O jogo tinha terminado há pouco e começavam a chegar-me as reacções a um empate com sabor a derrota. «Tivemos alguma falta de sorte. A equipa teve carácter, conseguiu dar a volta, mesmo com dez elementos, mas não fomos felizes. Sofremos um golo fortuito na parte final do jogo, já com poucos minutos para recuperar. Vamos continuar a lutar, estes jogadores deram tudo dentro do campo, mereciam a vitória. Foi pena», dizia Raul José, já sem o auricular que o manteve em contacto com Jorge Jesus ao longo de toda a partida. Adrien Silva, capitão de equipa, deixava um meio perdido «Faltou-nos felicidade…»

Lá está, isto do futebol tem muito que se lhe diga. E se me perguntarem o que penso, não me parece nem que possamos queixar-nos da sorte nem que possamos afirmar que demos tudo dentro de campo. O Sporting teve três oportunidades de golo e marcou dois (o adversário fez o mesmo em três remates). Entrou a dormir, mesmo sabendo que este jogo valia mais do que três pontos, jogou a passo durante a primeira parte, tentou mais em força do que em jeito quando se viu apertado pelos ponteiros do relógio, numa confrangedora inexistência de fio de jogo e todas as fichas apostadas na jogada tempestade: esperar que um dos relâmpagos (Gelson ou Campbell) ilumine a noite e que o trovão holandês estremeça as redes adversárias.

Foi isso o Sporting ao longo de 90 minutos. Tem sido esse o Sporting ao longo de demasiados 90 minutos, tanto que chegamos à viragem do campeonato com a pior primeira volta dos últimos quatro anos. Não admira. Hoje, o Sporting é uma equipa previsível. Demasiado previsível. E, à medida que as semanas passam, não surge o raio de um plano B, nem uma definição final para um plano A que continua limitado pela ausência de um jogador que faça a diferença jogando atrás de Bas Dost (que enorme jogador. Que luxo ter um profissionalão destes e outro como Coates, com a diferença de que o uruguaio deve ter vontade de esmagar tudo e todos enquanto o holandês se deve sentir uma Amélie Poulain atraiçoada na sua missão de espalhar felicidade).

dostchaves

E, depois, aquilo que não se percebe. Como é que vamos jogar a Chaves, uma equipa em tudo semelhante ao Rio Ave, e somos capazes de nos apresentar em campo com os mesmos equívocos tácticos que valeram o esbardalhanço monumental em Vila do Conde (o Chuta Chuta não ganhou essa alcunha a jogar a defesa esquerdo)? Cinco minutos e estava tudo ali: a equipa a entrar a dormir, o adversário a rasgar pelo nosso lado esquerdo. Toma um ameaço, toma um golo e agora vem cá para cima e deixa-nos corredores livres para jogarmos como sabemos. Inacreditável, exasperante, desesperante. E se um gajo sente o estômago a embrulhar-se quando vê isto a kms de distância, imagino o que sentiram os milhares de Leões e Leoas que não hesitaram em encher o estádio adversário em mais uma prova de inequívoca paixão.

Depois foi um deserto de ideias até ao intervalo. Ou até aparecer o primeiro relâmpago/trovão, mesmo antes da ordem para recolher aos balneários (marcar numa altura destas não pode ser falta de sorte ou de felicidade). No regresso, Bryan e Balada no lugar de Campbell e de Alan Ruiz (aquele passe sem nexo, a meio da primeira parte, para Campbell correr à toa, seguido de um recuperar posição a passo é coisa para tirar anos de vida a qualquer Sportinguista), procurando nova dinâmica.

A equipa ganha capacidade para jogar em espaços curtos e para tentar transições com mais apoios e aqueles básicos 1-2-1 que permitem progredir e desorganizar o adversário. Mas nem oportunidades nem a capacidade de enfiar o adversário lá atrás e socá-lo até ao ko. Depois, a expulsão de Ruben Semedo (tão estúpida como as três ou quatro vezes em que nos últimos dez meses não soube lidar com o facto de já ter amarelo, algo que se pressente da bancada, mas não do banco) e o golo quando o adversário sorria (marcar numa altura destas não pode ser falta de sorte ou de felicidade). A vitória estava ali, o encurtar de distância para o primeiro classificado estava ali, o raio da felicidade estava ali. Mas depois o tal do Flávio resolveu marcar o golo da sua vida (dizer que a culpa é do Rui é tirada de quem percebe tanto de futebol como eu de macramé) e lixou-nos a nossa de forma incontornável.

Daqui por três dias há mais. No mesmo estádio, com o mesmo adversário, ainda com mais frio, num jogo a eliminar. Dava jeito um bocado mais de Sporting. Ou então, fiem-se na sorte…