Já há muito que falávamos de ti. Daquele puto que partia tudo e todos com a bola colada ao pé e que, quando arrancava, tinha um poder de explosão que deixava os adversários pregados ao relvado. Para os muitos de nós que olham a formação com um carinho interminável e que não imaginam a equipa do Sporting sem representantes dessa forma de estar no futebol, tu eras um dos dois ou três que apontávamos como “o próximo craque”.

Por tudo isto, já podes imaginar o gozo que nos dá ver-te neste patamar e a este nível. Aquele miúdo que engolia em seco de cada vez que era colocado a defesa direito na equipa de juniores foi crescendo e, há coisa de um ano, mostrou-se ao mundo no campeonato do mundo de sub-20, lá longe, na Nova Zelândia, decidindo partidas com a classe que não está ao alcance de todos. Não é à toa, aliás, que de cada vez que és chamado à selecção, agora de sub-21, sejas protagonista de lances que, nos dias seguintes, correm o mundo. Estás um patamar acima dos que são da tua idade e isso nota-se.

Ainda assim, havia quem desconfiasse de ti. Como se aquele golo por baixo das pernas do redes e aquele passe a isolar o Matheus, acontecessem por uma questão de sorte, estás a ver? Ah e tal, o miúdo tem talento, tem técnica, mas decide quase sempre mal… ah e tal, ainda lhe falta crescer muito tacticamente… entre um desfilar de disparates próprios de quem tem dificuldade em perceber o que lhe corre diante dos olhos ou, pior, apenas acredita em talentos fabricados em capas de jornal. Felizmente, tu és o tipo de jogador que não precisa de holofotes para saber o que vale. Dizem que sempre foste assim: centrado, reservado e trabalhador. E, agora, tiveste a sorte de encontrar um treinador capaz de tirar o melhor de ti e fazer-te crescer até ficares tão grande como os maiores.

Este arranque de época mostra todo esse crescimento. O puto já não dribla para se divertir; fá-lo quando a equipa precisa e sabe que as fintas tanto podem ser para levar o grupo para a frente como para preservar a bola e deixá-lo posicionar-se. O puto já sabe perfeitamente quando o (des)equilíbrio adversário pede a condução da bola pela linha ou a ruptura de uma diagonal. O puto treme cada vez menos em frente à baliza e tem a mira cada vez mais afinada de cada vez que remata à baliza (golaços frente a fcPorto e Moreirense, remates todos em direcção ao alvo no jogo de Madrid). O puto já fecha quando o lateral não está, sabe quando deve defender por fora ou por dentro e faz as piscinas que tiver que fazer em prol da equipa.

E foi este puto que conquistou os mais desatentos há quatro dias, em Madrid, naquele que muitos diziam seria o palco onde as pernas lhe tremeriam. Ali, no mítico Bernabéu, com um duplo 7 nas costas, mostraste a tudo e todos a força da nossa formação e o porquê de seres titular indiscutível, independentemente do número de craques internacionais que vão chegando para a tua posição. A verdade é que o fluir do futebol leonino está pensando para tu seres peça essencial. Jorge Jesus vê-te como um agitador (ou El Agitador), mas, pelo menos a mim, isso parece-me redutor. Porque cada novo jogo mostra que és, cada vez mais, um jogador completo. E que este desfilar de momentos kodak, que vamos vendo com um sorriso rasgado, tem tudo para ser o início de uma belíssima história intitulada As incríveis aventuras de Gelson Maravilha.

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