Quando eu era mais puto, tinha como uma das respostas prontas que o fogo se apaga com água. Depois, à medida que o tempo foi passando, percebi que a areia é uma excelente opção para colocar um ponto final nas chamas, pelo simples facto de cortar o oxigénio que as alimenta e que permite a combustão.

Ora, vem isto a propósito daquilo que tenho observado estar a passar-se na Tasca, há cerca de um mês a esta parte. Numa altura em que se instituiu a palavra “carvão” para simbolizar as tentativas de incendiar os ânimos dos Sportinguistas ou de fazer uma fumarada que os deixe à rasca dos olhos e com dificuldade em mantê-los bem abertos, tem vindo a crescer a tentativa de utilizar a areia para combater esses planos de desestabilização. O grande problema é que é que essa areia começa a ser usada, cada vez mais, para, de caminho, tentar apagar a chama que nos torna adeptos apaixonados e questionantes. E isso faz-me recuar no tempo.

Não será descabido lembrar que, ainda a Tasca era Cacifo, já se percebia que o único caminho a seguir era discutir o Sporting. E que essa era a melhor forma de defendê-lo, pois não há melhor do que ideias e opiniões estruturadas e sustentadas para, quando contrapostas ou replicadas, permitirem o surgimento de novas ideias e de novos caminhos. Foi esse o trajecto deste blogue. Foi essa forma de estar que nos trouxe aqui e que continua a trazer, diariamente, novos Sportinguistas que se identificam com um espaço onde podem deixar a sua opinião. Mais especificamente, um espaço onde podem deixar a sua opinião mesmo que essa seja discordante em relação a alguma decisão da nossa direcção.

Foi assim que este espaço se tornou refúgio de tantos e tantos Sportinguistas, foi assim que passou do mundo virtual para o mundo real, juntando pessoas com ideias mais ou menos iguais, mas com algo que as une: a paixão pelo Sporting e a vontade de torná-lo cada vez maior. E essa vontade, pensei eu que tínhamos aprendido a lição, dificilmente é posta em prática se, por medo ou interesse, decidirmos dizer que sim a tudo e mais alguma coisa ou, pior, tentarmos amordaçar e apontar o dedo a quem quer que ouse ter ideias diferentes. Foi esse estado de alma que nos conduziu a uma situação de refundação iminente, que nos colocou no fundo do poço, que nos fez atravessar as páginas mais negras da nossa história. Foi esse estado de alma, juntamente com uma contagem de votos até hoje histórica na sua vergonha, que não permitiu que o actual presidente assumisse a direcção do clube mais cedo. É o regresso desse estado de alma que começa a minar o Sportinguismo vivo que é apanágio desta Tasca.

Eu percebo, e não estou a usar ponta de ironia, que no interior de cada um de nós exista a tendência e vontade natural de preservar pessoas que, no espaço de três anos, tanto têm feito e tanto têm trabalhado em prol do Sporting Clube de Portugal. Creio ser desnecessário estar a publicar uma lista de tudo o que de bom tem acontecido, tanto no futebol como nas modalidades, passando pelo Pavilhão, pela SportingTV ou, mais recentemente, pela tentativa de fazer regressar à Academia alguns profissionais que talvez nunca devesse ter saído. E também creio ser desnecessário dizer que quase todos os que por aqui passam, se tivessem que voltar a votar hoje, colocariam novamente a sua escolha no nome de Bruno de Carvalho.

Mas não percebo que essa vontade de proteger se transforme numa espécie de perseguição a todos os que ousem questionar ou discordar. Pior, é incrédulo e entristecido que assisto ao regresso de estratégias que assentam na utilização de alguns dos piores exemplos da nossa história para mandar calar os discordantes e dizer-lhes que mereciam era regressar a outros tempos. É incrédulo e entristecido, que assisto à utilização de argumentos esfarapados para tentar passar a ideia que tudo o que é feito, se não é imaculado, está pelo menos bem feito (esta questão de estarmos com um barco à deriva para precaver a falta de avançados é a situação mais recente). É incrédulo e entristecido, que assisto ao regresso das etiquetagens e ao alimentar de trincheiras entre Sportinguistas (e tanto que ainda falta para as próximas eleições). É incrédulo e entristecido, que assisto à tentativa de, de forma cada vez mais descarada, colocar em causa a seriedade da Tasca enquanto espaço de defesa do Sporting Clube de Portugal, inclusivamente com acusações falsas de favorecimentos e gestão de comentários em função de interesses.

Ora, minhas amigas e meus amigos, o único interesse deste espaço é o Sporting. Orgulho-me de sempre assim ter sido, de assim continuar a ser e de poder olhar para trás e confirmar que tudo o que fiz foi sem estar à espera de receber algo em troca. A não ser este sentimento de missão que não se explica e que nos compensa pelos sorrisos e pelas palavras de quem aqui vem e de quem aqui se sente bem. E é por achar que este clima que, propositadamente, repito, propositadamente (sempre houve interesses e sempre continuarão a existir), está a criar-se, faz com que muitas destas pessoas se sintam menos bem, que vos convido a meditarem um pouco sobre tudo isto. E que deixo uma mensagem muito clara: é de pura desonestidade andar a falar em carvão quando, tantas e tantas vezes ao dia, tentam atirar areia para os olhos dos Sportinguistas.