O voto, como direito, deve ser universal e todos devem valer igual, para evitar que, sob qualquer pretexto, haja pessoas de primeira e de segunda. Ora isso, actualmente não se verifica. Nem no Sporting onde os mais velhos são mais gente que os mais novos, nem nas nossas “democracias” em que se diz a um jovem que não tem idade para ser gente. Porque os mais novos são influenciáveis? todos? (conhecemo-los a todos, melhor que eles próprios) e os mais velhos não são? Todos? e não ficam senis? Nenhum? e não há gente de meia idade estúpida e alheada? Também os vamos impedir de votar?

Não concordo com qualquer restrição ao voto universal e unitário. Mas até nos aspectos em não se trata de um direito, mas de uma responsabilidade e que, por isso, pode haver limitações é mais do que evidente que vivemos numa gerentocracia. Por exemplo, diz-se a alguém com menos de 18 anos que, por melhor que pudesse conduzir, não conduzirá, porque pode ser pouco maturo. Mas limite máximo nem pensar, mesmo para quem esteja carregadinho de limitações físicas e intelectuais.

Quanto diz que o que a idade traz é sabedoria, respondo-lhe com a minha história de vida. No início da minha carreira profissional, eu e os meus colegas, embora muito mais qualificados, e trabalhando muito mais, que uma elite de “experiência e sabedoria” fomos completamente emprateleirados. “São novos, na pensam” diziam eles. Foi com muito custo, muito sacrifício, muitas lágrimas que provámos o nosso valor. E de início, a única forma de o fazer foi fazer o trabalho todo e deixar um “experiente” assinar as cartas de envio (numa porra de uma língua que nem falava e que nós, ao contrário deles, aprendíamos para poder trabalhar). As cartas de elogio e recomendação começaram a aparecer. Os Clientes começaram a pedir mais e maiores projectos. Fui convidado para a administração. Demiti-me da administração quando negaram o meu plano de emparelhar os rendimentos dos colaboradores com o rendimento e a qualidade do seu trabalho. “Vendemos qualidade, compremos qualidade” disse eu, “Sabemos que há gente que está 30 anos desactualizada e que ganha 3x mais que os outros, mas são praticamente da nossa família, e não vamos abdicar de meter estagiários pagos pelo IEFP a custo zero, depois vêm outros”, responderam eles. Mas não queriam que me demitisse. Propuseram um departamento “para mim”. Aceitei, mas com um número fiscal diferente. Hoje, a empresa mãe, com os seus “experientes” não sobreviveu ao período 2010-2016. Fechou o ano passado. O departamento “dos meninos” é hoje a única pequena empresa do ramo a contratar, temos trabalho já adjudicado e em espera até meio de 2018. Tudo graças aos meninos, que são competentes, trabalhadores incansáveis e bastante humildes. Obviamente que, no decurso desta década, mudámos a abordagem, os meios e a estratégias várias vezes, o que nunca teríamos feito se “já soubéssemos tudo e fossemos muito experientes”. Somos orgulhosamente “garotos”, como BdC.

Isto já vai longo. Termino como quando me demiti: “Vós, que acham que é legítimo e decente não pagar o trabalho de um recém-licenciado porque o estão a deixar ganhar experiência, preparem-se para não receber reforma, porque os vão deixar gozar o vosso tempo livre sem trabalhar”