O Tondela não sai do meio-campo. A pressão é sufocante, alta, tresloucada, mesmo. Coates juntou-se a Bas Dost e Castaignos na área adversária. Bruno César é um falso lateral esquerdo. Campbell corre de um lado, Gelson insiste em fazer tudo bem do outro (ok, pronto, falhou dois cruzamentos). Há bolas a baterem na cabeça de defesas que caem como pinos, há cabeçadas desesperadas que saem por alto, há jogadores tondelenses a caírem por tudo e por qualquer coisa e o frenesim é tal que até William Carvalho perde a cabeça e eleva os níveis de agressividade ao ponto de se passarem mais três minutos sem a bola rolar.

O jogo atinge o seu ponto máximo de excitação, tão máximo que Campbell festeja o empate como se fosse uma vitória, numa perda de noção que lhe vale o amarelo por tirar a camisola e derrete os últimos segundos de um jogo que a todos enganou quando Gelson, sempre ele, aproveita uma boa bola de Bas Dost e, logo aos quatro minutos, esfrangalha os rins ao defesa e acerta no poste. O problema é o que se segue. Ou o que não se segue, porque a dormência é tanta que a falta de ideias em campo ameaça contagiar o português deste que vos escreve.

Markovic ficou de fora e é André que surge no apoio mais directo a Bas Dost. O que um corre de mais, o outro corre de menos. Zero. Elias é um pagode sem festa naquele meio-campo. Bryan Ruiz não consegue que o génio do seu cérebro seja mais forte que a falta de pernas que vem mostrando neste início de época (ainda por cima pedem-lhe para fazer piscinas a ajudar o lateral, em vez de lhe darem o papel de maestro de uma orquestra à deriva). William está tão revoltado com o facto de ter que jogar sozinho no meio que decide começar a falhar passes simples. Os laterais não conseguem um único desequilíbrio ou, pior ainda, um cruzamento decente para a área. Sobra Gelson, claro, assumindo a tarefa de ser o miúdo que carrega às costas uma equipa e adultos atarantados perante a estratégia do adversário: o Tondela dá a bola ao Sporting e fecha-se no último terço do terreno; o Sporting não sabe o que fazer à bola, não sabe como contornar o adversário e dá, outra vez, uma parte de avanço.

Ao intervalo entra Bruno César e o Sporting passa a jogar com 11. Aparentemente, pelo menos, porque o chuta chuta não serve de antídoto e ainda ensaia uma daquelas correrias à moda da Sérvia que acabam com uma bola perdida quando tem companheiros soltos. Tal como solto apareceu, por duas vezes, aquele pequenito que já se sabia ser o único gajo do Tondela capaz de marcar golos. À segunda, perante a passividade de defesa e meio campo leoninos, não foi de modas e brindou os mais de 42 mil presentes em Alvalade com um The Ice Bucket Challenge forçado.

Depois, volta tudo ao início e o Tondela não sai do meio-campo. O que muda é a pressa do Sporting. A pressão é sufocante, alta, tresloucada, mesmo. Coates juntou-se a Bas Dost e Castaignos na área adversária. Bruno César é um falso lateral esquerdo. Campbell corre de um lado, Gelson insiste em fazer tudo bem do outro (ok, pronto, falhou dois cruzamentos). Há bolas a baterem na cabeça de defesas que caem como pinos, há cabeçadas desesperadas que saem por alto, há jogadores tondelenses a caírem por tudo e por qualquer coisa e o frenesim é tal que até William Carvalho perde a cabeça e eleva os níveis de agressividade ao ponto de se passarem mais três minutos sem a bola rolar.

Jesus queixa-se do anti-jogo, como se essa situação não devesse ser normal para um treinador há décadas no nosso futebol. Como se contornar autocarros não fosse o papel do Sporting em mais de 80% dos jogos. Como se aquela vertigem final não fosse o que a equipa deveria fazer logo após o apito inicial. Como se, à oitava jornada, ainda fosse normal andarmos a perceber quem deve fazer de Teo, como é que a equipa deve controlar a respiração com troca do zen João Mário pelo frenético Gelson e estivéssemos à espera de Janeiro para ir buscar pessoal que resolva problemas que estão detectados desde o final da época passada, altura em que o nosso futebol entusiasmava tudo e todos. Altura em que Jorge Jesus podia atirar frases como «Não tenho o melhor plantel, tenho é uma equipa trabalhada por mim e se está trabalhada por mim tem de ser a melhor! A diferença está no treinador».

O problema é que esta frase tem três semanas e é seguida por uma mão cheia de exibições confrangedoras. O problema é que em milhares de adeptos começa a instalar-se um amargo déjà vu contra o qual, ontem, apenas Gelson Martins quis lutar.