Acabaram as dores de crescimento. Acho que poderemos oficialmente enterrar esta expressão e todos os desgostos que sofremos com esta. Não nos enganemos, os nossos dois últimos treinadores foram vítimas de um Sporting que crescia, que se espreguiçava face aos anos de adormecimento, que tentava com tostões voltar ao topo do futebol português e que se reerguia perante a incompetência e o desaparecimento dos valores do clube. E essa imaturidade custou-nos pontos, custou-nos títulos e jogadores, mas fez com que o clube voltasse ao trilho da responsabilidade e voltasse a motivar a sua massa adepta.

A conquista da Taça de Portugal em Maio de 2015 fazia adivinhar um Sporting finalmente pronto pela luta pelo título e disposto a amealhar mais prata, mas as dúvidas em torno da Liga dos Campeões faziam soar alarmes na manutenção das peças chave da equipa e nas contratações que chegavam.

Nenhum de nós saberia que passado uma semana estaríamos a contratar Jorge Jesus e com ele chegariam jogadores de calibre, como Bryan Ruiz, Teo, Aquiliani ou Naldo, para além de mantermos grande parte da estrutura que Leonardo Jardim começou e que tanto nos tinha vindo a orgulhar.

A promessa era simples, e finalmente tinha pernas para andar: O Sporting vai meter-se na luta entre Benfica e Porto e ser um verdadeiro candidato ao título, coisa que não tínhamos sido com Marco Silva nos comandos.

A promessa foi cumprida. Em Janeiro seriam poucos os sportinguistas que não acreditariam que o campeonato seria nosso, 14 anos depois, pela quantidade de tempo que estivemos na frente do campeonato e por apresentarmos o melhor futebol. Mas a história agora é muito diferente, e está na altura de colocar a hipótese que mais nos dói neste momento: e se não ganhamos?

A primeira preocupação é, claro, a Liga dos Campeões. Como vencedores do campeonato seríamos o pote 1, como segundos arriscamo-nos a ser pote 3 e apanhar pela frente 2 tubarões que nos impossibilitarão de seguir em frente. Isso são menos pontos para o ranking, um ciclo vicioso que vamos ter muitas dificuldades em quebrar.

Depois, o facto do Benfica conseguir amealhar o tricampeonato, algo que faz adivinhar um novo ciclo no futebol português, já completamente dominado pelo vermelho, e que só ganha força com o acumular de campeonatos. O Benfica controla calendários, árbitros, clubes de fim de tabela  e a imprensa. Com 35 títulos no seu curriculo, mais difícil será colocarmo-nos no centro do poder e expor os meadros do mesmo. Porque em Portugal, quem ganha tem sempre razão, quem ganha é sempre melhor e quem ganha chega ao ponto de ser intocável. Até que se inicie outro ciclo e a coroa seja trocada.

Por fim, claro, a questão psicológica que se vai abater entre jogadores e adeptos. Este título era muito desejado, estamos o mais perto possível desde que em 2006 Paulo Bento o perdeu por 2 pontos, não temos estado habituados a lutar até Maio, e a perda seria sem dúvida um momento triste na história do Sporting e uma injustiça para o melhor plantel do campeonato.

Aconteça o que acontecer, já só teremos duas semanas para aproveitar este Sporting, e aconteça o que acontecer o clube e os adeptos têm de entender que perder faz parte do jogo, e que o campeonato foi disputado com classe do princípio ao fim.

86 pontos. Isso mesmo, 86 pontos. O recorde nacional e da história do clube, os pontos que certamente vamos fazer, e que poderão não chegar para levantar o caneco. Se é frustante? Claro que sim, mas é também uma época a todos os níveis estrondosa e a prova de que acabaram as dores de crescimento. Só um clube bem orientado, só jogadores comprometidos e só adeptos fanáticos poderiam conseguir estes resultados em Portugal, apenas atingidos anteriormente por José Mourinho.

Que este ano seja o princípio de um Sporting sempre competitivo, sempre na luta, sempre pronto não perder e lutar sempre com os seus rivais. E se perdermos, para o ano cá estaremos a discutir o que correu mal e a apoiar, como sempre e para sempre, o melhor clube do mundo.  

 

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa