ao estádio em que o jogo é visto na tv do restaurante da zona vip, não só porque a comida está incluída no convite, mas, mais, porque é esse o local para mover influência e trocar cartões pessoais. E, com isto, chegamos a uma semana tão importante e somos verdadeiramente cilindrados com notícias e com decisões de tribunais que parecem ter sido cirurgicamente conciliados (é só coincidência, claro).

Claro que um Sportinguista que se preze já está habituado a sentir-se parte do desembarque na praia do filme Soldado Ryan, mas aquilo que incomoda mais do que as bombas a caírem ao redor é olhar em volta e ver que existe quem sorria face a esta situação e que a aproveita para fazer crescer o eco destes ataques. É olhar para o lado e ver Leões que, quando lhes dizes para correr, tentam bater as asas e que, quando lhes dizes para rugir, parecem cuspir fogo (vá, isto não era uma piada fácil ao facto do Rui Barreiro ter passado a assinar artigos de opinião no jornal O Jogo).

E, com isto, o burburinho aumenta e o grande objectivo é atingido: a confusão e a dúvida instala-se entre os Sportinguistas, alimentada por parangonas jornalísticas. É triste constatar, por exemplo, a prontidão com que a comunicação social portuguesa aplaude “as vitórias da Doyen”, a mesma que, um pouco por todo o mundo, tem sido derrotada e tem ficado associada a diversos escândalos lesa-futebol. Importa lá se é um clube português em guerra com um fundo que já se percebeu como funciona, importa lá se essa luta do clube português é elogiada e aplaudida internacionalmente; importa, isso sim, atacar o Sporting em favor de uma empresa offshore sediada em Malta. E para quem acha que o Sporting devia era pagar e calar, seria bom pensar que existe um recurso em marcha e que devemos levar a defesa do mesmo até final (já agora, para que conste, eu continuo a achar que o que se fez em relação à Doyen foi um acto de gestão lúcido e pensado à luz das necessidades do clube nessa altura. E, imaginando que até viremos a pagar, continuo a aplaudir o movimento que nos atirou a despesa para uma altura em que podemos pagá-lo sem ficar com a corda na garganta).

A propósito de dívidas, derrotas em tribunal e, como alguém atirou para a capa de um pasquim, o risco iminente de falência, seria bom que os Sportinguistas parassem um pouco para pensar que todo este burburinho surge na sequência da divulgação dos números dos milhões que o benfica dispendeu em “comissões” com as transacções de jogadores. E o que é que isso nos mostra? Que do total de vendas de 212 milhões de euros, o benfica apenas viu entrar no clube 130,7 milhões, ou seja, mais de 82 milhões foram gastos em compromissos com terceiros, gastos com serviços de intermediação e valor liquido contabilístico do direito do atleta à data de alienação, valor correspondente a 38% das vendas.  Por exemplo, em termos líquidos, o Benfica apenas encaixou 300 mil euros com Garay e deu-se ao luxo de pagar comissões superiores a 5 milhões de euros com dois jogadores da formação (Bernardo e Cancelo) dos quais detinha 100% do passe.

E a propósito de passes, também seria bom que os Sportinguistas mais incomodados com todo este burburinho financeiro, se lembrassem de dois pormenores curiosos: o Sporting tem vindo a recuperar a percentagem dos passes dos seus principais atletas e, apesar do presidente Bruno de Carvalho já ter manifestado publicamente o seu comprometimento com a não venda de alguma das jóias da coroa leonina, a verdade é que o encaixe financeiro resultante da negociação de um desses jogadores será almofada suficiente para abafar os nelinhos e todos os arautos da desgraça. Os mesmos arautos da desgraça que fazem subir de tom o burburinho para fazer esquecer, por exemplo, os passes de três mãos cheias de jogadores do benfica (incluindo o vou para Manchester mas já não Vou Gaitan) que foram usados como garantia bancária. Os mesmos arautos da desgraça que fazem subir de tom o burburinho para fazer esquecer os constantes empréstimos obrigacionistas que são uma constante bomba relógio no universo do esseElBê (o que vale é que vão renegociar com a Nos e fica tudo resolvido antes do Vieira emigrar para o Brasil). Os mesmos arautos da desgraça que fazem subir de tom o burburinho para fazer esquecer que o fantástico projecto de formação está em risco de cair na terceira divisão, depois de mais tempo a ser injectado que as nádegas do cometa Sanches.

Mas sabem o que me faz sorrir no meio de tudo isto? Não, não é ser um tolinho que acha que tudo o que se passa em Alvalade é perfeito, muito menos é ser um tolinho que acha que deve atirar água benta a tudo o que a nossa direcção decide. O que me faz sorrir é que, pese todo este burburinho, há um burburinho que não pára de crescer de semana para semana. É aquele burburinho que enche estádios que não são o nosso e transformam o nosso num estádio quase cheio seja contra que adversário for. Pois é, pessoal. Continuamos a desembarcar na praia, com bombas a cair a toda a volta, mas, caraças, por cada um que parece bater as asas vejo dez que fincam as patas no chão. Por cada um que cospe fogo, vejo dez a rugir. E é este burburinho bom, são, capaz de desmistificar e desarmar rumores e armadilhas, que os deixa loucos de raiva. E que, a nós, nos faz ficar loucos da cabeça. Porque o Sporting vai jogar e porque temos a certeza que, independentemente do desfecho deste campeonato, entraremos no próximo com uma dinâmica de grupo cada vez maior e cada vez mais fortes (a propósito, para clube falido, que raio de ginástica a nossa que nos permite estar em vias de fechar o plantel para a próxima época ainda antes da actual estar terminada…).