Na teoria, todas as nossas preces foram ouvidas. Os jogadores que estavam à demasiado tempo a rodar na equipa B foram emprestados, promoveram-se muitos ex-junior, limpou-se o plantel do entulho que não interessava ao clube, comprou-se com critério e com base em jovens jogadores de enorme potencial.
E, por isso, apesar de perder alguns esteios como Rafael Barbosa, Domingos Duarte, Francisco Geraldes, Podence ou Ryan Gauld, a equipa B parecia mais equilibrada, composta e sujeita a menos mexidas que nos anos anteriores.

Faltavam defesas centrais, foram buscar-se defesas interessantes, faltavam avançados, recheámos o plantel com jovens talentosos e Ronaldo Tavares. Aproveitámos negócios como o de Edu Pinheiro, Liam Jordan, Guima ou Sulehe, promovemos jogadores formados no clube de enorme valor como Bruno Fernandes, Elves ou Jovane Cabral. No fundo, fez-se pela primeira vez o que mandam os livros, numa equipa B que tem vivido em sobressalto desde há umas temporadas e muito aquém do rendimento desportivo que se pede a uma das melhores academias do mundo.

Sou da opinião que o talento está lá todo. Temos dois excelentes jogadores por posição, temos caras novas e muita juventude, temos matéria prima para trabalhar uma equipa interessante e projectar jogadores para que tenham chances na equipa principal. Se compararmos com a grande maioria das equipas da Liga II perdemos na experiência mas vencemos por larga margem no talento. E o talento ainda vale muito, como provou a equipa do FC Porto B a temporada passada, que em nada vence a nossa actual em termos de qualidade.

Mas existe, claramente, um problema que se mantém na equipa B. A pré-época, bem conseguida, fazia adivinhar uma equipa dinâmica, assente num esquema mais parecido com o de Jorge Jesus, que trabalhava bem em posse e apostava nos seus homens golo para facturar. Tudo isso nos entusiasmou e fez adivinhar um ano mais tranquilo e irregular, nada mais errado até ao momento.

Um fio de jogo quase inexistente, com muita bola pelo ar e pouco descernimento, uma equipa que demora a reagir às contrariedades naturais numa liga tão competitiva e ainda o velho problema: penalties e cartões com fartura. Jogadores como Edu Pinheiro, Jovane, Ronaldo ou Bubacar, que se tinham apresentado num grande nível no princípio da temporada, parecem ter, num par de semanas, desaparecido.

Desconheço de o problema estará na equipa técnica, nas condições oferecidas à mesma ou se é simplesmente muito azar a bater-nos à porta (geralmente essa nunca é a resposta). Sei apenas que custa muito ver jogadores em quem depositamos tantas esperanças ter exibições que fariam com que o Boavista desistisse da sua contratação. São 3 derrotas em 5 jogos, algumas das quais se via em campo a superioridade individual dos nossos jogadores mas a falta de jogo colectivo a atrapalhar.

A nossa melhor solução, num campeonato tão físico e sarrafeiro, é jogar com a técnica dos nossos jogadores. Bola no pé, confiança enquanto se tem posse, jogo apoiado que faz soltar toda a qualidade individual. O que vejo é bolas a queimar em pés de jogadores com clásusulas de 45 milhões de euros, que levam golos absurdos de qualquer Zé Manel que se apresente em Alcochete.

Vamos, como sempre, dar tempo a quem trabalha de melhorar, aprender com os erros e reerguer a equipa. Mas a corta está claramente a partir e os nossos rapazes merecem evoluir de outra forma.

*às terças, a Maria Ribeiro revela os seus apontamentos sobre as novas gerações que evoluem na melhor Academia do mundo (à excepção do Dubai)