Quando, por volta dos 9 minutos, Felipe colocou o fcPorto em vantagem, o Sporting era uma sombra da equipa que se lhe reconhece ser. Jesus havia deixado Alan no banco e desviado o outro Ruiz, Bryan, para o apoio directo a Slimani, mas nem essa dupla funcionava nem o meio-campo, com Bruno César à esquerda e Gelson à direita, conseguia controlar a partida. E o golo portista, nascido de uma falta inexistente, veio castigar a turma de Alvalade essa má e desconcentrada entrada em jogo.

O treinador depressa percebeu que o plano com que tinha imaginado começar a ganhar o clássico tinha saído furado e não perdeu muito tempo a rearrumar o puzzle. Bryan encostou à esquerda, Bruno César ficou com a responsabilidade de ser o principal apoio do ponta-de-lança e, ainda de ajudar à superioridade numérica no meio-campo. E o “chuta chuta” não se fez rogado ao que se lhe pedia, avançando para uma enorme exibição e dando à equipa a dinâmica que precisava para se espreguiçar, sacudir a juba e atirar-se ao adversário.

Seria, aliás, o brasileiro a avançar para a cobrança de um livre directo e a fazer a bola embater, com estrondo, no poste da baliza de um petrificado Casillas. Gelson faria a recarga e Slimani confirmaria, em cima da linha, o golo do empate. O jogo entrava numa toada de parada e resposta, primeiro com Rui Patrício a defender com segurança um remate cruzado de André Silva (seria o último lance de perigo do jovem avançado, quase sempre metido no bolso por um intratável Ruben Semedo; seria a última defesa difícil do guarda-redes leonino, espectador em grande parte dos minutos que se seguiram a esse momento), depois com Bryan Ruiz a ver a bola desviada quando se preparava para cabecear dentro da área.

Mas o costa-riquenho, o mais apagado jogador leonino em campo, teria oportunidade de juntar-se à história do jogo num momento relevante, quando um cruzamento de Bruno César (sim, o homem parecia estar em todo o lado) veio da esquerda e foi mal desviado pela defesa. Ruiz ficou com a bola (dizer que o 10 verde e branco utilizou a mão é desculpa de mau perdedor) e sem espaço para ensaiar o remate passou-a a Gelson Martins. O joem extremo, cada vez mais adulto e entrosado, não se fez rogado: toma lá uma buja bem colocada e vai buscá-la ao fundo das redes!

Estava feita a cambalhota no marcador coisa que, conta-se, o Sporting não conseguia fazer, frente ao Porto, desde 1976 e, apanhando-se a ganhar o Sporting apanhou um susto (remate de André André que ainda toca no poste), mas amarrou definitivamente o adversário. William Carvalho ia juntando o seu nome à das figuras maiores do clássico e Adrien acompanhava-o nessa conquista do meio-campo. O capitão leonino veria Casillas roubar-lhe um golo com o pé e os adeptos verde e brancos veriam a sua equipa levar jogo para intervalo sem permitir ao adversário criar alguma outra jogada de perigo.

A toada manteve-se no recomeço e Casillas voltaria a roubar um golo, desta vez a William, depois do médio ganhar uma bola de cabeça na marcação de um canto. E seria o camisola 14 a estar no centro da jogada que resultaria na expulsão de Jorge Jesus: o técnico não gostou de mais uma fita do palhaço Octávio, o árbitro transformou-a em falta e convidou o técnico leonino a dirigir a equipa da bancada. Alvalade entrava em alvoroço e Tiago Martins partiria para uma meia-hora final de arbitragem com uma gritante dualidade de critérios, permitindo aos portistas recorrentes e agressivas faltas (inacreditável, por exemplo, André André ter ficado em campo) e brindando os jogadores leoninos com amarelos em situações idênticas (se em futebol a nota é medíocre, em teatro jogadores como Danilo, que tentou por três ou quatro vezes que Adrien visse o segundo amarelo, tiveram nota máxima).

O jogo estava eléctrico, mas partido. O treinador azul fazia entrar Delpoitre, Jesus nem dava margem e secava o meio-campo com a entrada de Bruno Paulista (e que entrada), dando ao fcPorto a possibilidade de ter bola, mas sempre longe da baliza de Patrício. Campbell também entraria bem e ameaçaria com um remate à entrada da área, mas seria William (imagine-se) a ter a última grande oportunidade para atirar a contar, disparando fraco, já dentro da área, à figura de Casillas.

Os ponteiros do relógio caminhavam para o fim e Alvalade sentia a vitória conquistada, muito por culpa da atitude de todos os que estavam em campo, dando, até, para nos minutos finais serem João Pereira e Zeegelaar a estancarem as iniciativas ofensivas e a carregarem a equipa para o meio-campo adversário. E a verdade é que, tendo várias partes a brilharem ao mais alto nível, o Sporting soube ser a soma de todas elas para formar um todo inequivocamente superior ao do adversário. E para ser uma equipa que volta a encher de esperança os seus adeptos.