Não sei se foi estratégia para ver como é que os polacos se apresentavam, não sei se foi mais uma entrada meio a dormitar (já contra o Estoril havia sido assim), não sei se foi para dar tempo a que o pessoal que estava nas filas pudesse entrar. Sei que o início de jogo foi tudo menos o que se esperava, com o Sporting a deixar o Legia acercar-se da área e causar perigo junto da baliza do Rui. Patrício teve que dobrar os centrais e afastar de cabeça, Jefferson ia fazendo autogolo na sequência de um canto e já havia muito boa gente a coçar-se nas bancadas ao fim de dez minutos em que quem não se coça tanto e gere melhor os nervos pensa para si próprio “mas quésta merda?!?”.

O fixe é que, de um momento para o outro, os jogadores parecem ter feito a mesma pergunta a si próprios. Bruno César, ontem como muito menos espaço para ser o gajo que foi em Madrid (e mais próximo do ponta o que, quando a mim, lhe retira capacidades de pensar o jogo com largura), experimentou de fora da área. Depois Bas Dost mostrou que quando não marca tenta assistir e amorteceu para o primeiro remate de Adrien. A bola saiu por cima e a seguinte, rematada pelo holandês, apanharia a perna de um adversário. Estava dado o mote.

Por esta altura, depois daqueles dez minutos manhosos, o jogo estava no bolso. Lá atrás, Sebastián comia tudo, tudo, tudo, e no miolo William e Adrien faziam tudo sem parar. Bryan Ruiz trouxe a varinha mágica e Gelson conseguia ouvir o bater de dentes dos polacos de cada vez que arrancava. O carrossel verde e branco tinha engrenado e até Jefferson ia lá à frente pregar cuecas e ensaiar aqueles cruzamentos que fizeram dele uma peça essencial na equipa. Faltava o golo, que se gritou perto dos 20 minutos quando Gelson Martins nos obrigou a rever aquela imagem que não nos sai da cabeça desde o malfadado dérbi e a menos de um metro da baliza tentou rebentar a bola contra a barra.

Mas estava escrito que seria de bola parada que o marcador iria funcionar, ou não fosse o Legia um dos clubes que mais golos sofre neste tipo de situações. Bryan Ruiz falhou a primeira tentativa de cabeça (fantástica jogada ensaiada), mas não perdoou quando a redonda lhe apareceu ao jeito do seu pé esquerdo (e o golo parece fácil porque é Bryan que o torna assim pela qualidade com que ataca a bola). O mais complicado estava feito e o segundo não tardaria. Enorme passe de Adrien e finalização à matador de Bas Dost, que depois de saber que Slimani tinha marcado ao fcp fez questão de recordar que só Jardel marcou mais golos do que ele nos cinco primeiros jogos de Rampante ao peito.

Alvalade respirava de alívio e os polacos já nem respiravam. Valeu-lhes o espasmo do redes na defesa da noite (seria sempre dele, já que Patrício não fez uma), indo buscar uma bola cabeceada por Coates onde os mais de 40 mil adeptos já viam o terceiro. E a cena repetiu-se a abrir a segunda parte, desta feita em resposta a uma trivela de Adrien. O capitão queria marcar e inventou uma tabelinha com Ruiz para ficar com a baliza escancarada, mas o remate saiu por cima e o Gelson deitou-lhe a língua de fora como quem diz “ao menos eu acertei na barra”. Antes de tudo isso é capaz de ter ficado por marcar um penalti contra os polacos, por mão numa bola cabeceada por Dost, mas a verdade é que aquele remate do 23, ainda antes os 60′, foi o momento em que o Sporting decidiu gerir, já a pensar em Guimarães.

Entraria Markovic, depois entraria Campbell e ambos ensaiaram arrancadas que permitiram quebrar um pouco a monotonia. O Legia faria o seu remate perigoso à baliza (passou perto do poste) e até daria para entrar Petrovic. Em casa, ao ver a camisola 8, Pedro Barbosa comeu cinco croissants para acalmar os nervos. Noutra casa, Palhinha desligou a televisão e foi-se deitar. No Estádio, os apressados do costume aproveitaram para sair mais cedo e os outros ficaram até ao final para aplaudir uma vitória sem espinhas e sem Jesus no banco. Não sei se com ele teria sido diferente, mas o certo é que para estes polacos bastou termos lá o Raúl.