Há nomes que nunca vão para as manchetes nem passam à história como gloriosos. Aurélio Pereira pode ser um deles, caso lhe aconteça o que sucedeu a Manuel Gourlade. Manuel foi o primeiro treinador do Benfica, gastou todo o dinheiro que tinha com a fundação do clube e acabou na miséria, só, a morrer num lar infecto em Campolide. Tanta é a memória que nem a Wikipedia parece ter uma página sobre Manuel em português: em inglês e francês, no entanto, há…

Aurélio Pereira não lhe segue, felizmente, as pisadas, mas no dia em que o país acordou eufórico com a glória na Europa, seria interessante reconhecer a este homem que são os seus meninos, na maioria, que brilham em França.

Aurélio é o caça-talentos que levou para o futebol Futre, Litos, Peixe, Figo, Simão Sabrosa, Ricardo Quaresma, João Moutinho, Nani ou Cristiano Ronaldo. Esteve à frente da formação de jogadores jovens durante 20 anos, tem um bigode de se lhe tirar o chapéu e os jogadores tratam-no como segundo pai.

Foi ele que convenceu o Sporting a resgatar Ronaldo a uma vida complicada na Madeira, ao lado das manas que agora se pavoneiam de coxa doce nas revistas de mexericos. Era ele que ia saber a casa dos jogadores quem era pai e mãe, como se vivia ali, como se podia compatibilizar o estudo e a carreira dos putos talentos – quando se podia.

Quando em Paris se acenderem as luzes para o último jogo do Campeonato Europeu de Selecções de Futebol de Séniors, metade, ou mais, dos jogadores em campo saberão bem quem é Aurélio Pereira – embora nas bancadas apenas alguns se lembrem dele, ou sequer isso…

Antes de fazerem a estátua a Fernando Santos em cima do coiso do Cutileiro seria bom, para um país que desdenha o trabalho da sombra, criarem uma avenida lá para aqueles prédios a que chamam Casa da Selecção, com o nome de Aurélio. Ficava bem, já que os Stromp e os Gourlades foram quase dizimados da História. Eles e tantos outros.

escrito por João Vasco Almeida no blogue Ideia Perigosa