«Às tantas, Hillary Clinton diz a Donald Trump que o facto de ele não tornar pública a sua declaração de rendimentos permite suspeitar que ele não paga impostos. Ele responde: “Isso faz de mim esperto”.

Esperteza nada saloia, esta de não pagar impostos… Foi no debate desta semana entre os dois candidatos à presidência dos Estados Unidos e no dia seguinte lembrei-me deste episódio quando li o texto de Bruno de Carvalho no DN. Porque se o Benfica não mostra as contas consolidadas, podemos suspeitar das razões. O que esconde quem esconde?

Na semana passada aqui falámos dos lucros do Benfica, que sendo muito bons têm latentes um passivo que continua a crescer. Se as contas fossem consolidadas (isto é, de todo o grupo Benfica), seria o passivo maior?

Bruno de Carvalho é muito desembestado, às vezes insuportavelmente desembestado, mas besta não é. As perguntas que faz sobre as contas do Benfica e sobre as relações com o BES/Novo Banco fazem todas sentido – e Bruno tem a legitimidade de ter hoje as contas muito mais transparentes do que antes dele o Sporting tinha. Estas perguntas são aliás feitas pelos jornais há quase três anos sem que Luís Filipe Vieira lhes tenha dado resposta.

Quando Vieira chegou à Luz não havia candeeiro que acendesse: Vale e Azevedo tinha deixado um rasto de cacos. Ninguém lhe tira isso. Mas tira-nos ele a possibilidade de análise completa ao não publicar as contas como o Sporting e o Porto publicam: consolidadas. O Benfica tem os melhores resultados das sociedades anónimas portuguesas. Mas não as mais transparentes.»

Pedro Santos Guerreiro, in Record