«O William já estava cansado, depois de ter feito uma primeira parte excelente com bola e sem bola. O Palhinha é um jogador mais defensivo, mas não tem uma saída tão forte. Tivemos de descer mais e de recuar, acabando por não conseguirmos segurar a vantagem que tínhamos

Na cabeça de Jorge Jesus esta explicação parece simples, na minha tem muito que se lhe diga. Mas já lá vamos. A verdade é que, tal como em Guimarães, o Sporting desperdiçou dois pontos por culpa própria e com interferência de um árbitro que fez questão de reforçar tudo o que de prejudicial tem feito à equipa de Alvalade, apostando numa exasperante dualidade de critérios e transformando em amarelo uma entrada grosseira às pernas de Bruno César que justificava o vermelho directo a Zungu, por volta dos 25 minutos.

Antes disso, tinha sido o Guimarães a dar o primeiro sinal de perigo, num remate de Hernâni que Rui Patrício, no dia em que se tornou no quinto jogador com mais partidas disputadas pelo Sporting, defendeu junto ao poste. Os vitorianos eram perigosos no contra ataque, nomeadamente pela esquerda onde o Esgaio levava regularmente com as investidas do lateral e do extremo sem que tivesse a devida ajuda.

E por falar em esquerda, o Sporting tinha muita qualidade a sair de pés esquerdos. Bruno César, a fazer de Adrien, Bryan Ruiz e Alan Ruiz. inventaram várias vezes trocas de bola deliciosas à vista, mas pouco objectivas. Do outro lado, Gelson era todo ele objectividade:  fazer o lateral adversário chorar. E fê-lo, uma mão cheia de vezes, infelizmente sem, depois dar o correcto seguimento aos lances e definindo mal o último passe. William parecia estar num daqueles jogos em que acabaria a engolir o meio-campo, Coates e Oliveira iam fechando tudo depois de um início desconcentrado (principalmente do uruguaio) e, lá na frente, o Sr. Perfeição. Dei por mim a sentir pena de Bas Dost, capaz de fazer tudo, repito, tudo bem, sem que a equipa estivesse à sua altura.

O golo verde e branco, à passagem dos 35 minutos, é disso exemplo, com o holandês a enganar tudo e todos e a trocar o cabeceamento para a baliza por uma assistência para o golo de Alan Ruiz (não deixa de ser curioso que seja Bas Dost a andar a oferecer golos aos 99). Depois, aquela rápida troca de pés que isola Bruno César para uma patética tentativa de chapéu (ou fuzilas ou metes no Gelson, ao segundo poste, pá!). Foi vê-lo, inclusivamente, a distribuir jogo (e bem), já na segunda parte e numa altura em que o Guimarães tinha chegado ao empate e o Sporting era uma equipa sem cérebro.

Antes, novamente ele, tinha arrastado dois defesa para permitir que Campbell surgisse isolado à entrada da área e desperdiçasse a melhor e única oportunidade de golo em toda a segunda parte. E também ele sentiu como ninguém o golo do empate, nascido de um ressalto, que valeu a Marega festejar algo que não festejava há quatro meses. Dobrado sobre si mesmo, mãos nos joelhos, Dost era a pura imagem de desalento, a pura imagem de quem sente que se desperdiça talento.

Jesus diz que tirou Bruno, Alan, depois Bryan, e que a equipa perdeu capacidade de construir. É verdade. Tal como é verdade que William se desnorteou tacticamente quando ficou com a missão de pressionar alto e que o Sporting acabou o jogo num 4-2-4 sem a mínima ligação e com os centrais sem saberem muito bem a quem entregar a bola. Enquanto isso, Podence nem saiu do banco, Matheus marca golos pela B e Francisco Geraldes, sentado na bancada, via, tal como eu, aquele vazio de quem pegasse na bola e pensasse o jogo. E aposto que na sua cabeça, como em tantas outras, devia ecoar a pergunta se, com tudo perdido e com um mero terceiro lugar para manter, não faria sentido ir preparando a próxima época com aqueles que, supostamente, serão a base da mesma.