Aposto que esta manhã, quando dois ou mais Sportinguistas se cruzarem nas suas mais diversas actividades “domingueiras”, a conversa iniciar-se-á mais ou menos assim:
– Viste o jogo?
– Epá, nem me digas nada. Já se acabou a época.

Depois, pelo meio, existirão insultos a quase todos os jogadores, questionar-se-á o modelo de jogo, as contratações, o treinador e o presidente. Talvez se fale na arbitragem, mas o chavão mais forte será “já sabemos que temos que correr mais do que os outros”. E é aqui que reside o maior problema. Mas já lá vamos, porque embora eu conseguisse resumir o jogo de ontem num parágrafo de quatro ou cinco linhas, os meus companheiro de luta merecem uma crónica.

Quando os onze são anunciados, a grande surpresa é a colocação de Palhinha no lugar de William Carvalho. Mas há mais. Schelotto volta à direita da defesa, Marvin regressa à esquerda, Bruno César sobre no terreno. Mudam as peças, não muda esta maldita mania de entrar nos jogos de forma desligada, como se fosse necessário um choque eléctrico para trazer a equipa de volta à vida. É o que acontece. Um mau passe de Coates (um dos piores jogos de Leão ao peito, talvez por incapacidade de lidar com o circo mediático armado em redor do seu nome), falta de Paulo Oliveira (o melhor da defesa, justificando a titularidade no futuro mais próximo), livre descaído sobre a esquerda. Cobrança feira ao poste contrário, com Rui Patrício a mostrar que atravessa o seu pior momento dos últimos cinco anos e a posicionar-se tão mal que o resultado é a bola dentro da baliza.

Os mais pessimistas exclamaram “já fomos”, dentro de campo a equipa deu grande resposta, nomeadamente pela direita, onde Gelson e Schelotto mostraram que havia raça e vontade de ir atrás do prejuízo. O Sporting pegou no jogo e, finalmente, as bolas paradas foram armas. Coates ameaçou no primeiro cruzamento de Adrien, Bas Dost não perdoou face a nova falta marcada pelo capitão. Elevação enorme do holandês, indo mais acima que todos e fuzilando a rede adversária e festejando com raiva o seu 14º golo em 31 marcados pelos Sporting…

Talvez pensando que é uma pena a equipa não estar devidamente trabalhada para dar golos em catadupa ao Trovão que tem no eixo do ataque, os Leões encolheram as garras. Aproveita o Marítimo para voltar a criar perigo, primeiro com uma valente pantufada de Dyego Sousa que embate com estrondo na barra, depois com um livre que apanha toda a equipa leonina petrificada e Rui Patrício completamente atarantado. Faltavam dez minutos para o intervalo e o Sporting sofria o segundo golo nos Barreiros, algo que não acontecia há 30 anos! E o golpe foi tão forte que o que restou foi um suplicar pela chegada do intervalo.

Ao intervalo Jesus deixa Zeegelaar a lavar-se e lança Alan Ruiz, talvez procurando motivar o argentino com o clima mais primaveril da ilha. O problema é o mesmo de sempre: o Sporting tem toda a posse de bola, mas o seu futebol não causa mossa, ao contrário do adversário que rapidamente a coloca em zonas de perigo. Até que Bruno César lá desce pela ala esquerda e cruza para a área, onde aparece Gelson a marcar um golaço pela rapidez de execução entre a recepção com o direito e o remate, já pressionado, com o esquerdo. Falta meia hora. É acreditar.

E o Sporting acredita, já com William no lugar de Palhinha (estreia competente) a dar maior largura ao jogo verde e branco. Adrien parece que vai desmaiar a qualquer momento, mas cerra os dentes e aproveita o parceiro fresco para agarrar o meio campo. A posse de bola sobre em flecha, as oportunidades de golo não surgem. Até aos 80 minutos, mais coisa menos coisa. Adrien dá para Bas Dost, o craque desmarca de primeira Alan Ruiz, o argentino mete a bola lá dentro. Golo limpo, anulado pelo fiscal de linha que não tinha tido dúvidas em deixar seguir, por exemplo, a jogada em que Dyego atirou à barra.

Depois de tudo isto, gostava que esta manhã, quando dois ou mais Sportinguistas se cruzarem nas suas mais diversas actividades “domingueiras”, a conversa se iniciasse mais ou menos assim:
– Viste o jogo?
– Foda-se! Esta merda só lá vai quando um gajo destes levar no cornos a sério!
– Concordo! Epá, cometemos vários erros, defendemos mal, mas aqueles gajos deram tudo em campo! Viramos o jogo depois de duas vezes em desvantagem e anulam-nos um golo limpo?!?

O problema é que isto vai acontecendo tantas vezes que nos esquecemos que, à conta de brincadeiras do apito, já lá vão pelo menos sete pontos esta época. O problema é que isto vai acontecendo tantas vezes que até os mauzões de serviço trocaram o seu papel de defensores do clube contra os de fora por visitas à Academia e comunicados a pedir responsabilidades.  O problema é que isto vai acontecendo tantas vezes que o apontar de dedo aos microfones dos principais canais e estações de rádio não se ouve. O problema é que isto vai acontecendo tantas vezes que se vai banalizando a ideia de que foi só mais um cabrão que roubou o Leão.

goloanulado