palhinhazenitNa pré-temporada Jorge Jesus quis provar à Direcção (e talvez até a si mesmo) que os bons prospectos que vinham da equipa B e alguns que até rodaram emprestados na I e II Liga não eram o que o Sporting precisava para tornar a equipa mais forte. Deu-nos a todos uma imagem terrífica dos nossos “miúdos” ao colocá-los frente a Mónacos e afins, sem o apoio fulcral de jogadores mais experientes e seguros ao seu lado. Tenho a convicção que JJ sabia o que estava a fazer e, limitado pela ausência de Patrício, Adrien, William e João Mário (com um Slimani resguardado para uma transferência) fez o que qualquer treinador faria na sua posição quando acredita que o que tem não chega. Literalmente “queimou” Podence, Geraldes, Mané, Palhinha, Iuri e Matheus que ficaram ligados de forma irrazoável a resultados negativos com Zenit, Lyon, Mónaco e PSV.

Não se entenda com estas palavras que JJ quis prejudicar o Sporting ou as chances de brilhar dos jogadores referidos. Muito pelo contrário. O treinador do Sporting deu de facto tempo de jogo e oportunidades a este talentoso lote de jovens, mas ao escolher adversários poderosos, e especialmente, mais adiantados na pré-época, sabia que as hipóteses de algo correr mal seriam mais do que previsíveis. Nunca se ouviu uma crítica negativa de JJ, mas não seria preciso, a imprensa e especialmente os adeptos concluíram exactamente o que era esperado: os “putos” não estavam ainda preparados.

A solução não seria aproveitar a mão-de-obra “jovem e inexperiente”, mas sim contratar. Ruiz e Spalvis já haviam chegado e lentamente entrariam Petrovic, Meli, Douglas, Elias, Markovic, Beto, Campbell, André, Castaignos e Dost. O avançado lituano lesionar-se-ia logo na pré-temporada, Petrovic nunca revelaria a estrutura de um remake de Matic, Meli foi uma espécie de fantasma argentino no plantel, Douglas só em Dezembro provaria que valeu a pena (talvez aplicar-lhe a dieta de Ruiz não fosse má ideia), Elias revelou-se útil, mas só (não culpo especialmente o jogador que se nota ter muita qualidade… mas não é, nem poderia ser, Adrien) Markovic e Campbell atravessam uma espécie de reabilitação, repleta de avanços e recaídas, entrando e saindo da equipa como um paciente alterna entre o bloco operatório e o recobro, Beto foi uma aposta 100% correcta e mostrou-o, André e Castaignos são como aqueles parafusos que sobram depois de montar exemplarmente um móvel do Ikea, olhamos para as instruções e não conseguimos descobrir onde poderiam entrar, Dost foi uma boa solução (embora alguém devesse explicar a JJ que as correrias de Slimani são passado e há que dar espaço à “matança” na área de Dost).

Em resumo, o scouting foi um desastre. Mais do que escolher maus jogadores, JJ e restantes responsáveis escolheram jogadores sem as características necessárias para se adaptar ao modelo do treinador do Sporting. A maior parte dos reforços experimentou mais do que uma posição na equipa, a grande fatia nunca se afirmou como titular. Não será difícil de concluir que muitos dos que chegaram precisarão de tempo de jogo e treino, muito trabalho técnico e táctico, precisamente o tipo de espaço e tempo que foi negado aos jovens da nossa formação.

Já o disse e volto a insistir que o maior erro desta temporada foi a escolha de reforços. Gastou-se muito dinheiro na tentativa de comprar talento imediato e muito desse investimento revelou-se bem abaixo das necessidades. Estes equívocos, para mim, resultam numa dificuldade de identificar o grau de exigência que se pede a um atleta quando lhe é pedido que substitua Adrien, William ou Slimani.

No ano passado, o nível competitivo atingido pela equipa foi tão elevado, que JJ talvez tenha ficado deslumbrado pela sua própria obra, valorizando (talvez) em demasia o seu trabalho e desvalorizando o talento e dimensão individual ou coletiva dos próprios jogadores. Encontrar João Mário’s, Adrien’s e William’s no mercado provou ser muito mais difícil do que parecia à partida e estamos a pagar em pontos perdidos essa diferença. Algo se perdeu na harmonia, no fio de jogo, na confiança que a equipa demonstrava na época passada e não será muito errado imaginar que a receita provou-se complicada de repetir, precisamente porque se juntaram ingredientes que alteraram o gosto do petisco, tendo o cozinheiro apostado em ir ao supermercado encher o carrinho, em vez de ir à loja gourmet selecionar um ou dois produtos estrela.

É certo que esta época o problema já terá uma solução tardia e duvido que os intervenientes (leia-se BdC e JJ) estejam motivados a rasurar a lista de contratações efectuada e gastar mais 10 ou 15 milhões em novos jogadores, duvido até que leiam o quadro exactamente como o descrevi. Mas o que não duvido é que acreditem que a folha salarial actual condiga com as prestações da equipa. E é aqui que voltamos aos “putos queimados” do início do post.

Podence, Geraldes, Mané, Palhinha, Iuri e Matheus (juntem-lhes uns ou subtraiam outros) são bons jogadores e quase que aposto que exibindo-se ao lado dos mais consagrados da nossa equipa, em jogos a sério, não farão pior figura que muitos dos “reforços” contratados. Não quero dizer que todos devam ficar, não digo que todos os reforços abandonem o clube, mas há que ter muito melhor critério em Janeiro do que foi exibido em Agosto para não jogar fora o bom e seleccionar o menos bom. Há, acima de tudo, que ter uma noção de equilíbrio entre o desenvolvimento dos atletas e as necessidades actuais da equipa principal.

Tirar Palhinha do protagonismo no Belenenses para fazer 2 ou 3 jogos até ao fim da época não é uma solução viável, tal como não será aconselhável pedir a Geraldes que venha fazer de Adrien em igual número de partidas. Ter pneus sobresselentes frescos e a brilhar guardados na garagem pouco adianta a um carro que persiste em patinar demasiado na estrada. Embora ninguém o diga, as exibições não têm sido tão boas como JJ ou o Presidente afirmam e mesmo considerando que a opinião visa proteger o grupo de trabalho, a verdade é que na hora de operar mudanças esse factor, pelo menos internamente, tenha de ser levado em (muita) conta.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca