Beto, Douglas, Petrovic, Elias, Melli, Markovic, Campbell, A.Ruiz, Castaignos, Spalvis, André e Bas Dost. Doze contratações que esperemos que se revelem mais indomáveis que patifes. Ao contrário de alguns leões que já revelam alguma impaciência, acho que são bons reforços e que provarão a sua utilidade em tempos diferentes da época. Convém também separar o lote em alguns grupos, pois foram contratados segundo ideias diferentes, com investimentos bastante diferentes.

“É para ontem”:
Bas Dost e Elias – Dois jogadores que sabem onde e quando pisam, um internacional holandês (tem sido titular) e o outro brasileiro (perdeu o comboio do escrete com a mudança de selecionador) que já viveram (quase) todo o tipo de experiências e cenários.
Dost foi uma enorme aposta financeira. A entrar em último ano de contrato e depois de uma temporada onde perdeu a titularidade no Wolfsburg, Dost estava numa espécie de limbo, onde nem era descartável, nem indiscutível e na eminência de sair das opções da selecção holandesa…o caminho estava na venda e o clube alemão fez saber que pelo preço certo não se oporia. O Sporting vendendo Slimani precisava de ir ao mercado encontrar uma certeza e sabe-se que JJ “precisa” de emular os reforços nos jogadores titulares que perde, Dost não é Slimani, mas é uma boa aproximação. Atitude, trabalho, concentração total e frieza na cara do golo…o essencial está lá. Foi muito caro, mas acho que estamos a perceber que há certos “luxos” que fazem mais sentido que outros.
Elias é um “velho” conhecido, mas pouco restará do meio flop que andou por cá noutros tempos. Mais maduro e sobretudo mais experiente, o ex-capitão do Corinthians aprimorou o seu jogo de apoios e passe, perdendo talvez a velocidade e a tendência para progredir verticalmente com a bola que eram o seu grande cartão de visita quando chegou do Atlético de Madrid. Para a sua idade, vindo do Brasil, o investimento realizado foi elevado (juntando todos os valores), mas sabia-se que JJ desesperava por uma alternativa a Adrien e ainda desesperou mais depois de ver o “estado táctico” com que chegou Meli. Elias, apesar do papel de “sombra” de Adrien, não é “o” Adrien…longe disso e aqui convém que nos lembremos que o “mercado” de Adrien já anda perto da sua clausula e Elias vale…10 vezes menos. No futebol real, couves são couves, caviar é caviar e Elias andará ali no meio da tabela alimentar, entre o menu nutritivo e o menu de degustação. JJ não arriscou e na urgência do fecho da janela de transferências, quis alguém que não tivesse de andar a ensinar “os cantos à casa” e realmente Elias não fazendo esquecer nunca Adrien, chegando a sua vez, não perderá muito tempo com esse peso em cima dos ombros.

“Why not?”
Spalvis, Melli – Não chegam com o peso de se terem de afirmar imediatamente, mas sim aproveitar a primeira época para ganhar “calo”. O investimento foi moderado e não parece de facto que nem um. nem outro, tenham sido enormes paixões do scouting leonino, mas sim rapazes que reuniam o potencial certo, para melhorando algumas lacunas, irem entrando a espaços na equipa e só assumindo a titularidade numa fase posterior da estadia em Alvalade.
O lituano é um ponta-de-lança clássico, bastante completo, mas isto de ser bom na Dinamarca…sabe-se que era observado há muito por muitos emblemas europeus e o Sporting não esperou por mais uma época de boas avaliações e uma qualquer Udinese ou Besiktas desta vida o levasse. A lesão grave no jogo de estreia veio atrasar tudo, e a exigir mais uma contratação para a posição.
Melli esteve com um passo no Benfica na época passada e falhando o acordo quanto ao valor da transferência ficou pelo Boca, a época não viria a correr tão bem como a anterior e dá a sensação que pagou muito caro a crise exibicional da equipa em termos coletivos (o Boca esteve muito abaixo do seu standard) e já se sabe…os jovens jogadores formados na casa são os primeiros a pagar as facturas de maus jogos e Melli pagou algumas. Mesmo assim chega ao Sporting e ainda que por empréstimo tem a oportunidade de fazer evoluir o seu talento num clube com méritos comprovados na arte de “melhorar” jogadores. Técnica irrepreensível, visão de jogo e bom passe fazem dele multidisciplinar dentro de um 11 e bastante adaptável a diversas funções, mas…e este é um grande mas…Melli tem ainda um espaço de acção muito reduzido e precisa de “aprender” a acrescentar pelo menos mais 25 metros ao seu “habitat natural”, é que na Europa o jogo estica-se muito mais que na Bombonera, o Marcelo precisa de familiarizar com as linhas de área e conseguir avançar e recuar ao ponto de em poucos segundos visitar ambas.

“Pelo sim, pelo não…”
Beto, Douglas e André – Um clube que disputa champions e aspira a todos os títulos nacionais não pode depender de 11 titulares, nem mesmo de 22 opções. As lesões, os castigos, as quebras de forma, há muita coisa que atira com as primeiras opções para fora dos relvados. E muitas vezes quando um treinador (hiper cauteloso como JJ) olha para as segunda linhas, surgem dúvidas. É nesses casos que por vezes se vai ao mercado. Não se procuram nem titulares seguros, nem suplentes aspirantes…mas algo no meio. Estas “meias seguranças” valem muitas vezes a diferença entre uma boa época e uma péssima, dependendo acima de tudo de lesões de titulares fundamentais.
Beto tem um currículo que descansa qualquer treinador e apesar de estar a fazer os últimos anos da carreira é do tipo de jogadores que não dorme à sombra de glórias passadas. Não fica nem perto do talento e do valor actual de Patrício que está lá em cima em qualquer top 5 de guarda-redes mundial, mas também não é isso que se espera de Beto. 5 a 6 jogos e de menor importância esta época será o espectável e para isso, este guarda-redes está mais que preparado para fazer.
Douglas e André já foram grandes esperanças, mas os anos foram passando e alternando o bom com o menos bom estavam a precisar de novos desafios e principalmente fasquias mais elevadas. Ainda assim tanto um como o outro, brilhando o sol naquelas cabeças e com a dose certa de confiança dada pelos adeptos e treinador, podem vir “encher” o 11 do Sporting com boas exibições e sobretudo…pisar os calcanhares aos titulares, mantendo a fasquia elevada para quem se pudesse achar que chegando lá, o trabalho estaria todo feito.

“…aaaa….pois”
Petrovic e Castaignos – Apesar de ainda terem muitas épocas pela frente, tanto o sérvio como o holandês chegam a Alvalade como verdadeiras lotarias. Tudo aponta para que a coisa redunde num “tente outra vez” mas há uma pequena centelha de fezada que diz quem apostou neles “ah ah…vou vos mostrar com quantos paus se faz uma cabana”. Sinceramente não apostaria em nenhum, especialmente pelos valores despendidos. Confiaria muito mais em valores internos (um Luiz Carlos e um André Claro por exemplo…calma é só um exemplo) que custariam 1/5 das verbas gastas, mas entendo que nas mãos de um JJ, tenha ele tempo e vontade para tal, possam voltar ambos a recuperar o brilho com que foram considerados das melhores promessas europeias há 4 ou 5 épocas atrás. O sérvio tem para ser reciclado como 6 e Luc terá de ser resgatado de um percurso à lá Labyad ou Taarabt e embora a estampa de um e o profissionalismo do outro sejam garantias de matéria prima, a verdade é que olhando para as alternativas à sua frente, estão tão longe do 11 titular, como eu de não dar erros ortográficos em todo este texto. Provavelmente em Janeiro será repensada a sua presença no plantel, face também ao que sobre de competições europeias.

“Epa! Eich!”
O sorteio da Champions da fase de grupos teve lugar no dia 25 de Agosto. Markovic chegou no último dia de mercado. Parecem distantes estes dois acontecimentos mas têm tudo de relacionados. Especialmente com a modalidade de empréstimo com que o sérvio chegou a Alvalade. Depois de garantir Campbell cedido e sem clausula de compra pode parecer estranho repetir a opção, mas a verdade é que estando num grupo com R.Madrid e Dortmund, mais de 50% dos jogos não auguram grandes conquistas de pontos (e logo verbas).
A Champions deu um grupo de muita dificuldade e de poucas hipóteses de permanência na prova. O que fazer, especialmente quando não temos dinheiro para ir ao 1º mercado e não há garantias de encaixes suplementares? No Sporting optou-se por um meio compromisso.
Campbell e Markovic não fazem parte dos jogadores com grande cotação actual, mas são demasiado caros para uma compra (vinte e tal milhões de euros é uma fasquia inatingível por qualquer clube português e ambos os jogadores não dão garantias de num ano assegurarem uma transferência que valide tal investimento) mas havia que dotar o plantel de nomes que prometessem algo de suplementar. O costa-riquenho e o sérvio são evidentemente atletas que mexem com o jogo e que numa boa forma destroem totalmente os esquemas tácticos de qualquer defesa europeia. O problema é que estão ainda longe desse nirvana e podem até ficar bem longe dessa bitola toda a época…pois é isso que lhes tem sucedido nos anos mais recentes. Eu, se tivesse de apostar, diria que vão ser essenciais na 2ª volta e se meterem na cabeça que o Sporting pode ser fundamental nas suas carreiras, se esquecerem o estatuto que já gozaram no futebol mundial, se pensarem mais em treinar e melhorar…são bem capazes de ser dos piores negócios e das melhores contratações de sempre do Sporting, pois sairão do clube sem vermos um tostão, mas deixarão troféus no museu. Tudo depende deles.

“El Joker”
Deixei para último Alan Ruiz. Não foi por acaso. Na verdade não sei o que esperar deste argentino. Já se percebeu que trata a bola como ninguém, que tem um pontapé de fazer inveja a algumas anti-aéreas e uma capacidade de passe capaz de descobrir um pintelho na Amazónia, mas por todos os elogios que se possam justamente fazer há defeitos enormes a apontar. O passo de caracol, a capacidade de explosão de uma freira octagenária, a ligação ao jogo de um estudante regressado das férias de verão…ufff. Nas Clausuras e Aperturas argentinas a coisa disfarçava bastante bem, mas cá no burgo, o ritmo e o poder aeróbico do “outro” Ruiz estão a galáxias de lhe poderem oxigenar as pernas e o cérebro a partir dos 20 minutos de jogo. Mas atenção! Não deixem este gajo ficar pela prateleira, é raro encontrar um jogador que reuna as características que o Alan reúne e será um enorme desperdício não dar tudo para que venha a vingar no Sporting. Tem tudo para vir a ser um enorme jogador e penso que exigirá uma paciência do tamanho de Alvalade para que chegue lá…mas há “material” e não gostaria de voltar a reviver as asneiras passadas cometidas com Pinilla, Árias e outros que se perderam por falta de visão e pressa para anular investimentos.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca