jorgejorgeAtaquemos o problema de frente: o futuro do futebol do Sporting será melhor ou pior com JJ?

Para responder a esta pergunta teremos que colocar vários ingredientes no tacho e cozinhar tudo em lume muito brando, não vá a receita para um bom raciocínio se perder, agarrando ao fundo conclusões precipitadas. A questão central para mim e imagino para muitas pessoas será, se consegue ou não Jorge Jesus tirar todo o partido dos pontos fortes do Sporting Clube de Portugal. O mesmo é dizer que o que nos diferencia dos nossos rivais é a nossa enorme capacidade para gerar talentos, a paciência que temos com a sua maturação (que lhes permite evoluir) e o nosso orgulho em chamar “nossos” a jovens a quem muitas vezes falta capacidade para enfrentar todas as pressões de um clube que não vence um campeonato há tantos anos.

Poderia facilmente fazer com JJ o retrato de um técnico ultra-exigente, sem paciência para complementar falhas de formação, que privilegia os altos, os rápidos e os “tanques”, um treinador que “pica os miolos” dos jogadores de forma obsessiva, que ensaia até à exaustão as movimentações defensivas e ofensivas até não restar uma gota de espontaneidade nas suas equipas. Ao fazê-lo estaria a riscá-lo como a melhor solução, pois “este” treinador estaria nos antípodas do modelo de treinador que maior partido poderia tirar do melhor que o clube dá. E porque não temos os cofres recheados isso invalidaria a ideia de que o melhor futuro do nosso clube estaria com JJ.

Felizmente, penso eu, o “mestre da táctica” não é apenas a visão estérotipada composta no parágrafo anterior. Tem muito mais para dar, para se adaptar e penso que, ao seu jeito, mais prático do que verbal…tem aberto horizontes para compreender que não pode desperdiçar Franciscos Geraldes, Matheus Pereira ou Carlos Mané. Muitos desesperam, temendo que JJ reedite Bernardos Silvas em alguns dos mais promissores talentos que temos, receando que os ignore até que os seus empresários ou BdC os resolva colocar a “render” for a de Alvalade. É precipitado e uma concessão total ao “carvão” encarnado. Nem acho que JJ seja cego aos talentos dos nossos miúdos, nem acho que o nosso Presidente fosse capaz de vender os nossos melhores “prospects” como alternativa. Acredito sim que este treinador tem uma visão do “ponto ideal” para apostar num jogador muito mais exigente que a maioria de nós. É preciso que se note que apostou sem receios em João Mário e Gelson, manteve Ruben Semedo quando muitos nunca o esperariam e até Esgaio tem merecido muito mais oportunidades do que o suposto. Há esperança e ao contrário do que os 68 comentadores televisivos e cronistas de jornal desejam, devemos dar o benefício da dúvida a quem o merece.

O meu receio na manutenção de JJ na próxima época nada tem a ver com o aproveitamento dos jovens formados na nossa “cantera”. As minhas maiores dúvidas estão noutro lugar e prendem-se com a abordagem ao mercado, que penso ser a grande lacuna na capacidade de manager deste treinador. Jorge Jesus não é o melhor adepto de contratações de potencial a médio ou longo prazo, prefere experiência, maturidade e mais valias imediatas…só que com a incapacidade de investimento dos clubes portugueses essa matéria-prima vem muitas vezes de jogadores em reabilitação competitiva, em fase descendente das suas carreiras. Às vezes corre bem, muitas vezes corre mal. Além do mais, não tem especial apetência para ver nas equipas nacionais as soluções que lhe faltam, preferindo jogadores sul-americanos, nomeadamente os argentinos. Na sua visão, são atletas melhor preparados do ponto de vista táctico, que pela natureza dos Torneios de Apertura e Clausura geram também aptidão na vertente defensiva, capacidade de choque, criatividade e muitos recursos técnicos. Imagino que com outro tipo de orçamentos se artilhasse de verdadeiras armadas de jogadores italianos e alemães, mas no Sporting isso não é de todo possível.

Mas a verdade é que, não há outra forma, JJ terá de se adaptar a orçamentos de apostas mais certeiras e em jogadores menos “experimentados” criando ao seu redor mais e melhor scouting para descobrir entre os “quase prontos” os mais “prontos”, suportáveis pela nossa dimensão e com o perfil mais adaptado ao que é a nossa Liga e a nossa necessidade “europeia”. E digo que se deve apoiar no scouting já que também neste perfil de contratações falhou redondamente (Petrovic, Paulista, Castaignos, Meli). Num cenário ideal, entenderia a equação de forma bem simples: devo trabalhar os jovens da casa e eleger algumas aquisições estratégicas de valor acrescentado, onde aí sim vou gastar dinheiro a sério, mas observando, escutando e decidindo conforme as recomendações do departamento de prospecção. E se não existir o tal departamento, que se crie um, pois orçamentos de várias dezenas de milhões de euros não podem estar ao sabor de “dicas” e “contactos”, mas sim de análise profusa e constante do mercado.

Em resumo, Jorge Jesus terá de se adaptar ao Sporting e não o contrário, sendo que se for capaz de o fazer potenciará não só o clube, mas também o espectro da sua acção, tornando-se mais consensual, abrangente e conquistando a medalha que muitos lhe retiram, afirmando-se como capaz de potenciar jovens, portugueses e oriundos da formação do clube e para mim bastante mais útil que apostas no “escuro” entre promessas precipitadas lusas ou velhas glórias estrangeiras. Um clube de futebol de topo no ano de 2017 não rege a composição do seu plantel através de “paixões” antigas ou recentes de um treinador e muito menos através do feeling do Presidente. E parem por favor com a história do Aurélio Pereira, uma coisa é detecção de talento nos escalões de formação, outra bem diferente é a análise de valor em jogadores já profissionais.

*às quartas, o Leão de Plástico passa-se da marmita e vira do avesso a cozinha da Tasca