pinturaO Sporting pode vencer este campeonato? A primeira resposta, que nos diz a cabeça e a esperança já tantas vezes pisada, é que não. Como, num campeonato tão pouco competitivo e com os nosso rivais directos a vencerem quase todas as semanas, é que uma equipa a 7 pontos, com clássico, derby e visita a Braga pelo meio, pode sequer ter tal expectativa? Provavelmente não pode.

Mas este clube, que nasceu gigante e gigante se fez, é constantemente desafiado pelas diferenças entre a expectativa e a tabela classificativa, principalmente nas últimas décadas. Aprendemos a gostar de um clube que luta por títulos, que é habitual vencedor, que tem das melhores equipas, os melhores adeptos e que nunca se dá por vencido. Ou pelo menos foi isso que nos disseram. Mas, quase sem darmos conta, esse clube desapareceu, ficando apenas nas mãos com uma enorme massa associativa que lhe permite continuar a ser palco principal do futebol português.

Por isso mesmo tantas vezes implodimos, tantas vezes entramos em colisão, tantas vezes transformamos problemas normais em ciclos de crise e tantas vezes alterámos o projecto na esperança que ao fazer totalmente diferente pudéssemos acabar com uma sede que só se resolve com o mais esperado título. Perceber o fenómeno de futebol, e acompanhar o mesmo durante tantos anos, leva-nos a uma conclusão lógica: para vencer o campeonato o Sporting tem de ganhar os próximos 15 jogos e isso nunca foi feito em Alvalade. Nem em Alvalade nem em muitos outros campeonatos ou clubes bem mais poderosos.

O Chelsea bateu o seu recorde de vitórias consecutivas, com as mesmas 15, esta temporada. O Real Madrid, que estava numa das épocas mais negras da sua história recente, arrancou para uma sequência parecida e terminou a temporada com uma Champions e a um ponto apenas do primeiro lugar. Mas em Portugal isso é raro, muito raro, e os “artistas” em campo têm outras valências.

O Sporting não joga a futebol que nos convença que consegue cilindrar qualquer adversário por 15 vezes consecutivas. Não temos a segurança defensiva nem as alternativas atacantes que nos transmitam segurança. E, pior que tudo, a equipa deixou de acreditar que é a melhor em Portugal, apesar de o ser, e o seu jogo foi caindo e caindo, passando por autênticas sequências da “casa dos horrores” até nos afastarem do título.

Cabe a estes jogadores revalidar forças, ganhar a coragem e o coração que lhes permita ultrapassar as dificuldades técnicas e tácticas que já aqui descobrimos. Cabe ao treinador focar o balneário naquilo que é essencial: ganhar, ganhar, ganhar. Sem ou com espectáculo, todos em campo têm de dar o máximo para marcar e impedir que uma bola entre. Porque apesar de todas as dificuldades e de tudo o que nos diz a lógica, o título é possível, os rivais não são assim tão consistentes e os reforços que chegaram acrescentam Sportinguismo, concorrência interna e qualidade.

Se vencermos o título, é a reviravolta mas épica do futebol português. Se não o fizermos, como quase nos diz a matemática, dormiremos todos descansados sabendo que aconteça o que acontecer existiu algo nesta equipa e naqueles jogadores que nos fez acreditar quase até ao fim. Que nos fez ir até ao estádio, apanhar chuva, frio, calor infernal e filas intermináveis, apenas porque não nos limitámos a sonhar com um simpático segundo lugar, fomos loucos o suficiente para nos projectarmos a um objectivo condizente com o nosso símbolo.

Há sempre alguma loucura no amor. Mas há sempre um pouco de razão na loucura.
Friedrich Nietzsche

*às quintas, a Maria Ribeiro mostra que há petiscos que ficam mais apurados quando preparados por uma Leoa