brunoComo prometido, depois de olhar para o Programa Eleitoral de PMR, vou tentar na medida do meu possível olhar para as medidas que a lista de BdC propõe para o próximo mandato.

Como é afirmado várias vezes no documento e de certa forma acaba por ser evidente no tipo de soluções propostas, este é um trabalho de continuidade que assenta os seus pressupostos no que já conhecemos do modus operandi desta direcção: aproximação e captação de associados e rentabilidade desportiva. Para isso foram desenhadas 111 medidas. Nem todas merecem a mesma reflexão, nem todas estão enquadradas o suficiente para que entendamos agora o seu impacto ou onde estarão colocadas na lista de prioridades. Vamos a isto:

1/ Call Center, CRM e Centro de Atendimento – A promessa é a de elevar os padrões de qualidade de acompanhamento, informação e resolução de problemas dos sócios. Em boa hora este tema deve ser encarado com mais seriedade. Embora tenha melhorado no último ano, a verdade é que no início do mandato desta direcção ai do sócio que tivesse qualquer dúvida ou problema para resolver…o labirinto e o tempo que podia consumir ver resolvida uma simples questão de pagamento, cartão ou bilhética foi um sério revés para muitas pessoas. 

2/ Clube Jubas – É assumido até pelos nossos rivais que a nossa mascote tem um factor de popularidade entre os mais novos invejável e no entanto é mal aproveitada. Quem tem filhos mais pequenos sabe que o Jubas é muitas vezes o ponto forte de uma ida a Alvalade e o Sporting tem rentabilizado pouco esse “star quality” da sua mascote. A criação do Clube Jubas é um passo na direcção certa, mas pede-se muito mais ao nível do merchandising e acessibilidade das crianças ao contacto com a mascote em dia de jogo.

3/ Assembleia Geral a meio do mandato – É uma ideia interessante e pessoalmente acho positivo que as Direcções prestem contas aos associados com regularidade. Desde que salvaguardada a atempada distribuição de relatórios, sou completamente a favor. Receber o documento no dia de o apreciar não dá tempo para grandes análises.

4/ Reforço do Departamento de Scouting – Especialmente este ano, mas ao longo de muitos mais, o Sporting vive numa espécie de limbo de scouting. Não ponho em causa a valia profissional de quem lá trabalha ou trabalhou, mas a transferência de mais poder de influência para JJ pode ter esvaziado a capacidade ou a utilidade dos scouts mais influentes do clube. Erro crasso. Se queremos os melhores negócios, os melhores jogadores, as melhores rentabilidades, temos de ter os melhores scouts. Tal como em tudo na vida é o know-how e a qualidade dos recursos humanos que faz a diferença. O upgrade informático é obrigatório, mas o investimento na qualidade humana é a pedra de toque neste capítulo. Pagar bem a quem trabalha bem.

5/ A equipa B é para manter – E ainda bem! Já aqui falei muito sobre isso e acredito que revistas alguma políticas de tubo de ensaio que não resultaram, voltemos à base natural que é o desenvolvimento dos jogadores saídos dos Juniores, com a entrada de poucos (mas mesmo poucos) atletas para posições carenciadas de qualidade. 

6/ Criar um “clube parceiro” na zona Norte do país – A proposta é vaga e carece de maior enquadramento. Estaremos a falar de um satélite ou de um clube de Primeira Liga?

7/ Criar um novo modelo de angariação de sponsors para as modalidades rentabilizando a mais valia do Pavilhão João Rocha – Além de necessário é inteligente fazer do novo Pavilhão um trunfo para as modalidades poderem gerar as suas próprias receitas. Criar modelos tecnológicos que permitam a mutação de publicidade era fantástico, mas não sei se é esse grau de desenvolvimento que está por detrás desta proposta.

8/ O retorno do Voleibol – Qualquer regresso de qualquer modalidade é bem-vindo. Entre o Basquetebol e o Voleibol não tenho preferencia e apenas acho que ninguém desdenhará um modelo de regresso que se inicie pelos escalões de formação até completar os seniores. Pode demorar mais anos, mas tenho a certeza que será mais sustentável e sobretudo mais racional.

9/ Sporting Multimedia – A comunicação do clube é um issue a ter em melhor conta no próximo mandato e concordo com as propostas do documento embora realce que deve ser dado aos profissionais ou subcontratações mais meios para construir e implementar estratégias a longo prazo. Não é possível criar valor acrescentado tendo uma política de reação permanente e zigue-zague temático. O futuro está em boas Redes Sociais, um site alimentado e acarinhado internamente e sobretudo um Jornal transversal a todas as plataformas. Esse trabalho de articulação já foi começado, mas precisa sobretudo de mais investimento de recursos.

10/ Rádio Sporting – Pode parecer à primeira vista um projecto com alcance diminuto, mas olhando para o espectro demográfico é uma experiência que pode ter os seus trunfos. Repetir o modelo de subcontratação chave-na-mão da SportingTV teria a minha simpatia. 

11/ Reforçar o produto Sporting Corporate – é um dos capítulos mais insatisfatórios deste mandato e concordo absolutamente em fazer desta oferta algo mais atractivo às empresas em território nacional. Mais uma vez, o reforço com bons profissionais pode fazer a diferença e esses não são os que pedem meia-dúzia de tostões, são os que trazem muito dinheiro à casa.

12/ Estádio Inteligente – Ora…ora…grande ideia. Se algum de vocês for como eu e gosta de mandar a sua laracha durante o jogo, sabe que ou tem um pacote de dados generoso ou passa 2 horas afastado do mundo digital. A rede Wi-Fi é hoje um must have em qualquer espaço publico e muito deve ser trabalhado para garantir esta e outras funcionalidade. O nosso estádio pode não ser dos mais bonitos, mas podia sem dúvida, ser o mais friendly para todas as gerações.

13/ Merchandising – Estamos a milhas de uma estratégia de LIcensed Products dos grandes emblemas europeus e a alguns passos seguros do nosso vizinho da 2ª circular. Não precisamos de entrar no modo “urnas, corta-unhas ou vestidos de noiva”, mas podemos ter a perspicácia e a elegância de vender aquilo que as pessoas “normais” querem comprar.

14/ Dinamização da Área de Eventos – Tendo um pavilhão novo em folha, é quase criminoso não investir na atração de eventos quer para o Estádio, quer para o Pav. João Rocha, quer para uma oferta que contemple ambos os equipamentos numa macro-estrutura mais ágil e sobretudo com preços mais atractivos. Também nesta área estamos a adiar soluções estruturadas e sobretudo um trabalho de divulgação necessário exclusivo a operadores do mercado. Ao contrário do que possa parecer, não é só ter o produto e esperar pelos interessados. 

15/ Tour Sporting – Boa ideia e vai ao encontro dessa massa de turistas que invade a capital de Janeiro a Dezembro. Não esquecer também que aos sócios deve ser dada primazia de pelo menos a primeira destas Tours ser gratuíta.

16/ Naming Rights – Aqui é simples. Ou é muito bom financeiramente ou não vale a pena. Acredito que baste um grande título para colocar o nosso emblema a circular em valores mais interessantes, saber esperar também é uma arte negocial.

17/ Jogos Santa Casa exclusivos – Sinceramente não ia por aqui. Não me parece que criemos oferta diferenciadora e logo…

18/ Dotar os Núcleos da capacidade de imprimir bilhetes – Excelente medida. Era para ontem.

19/ Torneio E-Sports – Para os que tiverem mais de 30 anos, esta medida pode dizer pouco, mas para muitos jovens este tipo de eventos é ouro sobre azul. O Sporting deve apostar no rejuvenescimento do seu modelo de clube e os video-jogos assim como as Redes Sociais, RV, Wi-Fi, são ferramentas de “boa pesca”.

20/ Congresso dos Núcleos – Boa ideia. Partilhar, partilhar, partilhar. As grandes instituições estão vivas, têm ideias, querem inovar e sobretudo comunicar entre as suas células mais leais e “on the field”.

21/ Criar reservas progressivas nos Orçamentos para recomprar as VMOC’s – mais do necessário é urgente olhar esta alocação de verbas como prioridade máxima. Os anos passam rápido. 

22/ Plano de valorização dos quadros de funcionários do clube – Deixo para último a medida mais importante, a meu ver. Ninguém olhará duas vezes para estas linhas no programa, mas valia a pena que no Sporting se levasse a sério este compromisso. Os clubes são os seus sócios, mas também são os seus funcionários. E ter empregados motivados é o mais importante numa estrutura. Num bom ano desportivo os gestores das SAD´s recebem prémios avultados, mas ninguém se lembra de premiar os trabalhadores menos mediáticos, menos glamorosos. Mas eu aposto que se o Sporting for um excelente empregador, irá ter excelentes resultados.

Em resumo, o prospecto é ambicioso e marca claramente uma evolução em relação ao primeiro programa. Realço a visão de olhar para as novas tecnologias e para as novas gerações de associados e o compromisso com o Universo Leonino nas suas variadas plataformas de comunicação. Se levado a sério e especialmente com os recursos adequados, muitas destas medidas empurrarão o clube para ser um pouco melhor do que é hoje. Volto a frisar que mais do que papel, projectos e ideias…o importante são as pessoas que encabeçarão estes caminhos. Será a sua vitalidade, sportinguismo, experiência e pragmatismo que fará deste programa ser mais do que apenas letras num documento. No Sporting devem estar grandes profissionais e grandes sportinguistas e não só os que conhecem.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca