O blogue Tu Vais Vencer desafiou-me para uma entrevista onde tive oportunidade de transmitir uma parte do que eu penso a respeito do momento actual do Sporting e das eleições que estão à porta.

Agradecendo uma vez mais o convite, deixo-vos a conversa que, com mais tempo, daria pano para mangas bem mais compridas (entretanto podem clicar aqui e dar uma volta pelo blogue)

És um bastião da defesa do Sportinguismo, o que te motiva a escrever diariamente?
Em primeiro lugar é, precisamente, essa vontade de preservar e exaltar o Sportinguismo. De ajudar o meu clube a ser cada dia maior, sabendo, obviamente, que o meu posicionamento pode não agradar a todos. Aliás, sinto, muito sinceramente, que esse é um dos grandes desafios que se me colocam: manter-me como uma espécie de desalinhado. Foi isso que me trouxe do Cacifo à Tasca, foi isso que se tornou traço distintivo. As pessoas sabem perfeitamente o que eu penso, como penso, quem apoio, mas valorizam o facto de tudo isso se expressar de forma personalizada, recusando o “assobiar para o lado”. É esse o Sportinguismo que procuro transmitir.

Depois, incontornavelmente, os milhares de Sportinguistas que seguem a Tasca, cerca de seis mil diariamente, são motivação para continuar. Há muito que isto ultrapassou o ser um blogue para transformar-se em algo que tem reflexo na vida real. Há uma paixão comum que une pessoas por todo o mundo, pessoas que vivem o Sporting de formas diferentes e que aqui encontram um ponto de encontro quando não se encontram pessoalmente. Ser um dos motores dessa paixão é uma missão que me traz uma responsabilidade e um prazer acrescidos, ainda para mais numa altura em que parece ter-se implementado uma moda ridícula em que é cool medir o Sportinguismo.

Que opinião tens sobre a restante blogosfera leonina?
Não vou referir nomes porque corro o risco de esquecer-me de algum, mas a blogosfera leonina, na qual incluo algumas páginas de apoio e outros projectos que vão surgindo com maior força através do twitter, tem altíssima qualidade. O segredo para que essa qualidade se mantenha e continue a aumentar está, precisamente, na capacidade que cada um dos autores tenha de fazer sobressair a sua identidade.

Vivemos tempos em que os bastidores do desporto, nomeadamente do futebol, se jogam muito ao nível das redes sociais. É incontornável. Falamos de um meio de comunicação de massas que, a seu tempo, esmagará o próprio conceito de televisão tradicional e vejo-o pela minha filha que, com sete anos, não teria problema algum em ver tudo o que tem a ver num tablet ou num telefone. Não admira, por isso, que surjam cada vez mais páginas cujo conteúdo é trabalhado pelos próprios clubes e difundido por uma “marca catchy”, bem divulgada por meia dúzia de pessoas que estão presentes em dezenas de grupos (sim, criar grupos e estar em grupos, influenciando opiniões e recolhendo estados de alma, posteriormente passados a quem de direito, faz parte do trabalho de pessoas dos mais variados clubes, incluindo o nosso).

É a chamada massificação de guerrilha, com o risco de nos sentirmos saturados de mensagens panfletárias. É neste cenário que se torna tão importante cada um destes blogues ou destas páginas preservarem a sua identidade e a sua forma de viver o Sporting, oferecendo alternativas a um público tremendamente eclético.

E como vês o actual estado do Sporting (tanto futebol como modalidades)?
Bem, se fosse sempre como este fim-de-semana seria um sonho! Ainda há coisa de uma semana o atletismo limpou tudo no nacional de pista coberta e este é um daqueles anos onde terão que ser as modalidades e os escalões de formação do futebol a dar-nos alegrias. Não é fácil gerir uma situação destas, pois todos sabemos o peso que o futebol tem, mas acaba por ser mais uma missão para toda a nação leonina: perceber que o Sporting é muito mais do que futebol e conseguir transmiti-lo às gerações mais novas.

Há tanta modalidade com as nossas cores que podemos formar personalidades capazes de valorizarem o clube na sua plenitude e de o sentirem como algo realmente grande, bem maior do que o futebol. Aliás, só assim se explica que com quatro campeonatos em quarenta anos tenhamos centenas de milhares de crianças a vestirem a verde e branca, como ficou bem expresso naquele momento fantástico que foi o primeiro jogo de futebol feminino realizado em Alvalade.

Mas voltando à tua pergunta, penso que o Sporting vive a ânsia de ganhar. Tudo. Todos queremos isso, do presidente ao adepto menos expansivo. Consegui-lo é algo que leva tempo, que dá muito trabalho a alcançar tal como dá muito trabalho passar essa mensagem de ser necessária paciência.

Esta época é uma tremenda desilusão no futebol, isso é incontornável e extensível à equipa B (pode ser que tenham acordado com a vitória frente ao Aves), embora sejam altas as expectativas em relação às camadas jovens e a recuperação do futebol feminino mereça prolongado aplauso. Mas, depois do atletismo, acredito que o futsal, um excelente exemplo de organização e crescimento sustentado, voltará a dar-nos imensas alegrias, sem esquecer projectos como o ténis de mesa ou os desportos adaptados, algo que qualquer Sportinguista deve orgulhar-se. Há longos caminhos a percorrer no rugby e no basquetebol, veremos se o ciclismo nos reserva alguma boa surpresa depois da boa prestação na Volta ao Alentejo. O andebol ainda vai a tempo de endireitar as escorregadelas (não faltam recursos humanos de qualidade para isso) e o hóquei merece que se tente manter a base criada este ano, incluindo o treinador, para voltar a sagrar-se campeão nacional.

Quais os pontos altos e baixos destes últimos 4 anos?
Vou resumir, muito, esta resposta, porque nestes quatro anos existe diversa obra feita, tanto a nível financeiro, como a nível de infraestruturas, como, obviamente, a nível desportivo. E, por isso, te digo que o melhor destes quatro anos é teres conseguido reconstruir uma casa em escombros e que vias o risco de ser penhorada e de te obrigarem a pegar na trouxa e a recomeçares assente na força daqueles que te apoiam nos bons e nos mais momentos.

O pior vem, incontornavelmente, associado ao péssimo ano futebolístico, agravado pelo sentimento crescente de que o futebol se joga mais nos bastidores do que no relvado. Ainda assim, onde quer que jogue a nossa equipa, as bancadas enchem e pintam-se com as nossas cores, como que deixando uma mensagem clara: apesar do cansaço fazer com que alguns Sportinguistas já nem se importassem de ganhar utilizando estratégias menos dignas, a maioria sente orgulho nessa luta de defesa do mérito. Essa máxima é um dos maiores legados que podemos deixar a todas as crianças a quem vamos passando esta paixão.

Com o teu passado, que conselho tens para a comunicação do Sporting?
Mais paixão. Mais Sporting. Faz tanta falta…

E as eleições?
Será inacreditável outro desfecho que não a reeleição de Bruno de Carvalho. Porque merece a oportunidade de tentar consolidar o trabalho que fez e transformá-lo em muito mais vitórias. E porque o outro candidato tudo tem feito e dito para merecer ser derrotado.

O que podia dizer PMR para conquistar o teu voto?
Podia começar por saber a data de uma gravação que quis utilizar para voltar a atacar, a nível pessoal, o outro candidato. Alfinetadas à parte, por mais que se esforçasse Pedro Madeira Rodrigues jamais conseguiria o meu voto. Além dos tiques que fazem lembrar o pior de alguns ex-presidentes e ex-candidatos, além de uma campanha assente no ataque pessoal que nos fez regressar a 2011, estamos a falar de alguém que apresenta total ausência de carisma e que, aos meus olhos, surge como o rosto de um conjunto de interesses camuflados. No fundo, se tivesse que votar nele… votaria em branco.

E Bruno para o manter?
Conforme disse, sou da opinião que Bruno de Carvalho merece a oportunidade de poder trabalhar sobre o chão de uma casa reerguida por ele e pela equipa que escolheu. É esse o seu maior mérito. O próximo passo será saber não se desviar do rumo escolhido. E rodear-se das pessoas certas para construir o tecto e decorar as paredes com imagens de conquistas em todas as modalidades.

Sou da tua opinião que não podemos estar sempre junto da política “zero ídolos” e, como tal, qual é o teu grande ídolo do actual Sporting?
A política “zero ídolos” é um disparate de adultos amargurados. Como é que se diz a uma criança que era o que mais faltava era usar uma camisola do Patrício, do Coates, do Adrien, do William, do Gelson, do Thunder Dost; que era o que mais faltava era querer ser um Girão ou um Asanin, que não pode saltar como a Mamona, marcar golos como a Solange, ir a todas como a Capeta, que não pode usar um carrapito como o João Matos ou gritar como o Nuno Dias?

Deixem-se de recalcamentos e aproveitem o tanto de bom que os nossos profissionais nos dão para cativar, cada vez mais, os mais novos! De caminho, deixem as amarguras de lado e sejam um bocado mais crianças.

Já não vamos ter muitos jogos até ao final do campeonato. O que esperas da equipa e de JJ?
Que ganhem os 11 jogos que faltam, se possível com laivos de bom futebol, que o Bas Dost seja o melhor marcador e que no fim se façam as contas. Poderia acrescentar que gostava de ver serem lançadas as bases para o próximo ano e que essas bases passassem por jogadores como Matheus Pereira ou Francisco Geraldes, mas… se quiseres um dia destes falamos sobre o futuro com JJ e de JJ. Dá, só por si, uma entrevista.