Há coisa de três anos, alguém lá por terras de Tio Sam lembrou-se de tentar tornar viral um desafio que consistia em despejar um balde de água gelada sobre a sua própra cabeça (com ou sem ajuda) e, dessa forma, chamar a atenção para uma doença chamada esclerose lateral amiotrófica tentando, ainda, incentivar as doações para pesquisas que ajudem a combater essa mesma doença.

«As coisas de que este gajo se lembra quando vem escrever sobre futebol», poderão pensar alguns de vós enquanto recordam que logo aos quatro minutos podíamos ter mandado uma patada fatal nos polacos, quando William Carvalho apareceu embalado de trás e sacou um remate de ressaca que só não entrou porque não calhou. O jogo estava no início e ainda todos tentavam perceber como é que o Sporting estava a jogar, até porque Jorge Jesus tinha preparado uma das surpresas colocando Paulo Oliveira a defesa direito (numa espécie de falso central à moda de Boloni, quando adaptou Beto) e Bruno César algures pelo meio do campo, desacaindo normalmente para a direita.  Resumindo e baralhando, Zeeg tinha liberdade para subir, Bruno César ajudava William e Adrien no meio e aparecia encavalitado em Gelson, Markovic era o apoio mais directo de Bas Dost podendo aparecer a confundir os adversários pela esquerda.

Com tudo isto, confuso ficou o Leão, pese a capacidade de ir colocando o avançado adversário em fora de jogo de forma consecutiva. Eram os tais 90% de concentração a funcionar. Oportunidades de golo não apareciam, o jogo aparentava estar num congelador que até beneficiava o Sporting, mas os outros 10% de cabeça no dérbi deram um ar de sua graça e o que se seguiu não teve graça nenhuma. Equipa a dormir num lançamento lateral, pressão mal feita, marcações inexistentes, golo do Legia marcado pelo rapazinho brasileiro que já quis ser craque no Gil Vicente.

A verdade é que o jogo continuou como se nada se passasse. O Sporting dominava, tinha cerca de 65% de posse de bola, ganhava mais duelos, fazia mais remates, Bas Dost até ganhava 6 em 6 duelos aéreos disputados. Faltava o principal (qual golos?!? eu já só peço remates!). E este enregelamento cerebral continuaria no início da segunda parte (inadmissível não mexer ao intervalo, ó Jorge), com o primeiro remate leonino a surgir aos dez minutos e a provocar uma clara grande penalidade por mão de Housek. O árbitro mandou seguir, Adrien cerrou os dentes de raiva, Jesus percebeu que o jogo tinha começado. Toma lá Esgaio e Bryan para dentro de campo, para os lugares das novidades Oliveira e Markovic. A equipa espreguiçou-se e soltou-se definitivamente quando André veio apoiar Bas Dost e Bruno César passou a fazer de Zeeg.

Agora, sim, o Legia que, desculpem a sinceridade, seria equipa para, no máximo, aspirar a lutar pelo quinto lugar no nosso campeonato, estava encostado às cordas e o Sporting engolia o adversário e mostrava as diferenças qualitativas. Acontece que nem sempre dá para resolver em 20 minutos o que se devia ter resolvido em 70, mesmo que as oportunidades apareçam. E elas apareceram, duas delas escandalosas nos pés de André que foi mais Balada do que Levezinho: primeiro, após, um canto batido da esquerda, a bola chega aos pés do avançado que falha o remate ao segundo poste; depois é Gelson a partir tudo pela direita e a colocar a bola redondinha nos pés do 16 que, à boca da baliza, atirou ao lado! Pelo meio, Bas Dost tentaria de fora da área e André faria o mesmo, com o redes do Legia a evitar males maiores.

Tudo isto, meus amigos e minhas amigas, em dez minutos. Dez, repito, numa rápida prova das diferenças entre as duas equipas. Depois viria o desnorte, o mais coração do que cabeça, as defesas do Rui e a expulsão do William. O apito final e a eliminação num jogo onde, mesmo jogando pouco, fomos superiores em tudo. Verdadeiro balde de água gelada sobre a nossa cabeça que nos deixa empedernidos e a olhar para o próximo jogo como uma avaliação médica que nos esclareça se a evolução notada nas últimas semanas eram efectivas ou se estamos mesmo a lidar com uma doença neurodegenerativa progressiva.

adrien-legia