dost-golo-luzQuando os rapazes de verde e branco, entram em campo, é para ganhar; Não tenham medo, joguem à bola e a camisola é para suar.

Olha-se para o dérbi de ontem e fica claro que este cântico foi cumprido à risca pela nossa equipa. Olha-se para o dérbi de ontem e tem-se dificuldade em aceitar que a equipa que assumiu as despesas do jogo desde o início e que foi superior em todos os capítulos, chegue derrotada ao apito final. Olha-se para o dérbi de ontem e volta a ver-se um capítulo negro e vergonhoso do futebol português, onde quem apita tem a possibilidade de inverter toda a lógica de uma partida.

Veja-se, por exemplo, a questão dos duelos ganhos e das faltas, utilizada de forma cretina e intelectualmente desonesta como o treinador do benfica já nos habituou a ser cretino e intelectualmente desonesto. Diz ele, com aquela expressão que faz o Bruce Lee encarnar em mim, que a sua equipa se pode queixar de ter ganho muito mais duelos e ter sofrido muito mais faltas, sem que o árbitro agisse disciplinarmente. Não sei se ele se refere aos cinco mergulhos do André Almeida, aos três do Cervi ou ao fantástico duelo ganho pelo Luisão, ali quase com o jogo a terminar, ceifando Adrien mesmo à entrada da área. Sei que essa foi uma das formas pelas quais Jorge Sousa inverteu a lógica de um jogo que, pelas regras normais, seria verde e branco.

E se isto já seria suficiente para eu ter dormido mal, as outras formas pelas quais Jorge Sousa inverteu a lógica de um jogo que, pelas regras normais, seria verde e branco, deram-me uma noite fantasmagórica. O penalti cometido por Pizzi que resulta num contra ataque e no primeiro golo encarnado (ignorar que o médio ajeita a bola com a mão direita está ao nível de argumentar que, em Alvalade, ficou um penalti por marcar a favor do fcPorto por uma bola ue bateu no peito de um jogador do Sporting) e o ainda mais descarado penalti cometido por Nelson Semedo, tudo isto na primeira parte, são erros demasiado errados para poderem aceitar-se e ajudam a explicar a facilidade com que bonecos televisivos se arrogam na presunção de dizer que tatuam o símbolo adversário se perderem.

E com toda esta revolta que se acumula, quase me esqueço que há oito dias nos anularam dois golos limpos. Porra, não era isto que queria escrever. Dizia eu, com toda esta revolta que se acumula, quase me esqueço que também houve futebol, jogado por duas equipas com estratégias completamente diferentes: o benfica focado no contra ataque e nas correrias dos seus homens da frente, o Sporting focado em dominar, em construir, em ser a equipa capaz de jogar em todo o campo.

E foi tudo isso que se passou. Recordamos, hoje, aquele bailado do Gelson, logo aos sete minutos, que terminou num remate frouxo de pé esquerdo; o cruzamento do Pereira para a bola ser sacada ao Bas Dost ali junto ao penalti, o centro do Zeegelaar para a cabeça do Bryan que é defendida; o remate do Bruno César que é defendido; a emenda falhada do Dost. Isto tudo até aos 25 minutos de jogo. Depois viria o canto que deveria ter dado penalti por mão de Pizzi e um contra ataque encarnado bem montado que terminaria com o golo de Salvio.

O Sporting continuou a dominar, embora parecendo acusar o golo; o adversário achou sentiu-se ainda mais confiante no seu papel de jogar na expectativa à espera que algo acontecesse, como aquela bola que embate na cabeça de Ruiz e isola Jimenez. Vale a mancha gigante de Patrício, desviando com a mão, naquela que seria a sua única defesa em todo o encontro (ok, vá, encaixou um remate do Rafa).

Na segunda parte nada muda, a não ser o aumento de rotações por parte do Sporting, muito por culpa da entrada do frenético Campbell para o lugar do apagado Bruno César. E o costa-riquenho não demora a fazer-se notar: surge pela direita e atrasa para o remate de primeira de Bas Dost, com a bola a embater com estrondo no poste. Estávamos no primeiro minuto da segunda parte, a jogada continua e na área contrária o avançado mexicano do benfica aproveita o curto circuito de reacções dos defesas leoninos para fazer o 2-0.

O Sporting volta a encaixar duro golpe e volta a atirar-se para a frente. Não sei se é Ederson que defende, se nós que desaproveitamos os golos cantados. William primeiro, Bas Dost depois. O golo chega, com atraso, depois de enorme arrancada de Campbell com cruzamento perfeito para a cabeça do ponta de lança holandês. Faltam vinte minutos e só dá Sporting (sim, com o benfica a ter cada vez mais espaço para lançar as correrias de Rafa). As substituições não têm o efeito desejado (como é possível tirar Bas Dost a dez minutos do final?) e o tempo vai passando. Descontos, esses, nem vê-los, que as directrizes para castigar as perdas de tempo ficam para quando der jeito. E, ontem, como em tantas outras vezes, ficou claro que não dava jeito nenhum o Sporting passar para a frente do campeonato.